PIB apresenta os primeiros sintomas de impacto com covid-19

Desemprego e queda na renda derrubam o consumo e fazem o Brasil retornar ao patamar de 2012

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  • Da Redação

Publicado em 30 de maio de 2020 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mateus Bonomi/Estadão Conteúdo/Arquivo
. por CORREIO Gráficos

A queda de 1,5% no Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano não deixa margem para dúvidas, a economia brasileira sente os efeitos covid-19. Com exceção do agronegócio, todos os grandes setores econômicos tiveram retração nos 3 primeiros meses do ano, segundo mostrou nesta sexta-feira (29) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Com as medidas de isolamento social, redução de salários, suspensão de contratos de trabalho e a alta nos índices de desemprego, o consumo das famílias brasileiras apresentou uma queda de 2% e foi o grande responsável por puxar para baixo a atividade econômica. O movimento de retração no consumo impactou atividades como o comércio e serviços, que registrou uma perda de 1,6% – a primeira desde 2016. 

O sinais da economia apontam que mesmo com uma retomada das atividades ainda este ano, os impactos na área econômica vão se estender para além de 2020. O Banco Central apresentou uma estimativa de queda de pelo menos 5% para este ano, mas no mercado financeiro já existem analistas esperando por um baque de até 10% – algo sem precedentes na história econômica do Brasil. 

Para o Ministério da Economia, se mantido o distanciamento social até o fim de maio, o tombo do PIB será de 4,7% em 2020. Se as políticas de distanciamento social continuarem por mais tempo, estimou o governo, haverá um impacto adicional de R$ 20 bilhões por semana.

O ministro da Economia, Paulo Guedes, fez um apelo por compreensão e solidariedade para que a retomada da economia, quando a pandemia passar. "Quando chegar na margem, começa a briga de novo. Pode brigar à vontade na margem. Se brigar a bordo do barco, o barco naufraga", disse Guedes, pedindo que brasileiros deixem diferenças de lado até a pandemia da covid-19 passar. O resultado do primeiro trimestre colocou o Brasil à beira de uma nova recessão, uma vez que a expectativa é de um tombo ainda maior no 2º trimestre. “A queda do PIB do primeiro trimestre deste ano interrompe a sequência de quatro trimestres de crescimentos seguidos e marca o menor resultado para o período desde o segundo trimestre de 2015 (-2,1%). Com isso, o PIB está em patamar semelhante ao que se encontrava no segundo trimestre de 2012”, informou o IBGE, em um comunicado.

A piora no cenário para as famílias marca uma importante inversão na dinâmica de crescimento do país. Nos últimos anos, mesmo com o tímido do avanço do Produto Interno Bruto (PIB), o consumo das famílias foi o que mais contribuiu para puxar a atividade econômica. Em 2020, o que se espera, no entanto, é que o consumo empurre a economia mais para baixo.

“Há uma situação no mercado de trabalho muito crítica”, diz a pesquisadora da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia, da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), Luana Miranda.

As famílias devem deixar de gastar R$ 225,1 bilhões neste ano na comparação com 2019, segundo cálculos realizados pela consultoria Tendências. E a perda de fôlego deve ser ainda mais intensa porque os números devem ser revisados, dado que o ritmo da atividade caminha para ser ainda mais fraco do que o esperado.

“A expectativa é de uma elevação acentuada do desemprego, de um quadro bastante severo. A grande questão que fica é como será a recuperação em 2021”, afirma o economista do banco Santander Lucas Nóbrega. No pior momento da crise, a taxa de desocupação no país deve chegar a 20%.

O aumento do desemprego terá um impacto expressivo na renda da população brasileira. Nem mesmo as medidas de compensação do governo federal, como o auxílio emergencial aos informais, vão conseguir compensar integralmente o impacto na renda.

A massa salarial ampliada deve cair 10,4% neste ano, em termos reais (descontada a inflação), nas projeções do Ibre. Se as políticas de socorro não tivessem saído do papel, essa queda chegaria a 15,2%.

No setor de serviços, que possui peso de cerca de 70% no PIB do Brasil e que mostrou queda de 1,6% no primeiro trimestre, o um dos segmentos mais afetados foi o que abrange os serviços prestados às famílias, que inclui alimentação fora de casa, hospedagem, salões de beleza, academias e reparos. Somente em março, a queda no volume foi de 31,2%.