Pessoas com deficiência ou pessoas com eficiência?

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  • Da Redação

Publicado em 21 de setembro de 2020 às 11:09

- Atualizado há um ano

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O CORREIO contou a história de Glady Maria da Silva em março de 2018. Além de más formações congênitas, ela nasceu com parte do corpo imobilizado. Já na hora do nascimento havia sofrido as duas primeiras fraturas entre as mais de uma centena que teria na vida. Glady nasceu com osteogênese imperfeita, popularmente conhecida por doença dos ossos de vidro. Sua principal característica é a fragilidade dos ossos, que se quebram com enorme facilidade.

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No dia 21 de setembro é comemorado o dia nacional de luta da pessoa com deficiência. Façamos um breve histórico de como tudo surgiu.

A data foi oficializada em 2005, pela Lei No 11.133, entretanto já era comemorado desde o ano de 1982. O dia 21 de setembro foi escolhido por estar próximo do início da primavera, estação escolhida pelo aparecimento das flores.  Com 51 anos e 92 cm de altura, Glady Silva já teve mais de 100 fraturas pelo corpo e quer lançar autobiografia (Foto: Marina Silva/CORREIO) Segundo a Lei 13.146/15, a pessoa com deficiência é aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições. Assim sendo, esse dia surgiu como forma de um grito para com os nossos direitos.

É desumano existir o distanciamento de uma pessoa ou grupo que esteja em situação desfavorável ou vulnerável em relação aos demais indivíduos ou grupos da sociedade. Muitas vezes essa exclusão está relacionada a uma condição do capitalismo contemporâneo. Ou seja, falha no sistema econômico e politico, e nós, pessoas com deficiência, estamos inclusas nessa imensa falha, por sofremos preconceitos pela diferença, estamos fora dos padrões em que a sociedade entende como padrões de “normalidade”. Muitas vezes estamos segregadas e, por conta dessa segregação, não exercemos o direito que consta na Constituição Federal de 1988 que é o direito de ir e vir. Sabemos que muitos avanços conquistamos, porém é preciso avançar mais.  

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E quando se fala em mercado de trabalho, eis outro entrave! Imagine nós, pessoas com deficiência, que temos dificuldades no deslocamento, desempenhar determinadas funções/tarefas e vencer as dificuldades para fazer um caminho (estudar, ser graduado, ter especializações), e na hora de conquistar uma vaga no mercado de trabalho, os locais oferecidos não são adaptados e com funções aquém da condição do candidato, gerando uma frustação interna. Formatura foi momento mais emocionante da vida de Glady Foto: Acervo Pessoal De acordo a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a taxa de desemprego é duas vezes mais alta das pessoas com deficiencia. Além disso, o percentual que trabalha recebe remuneração inferior a todo o caminho percorrido para conquistar um emprego comparado às pessoas que não tem deficiência.

De acordo a Lei 8.213 de 1991, empresas com um ou mais colaboradores são obrigadas a preencher de 2% a 5% de suas vagas com pessoas com deficiências. Porem sabemos que esta lei não é cumprida, o preconceito ainda impera. Quantas e quantas pessoas com deficiência carregam consigo essa exclusão. Aniversário: Glady enfrentou bullying e fraturas, mas sempre desfrutou da vida  Foto: Acervo Pessoal Aqui trago um trecho verídico para vocês:

“Só tive acesso a escola com 9 anos de idade. Sempre tive que vencer olhares, risos, cutucos, cochichos. Quando concluir meu ensino médio, como toda cidadã, meu intuito foi ir ao mercado de trabalho, porém esse meu desejo se tornou uma frustação.

Em um determinado dia fui selecionada por uma agência de emprego para preencher uma determinada vaga em uma empresa, ao chegar na empresa munida com a carta da agência de emprego, fiz a entrevista e, meio desconcertada, a psicóloga do RH me disse: 'Glady, o seu CV preenche os requisitos pedido, porém, por conta de sua deficiência, essa vaga não poderá ser sua. Quando surgir outra oportunidade, ligamos para você'.

Senti o mundo desabar, retornei para casa pensando: como o mundo real é duro, desumano, frio etc. Desisti deste meu sonho, resolvi provar para a sociedade que não sou só uma pessoa com deficiência, e sim uma pessoa com eficiência.

Hoje sou psicóloga, com especialidade em cognitivo comportamental e Gestalt, exerço minha profissão como autônoma. Como terapeuta, tenho como foco o relacionamento, trabalho com jovens e adultos  e, em breve, estarei lançando minha autobiografia, que terá como titulo 'Corações de vidro'.

Vivo um movimento interno de empoderamento constante, a cada dia um novo desafio, por ter uma resiliência forte consigo resignificar as diversidades da vida pautada no meu autoconhecimento, mas sei que muitas pessoas com deficiência não se encontram no mesmo lugar em que estou, por isso deixo a seguinte mensagem: 'Na vida, nada somos sem nos conhecermos, por isso se conheçam para serem o que deseja'”.   

Glady Maria da Silva é psicóloga