Petroleiros baianos temem demissões e desabastecimento após venda da RLAM

Protesto dia 30, em São Francisco do Conde, também citará aumento de preços

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  • Da Redação

Publicado em 27 de abril de 2019 às 17:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto Marina Silva/Arquivo CORREIO

Em resposta ao anúncio de desinvestimento da Petrobras na Refinaria Landulpho Alves (RLAM), os petroleiros irão realizar um protesto na próxima terça-feira (30) em frente à sede, localizada no município de São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano. A categoria teme os impactos negativos da privatização da refinaria, como demissões em massa, aumento de preços dos comunistíveis e desabastecimento.

A companhia é a primeira do Sistema Petrobras no Brasil e a segunda do país em capacidade de processamento, responsável por 99,32% do refino de petróleo na Bahia e por 20% da arrecadação de Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) do estado.

O anúncio da venda integral de oito refinarias foi realizada nesta sexta-feira (26) pela Petrobras. Ainda não há data para venda das unidades. O especial "O Petróleo era Nosso'", do jornalista Donaldson Gomes, já previu no início deste mês a venda da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), em São Francisco do Conde, e também o arrendamento da Fábrica de Fertilizantes Nitrogenados (Fafen), em Camaçari. 

Confira o especial 'O Petróleo era Nosso'

Além da RLAM, sofrerão desinvestimento pela Petrobras as seguintes refinarias: Abreu e Lima (RNEST), Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), Gabriel Passos (REGAP), Presidente Getúlio Vargas (REPAR), Alberto Pasqualini (REFAP), Isaac Sabbá (REMAN) e Lubrificantes e Derivados de Petróleo do Nordeste (LUBNOR).

A RLAM produz diesel, gasolina, querosene de aviação, asfalto, nafta, gases petroquímicos, parafinas, lubrificantes, GLP e óleos combustíveis.

O Sindicato dos Petroleiros da Bahia (Sindipetro) acredita que a venda da refinaria no Recôncavo trará impactos negativos à geração de empregos no estado já que, caso uma empresa privada possa comprar a refinaria, pode reduzir o quadro de funcionários. Atualmente, 870 trabalhadores concursados trabalham na refinaria e outros 1.200 terceirizados atuam no local.“O número é ainda maior quando você vai ver a cadeia produtiva do entorno, o serviço, a manutenção, o transporte, a alimentação, dentre outras. Dos concursados, poucas serão transferidos para outros estados e boa parte dos terceirizados serão demitidos. Uma outra parte será empregada na nova empresa por um tempo e ficará até transferir conhecimento e depois serão substituídas por profissionais com preços mais baixos”, analisou o diretor do Sindipetro Deyvid Bacelar, que destacou que esse processo ocorre em terceirizações de estatais no país.A Petrobras, no entanto, argumenta que os projetos possibilitarão "dar maior competitividade e transparência ao segmento de refino no Brasil".

"As diretrizes estão de acordo com os pilares estratégicos da companhia que têm como objetivo a maximização de valor para o acionista, através do foco em ativos em que a Petrobras é a dona natural visando à melhoria da alocação do capital, aumento do retorno do capital empregado e redução de seu custo de capital", afirmou a Petrobras, em nota.

Os petroleiros ainda temem que o preço dos combustíveis e do gás de cozinha aumentem, além da diminuição na arrecadação de impostos.

"No caso da Bahia, além do próprio estado, municípios como São Francisco do Conde, Madre de Deus, Candeias e São Sebastião do Passé serão os mais prejudicados, não só pela diminuição dos impostos, mas também pela redução dos postos de trabalho, pois são nesses municípios  onde se concentram o maior número de trabalhadores terceirizados que prestam serviço à Petrobras", argumenta o sindicato.

O diretor do Sindipetro, Deyvid Bacelar, destaca que a empresa que se instalar no local não terá a mesma função social que a Petrobras tem como empresa estatal.“Eles vão perseguir ainda mais a política de preços de paridade internacional e se o preço variar para cima, não terá como amortecer isso para que a população não sinta. Com isso, os preços ficarão ainda mais altos e as empresas não vão querer perder dinheiro. Fora que cidades com acesso mais difícil poderão ficar até desabastecidas, já que a Petrobras possuía um braço apenas para levar combustíveis para esses lugares por conta do papel social”, afirmou.O funcionário da RLAM Atilla Barbosa já passou por outro processo de privatização durante sua vida. Ele era funcionário da Copene, que foi incorporada à Braskem. Em 2005 resolveu fazer o concurso da Petrobras para a RLAM e saiu da Braskem em 2006.

"Ser funcionário de uma estatal e de uma empresa privada é diferente. As relações de trabalho são diferentes, os objetivos comerciais são diferentes e a responsabilidade social também. O clima está muito ostensivo na refinaria porque a empresa disse que pode transferir a gente para outras regiões mas também que a refinaria será transferida operando. Isso quer dizer que algumas pessoas terão que ser mantidas no sistema para manter a planta operacional", disse.

De acordo com ele, o medo de demissão dos colegas é real e muito presente.

Em São Francisco do Conde, a atividade de refino de petróleo na unidade da Petrobras responde por 92% do Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). 

O CORREIO tentou falar com a prefeitura da cidade, mas não obteve respostas até o fechamento da reportagem.