Pesquisador relembra feitos de Mãe Tatá

A ialorixá, que morreu neste sábado (7), comandava o terreiro mais antigo do Brasil, da nação Ketu

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  • Carmen Vasconcelos

Publicado em 7 de dezembro de 2019 às 18:13

- Atualizado há um ano

. Crédito: Dadá Jaques/ Divulgação ​​​​​​​​​​​​

O velório de Altamira Cecília dos Santos, a oitava senhora da Casa Branca, conhecida como Mãe Tatá, está sendo realizado na sede do Terreiro, na Escola Vovó Conceição, na Praça de Oxum, na Avenida Vasco da Gama. As despedidas finais estão abertas à comunidade em geral e o  sepultamento da sacerdotisa está marcado para o domingo, às 16 horas, no cemitério Jardim da Saudade.

Mãe Tatá sofria há cinco anos dos efeitos do Alzheimer e faleceu neste sábado (07), em sua residência, no Engenho Velho de Brotas, aos 96 anos, de causas naturais.

Comandando o Ilê Axé Iyá Nassô Oká (Casa Branca do Engenho Velho) desde 1985, Mãe Tatá era filha da também ialorixá Maria Deolinda dos Santos (Iwindejá), mas sua ascensão ao cargo no terreiro de Ketu mais antigo do Brasil foi uma surpresa para ela, cuja gestão foi caracterizada pela sabedoria e benevolência.

De acordo com o ogã da casa e professor da Universidade Federal da Bahia, Ordep Serra, Mãe Tatá era muito sábia e proferia frases como: “Deus não tem religião, pois não precisa. As religiões foram feitas para nos levar a Ele”, dizia. “Ela também costumava dizer que todo orixá é, no fundo, um só”, relembra Serra, salientando a falta dessa Senhora frente à Casa Branca.

Sucessão O professor e pesquisador salienta que, em outras situações, a condução da casa seria realizada pela Mãe Pequena, a Iaquequerê, que assumiria a função de Ialaxé até que o período de luto passasse, os ritos fúnebres fossem realizados e o jogo de Ifá (búzios) mostrasse o nome da nova Senhora do Ilê Axé. “Como a Iaquequerê faleceu antes de Mãe Tatá, a condução da Casa coube às três mais antigas sacerdotisas”, esclarece o ogã.

Ordep Serra salienta que, a partir de agora, os ritos serão realizados para reverter a iniciação no santo, liberando o espírito da ialorixá do seu vínculo terreno para que possa alcançar o Orun e se tornar mais uma Ancestral Venerável do Ilê Axé. “Os inúmeros rituais são complexos e serão feitos depois de um ano; repetidos, depois de três anos; e refeitos após sete anos”, esclarece, acrescentando que o luto da Casa durará o tempo que for necessário para que a nova Ialorixá possa ser escolhida e conduzida ao cargo maior. 

“No período que durar esse recolhimento, as festas estarão suspensas e apenas os rituais imprescindíveis serão realizados”, diz Serra, destacando que, antes de ser conduzida, a própria Altamira também viveu uma situação de longo luto, com a morte da sua antecessora, Oya Tunkesi (Julina Baraúna). 

Realizações Foi durante a gestão de Oxum Tominwá que a Casa Branca se tornou o primeiro monumento da cultura negra considerado Patrimônio Histórico do Brasil e tombado pelo IPHAN,  em 1986.  Foi Mãe Tatá também a condutora da grande reforma da Casa fundada na década de 1830.

Ordep Serra faz questão de afirmar que o projeto da Praça de Oxum foi do próprio Oscar Niemeyer e que a Casa Branca é a grande matriz para os terreiros da Bahia e do Brasil, da nação Ketu. “A partir dessa Casa, outros tantos terreiros vão surgir, inclusive o Gantois e o Ilê Axé Opô Afonjá, não apenas no Brasil, como fora também”, finaliza.