Pia Sundhage não é a única solução para a seleção feminina

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  • Miro Palma

Publicado em 2 de agosto de 2019 às 05:00

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Que é grande o currículo da mais nova técnica da Seleção Brasileira Feminina de Futebol, Pia Sundhage, isso não temos dúvida. Maior que ele, só as expectativas que se debruçam sobre seus ombros. A técnica sueca chegou após o Brasil ser, mais uma vez, eliminado da Copa do Mundo. Caímos de pé, afinal, as jogadoras tornaram árdua a tarefa das francesas de seguir às quartas de final. Ainda assim, a frustração não deixou de nos alcançar. Por isso, a próxima competição à vista, a Olimpíada do Japão, no ano que vem, traz uma carga maior de pressão para a treinadora recém-chegada. 

Pia tem uma dura missão. Substituir Vadão, seja, talvez, a parte mais fácil. O ex-técnico da equipe – que, inusitadamente, estava presente na coletiva de apresentação da sua substituta – nunca foi uma unanimidade. Aliás, por vezes ele até alcançou a unanimidade, mas contrária a sua permanência no cargo. Vadão chegou com a seleção ao Mundial carregando nove derrotas consecutivas nas costas como resultado de uma desorganização tática evidente. A Pia, cabe encontrar a solução para essa deficiência que vai além dos esquemas táticos.

Apesar de ter peças importantes, a seleção ainda tem um time mediano. E é aí que mora a tarefa espinhosa. Porque para dispor de melhores atletas, a sueca precisa que toda a engrenagem do futebol feminino no país esteja funcionando bem. O que, infelizmente, não é a realidade. Em seu discurso de apresentação, Pia falou de mudanças, porém com cautela. Para a sueca, não pode haver uma “mudança muito radical”, nem uma “mudança muito pequena”. Mal sabe ela que é justamente uma mudança drástica que esperamos que a sua chegada cause em toda a CBF. Não só por contratar uma treinadora mulher – o que já tinha sido feito com Emily Lima –, mas por lhe garantir tempo de trabalho – sorte que Emily não teve – e por demonstrar, pela primeira vez na história da modalidade, um real interesse em investir na seleção feminina.

E a chave para essa transformação está, justamente, na base. É aqui que o pensamento da nova técnica e a nossa expectativa se convergem. Pia disse que para que a seleção jogue um futebol excelente a longo prazo, é preciso um “sub-16 e sub-17 muito bom também”. Ela tem toda razão. A nossa base feminina precisa de uma renovação com um investimento sério da CBF. E mais do que isso, a confederação precisa formular um calendário mais robusto. As atletas precisam jogar o tempo todo e não por três ou seis meses por ano. 

Um dos legados da última Copa do Mundo foi a materialização de uma audiência que, até então, era ignorada pelos cartolas. “Ninguém assiste futebol feminino”, praguejavam por aí. Pois assistiram e muito. Foram recordes de audiência quebrados em todo o mundo. Aqui no Brasil, graças à transmissão em TV aberta e à maior atenção da mídia à modalidade, mais 100 milhões acompanharam os jogos, segundo dados da Kantar Ibope Media. Tá bom pra você?

Já demos alguns passos. Impulsionadas pela popularização do feminismo e pela luta das atletas, Conmebol e CBF passaram a exigir dos clubes, este ano, suas representantes femininas nas categorias adulta e de base para que as equipes masculinas possam disputar suas principais competições. A CBF também triplicou a premiação das jogadoras que participaram da Copa do Mundo. A própria chegada de Pia Sundhage é um sinal desse avanço. Mas o abismo que separa o futebol feminino brasileiro das condições ideais é tão grande que eu só posso desejar a Pia muita energia, porque isso, com toda certeza, ela irá precisar.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras