Pescadores do Subúrbio protestam contra derramamento de esgoto na Praia de Tubarão 

Trabalhadores acusam a Embasa de prejudicar à natureza e os pescadores 

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 6 de março de 2020 às 11:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/CORREIO
. por Foto: Arisson Marinho/CORREIO

Um grupo de 50 pescadores realizou um protesto na Praia de Tubarão, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, na manhã desta sexta-feira (6). Os manifestantes acusam a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa) de prejudicá-los devido ao derramamento de esgoto na praia. 

De acordo com o presidente do sindicato dos pescadores do Subúrbio, Jorge da Pesca, o derramamento de esgoto na Praia de Tubarão já ocorre há seis meses, causando estragos à natureza e prejuízo para os cerca de 3 mil pescadores e marisqueiros que dependem do mar para sobreviverem na região. 

[[galeria]]

"Antes não existia isso. O que viamos aqui era água fluvial. Esse esgoto começou ser jogado na praia sem tratamaneto algum. Foi feito um posto de tratamento pela empresa, mas não estão tratando e estão jogando diretamente na praia, prejudicando quase 3 mil pescadores. Essa situação já está acontecendo há seis meses. Realizamos alguns protestos, entramos em contato com eles, mas não tivemos retorno, ninguém veio aqui", acusou Jorge, que revelou que alguns pescadores deixaram as atividades de pesca para trabalhar com reciclagem para obter sustento. 

"Estamos esperando uma resposta, pois esses pais e mães de família estão passando dificuldades, o prejuizo é enorme. Hoje estamos vivendo uma situação complicada. Aqui era um local rico, hoje não conseguimos catar nada. Muitos deles estao aderindo à reciclagem como sustento", completou.

Dificuldade  Com um placa onde relatou estar passando fome, o pescador há 20 anos, Sérgio Perereira dos Santos, de 59 anos, contou que não consegue vender os peixes e mariscos que costumava comercializar. Segundo ele, os clientes reclamam do cheiro e gosto de esgoto na mercadoria, se recusando, às vezes, em pagar o valor cobrado. Foto: Eduardo Dias/CORREIO  "Há muito tempo estamos reclamando disso. A gravidade disso é absurda, prejudica muito a natureza e nós que sobrevivemos da pesca. As pessoas começam a reclamar dos pescados, que estão com cheiro e gosto de esgoto. As vendas caíram muito. Vendiamos o quilo do marisco a R$ 10, hoje dá trabalho de vender por R$ 5 ou R$ 7. As pessoas ainda compram, mas reclamam muito", disse Sérgio, que depois de muito tempo, precisou também trabalhar com reciclagem para compelmentar a renda de casa.

Para a marisqueira Maria de Fátima, que trabalha há 10 anos na profissão, à situação em casa não é das melhores. Ela, que sustentava os três filhos com o apoio do comércio de mariscos, agora sobrevive com R$ 212, oriundos do Bolsa Família. 

"Antigamente quando não tinha acontecido essa tragédia, a gente pescava bem. Não ganhavamos muito, mas era o suficiente para manter a casa. Agora está impossivel de pescar. Tenho três filhos e a nossa situação é complicada, dependemos da pesca. Moramos de aluguel, pago R$ 300, e estou sobrevivendo apenas dos R$ 212 do Bolsa Família, só Deus na causa mesmo. Mas nós vamos correr atrás disso e resolver esse problema, estamos exigindo o nosso direito de ter condições de trbaalhar", afirmou.

A também marisqueira Lindinalva Ferreira dos Santos, 54, reclama que a vida dos trabalhadores está precária com a situação das águas da Praia de Tubarão.  Foto: Eduardo Dias/CORREIO "A praia está poluída e nós, que acordamos cedo para mariscar, não estamos conseguindo nada devido a essa poluição. Para vender nossos pescados está dificil, por conta do mau cheiro. Os clientes vivem reclamando e as vendas caíram muito. Costumavamos pegar 1,5 kg por dia, e durante a semana dava para fazer um dinheiro bom. Hoje tem muitos aqui passando necessidades, ninguém compra nada. Estamos sendo prejudicados e queremos uma solução. Somos pais de familias e não merecemos estar sujeitos a essas condcondições que encontramos na praia", pontuou.

A Embasa informou, em nota, que a rede coletora de esgoto operada pela empresa na região de Tubarão está operando normalmente. O que os moradores chamam de “esgoto a céu aberto” é, na verdade, um córrego poluído, que recebe lixo e esgoto clandestino ao longo de seu percurso por parte de alguns imóveis situados às suas margens e não da rede operada pela Embasa. O descarte de esgoto irregular nos rios está relacionado à falta de planejamento urbano adequado e de fiscalização do uso e da ocupação do solo.

"Em Salvador, a Embasa coleta o esgoto dos imóveis ligados em sua rede e dá destinação final, pelos emissários submarinos, ao efluente condicionado, que é lançado a distância segura da costa, em profundidade oceânica, sem riscos de poluição das praias do município", disse a empresa.

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier