Pichações do Comando Vermelho em bairros são apagadas após reportagem do CORREIO

Polícias Civil e Militar disseram que não foram responsáveis pela retirada das inscrições

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  • Bruno Wendel

Publicado em 25 de setembro de 2020 às 17:37

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Nara Gentil/CORREIO

As pichações feitas em casas e estabelecimentos do complexo do Nordeste de Amaralina e do bairro do Santo Inácio que faziam referência à tomada de áreas pela facção carioca Comando Vermelho (CV), em aliança com o Comando da Paz (CP), apareceram apagadas nesta sexta-feira (21), após a publicação de reportagem do CORREIO. Em nota, as polícia Civil e Militar informaram que essa retirada não foi feita pelas instituições.

De acordo com fontes policiais e moradores das localidades ouvidos para a matéria, o CV teria chegado em Salvador há dois a três meses. Como as festas ainda estão proibidas devido às medidas restritivas da Prefeitura de Salvador e do Governo do Estado, os traficantes cariocas teriam começado a liberar dinheiro para a realização dos paredões. 

“É a forma que encontram para escoar a droga. Nunca tivemos tantos casos de paredões aqui e a grande maioria são nas áreas conhecidas de domínio do CP, como o complexo do Nordeste de Amaralina”, contou um policial militar que atua na Operação Sílere, trabalho conjunto das secretarias da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) e Municipal de Ordem Pública (Semop), para combater poluição sonora e também reduzir crimes contra a vida e patrimônio. 

Especialista em gestão de sistema prisional e professor do Insper, Sandro Cabral cita que há muito se comenta sobre essa história de aproximação do Comando Vermelho com a facção baiana. Cabral explica que a uma organização criminosa coopta outra numa lógica de associação, por necessidade de complementaridade. 

“Ou seja, você tem uma fábrica, um produto, e se alia com outra empresa, que faz a rede de distribuição. Quando se busca uma expansão de mercado, você busca por quem tem base, quem conhece o terreno, quem conhece as dinâmicas da cidade, as rivalidades estabelecidas. É um mercado que age à margem da lei. O PCC, por exemplo, quando ele busca se expandir na Europa, ele se une com a máfia italiana”, exemplifica.  No bairro Santo Inácio, passaram tinta verde por cima do pixo preto, mas ainda se lê "CV" (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Dessa maneira, à medida em que essas alianças são concretizadas, a criminalidade local se fortalece porque, conforme cita o professor, a organização pode passar a ter acesso a armamentos mais pesados, além de conhecimento adicional para corromper e lidar com a polícia.

“Então, os órgãos de segurança pública têm mesmo que cuidar disso com muito cuidado e, para isso, os departamentos policiais precisam agir de forma integrada, trocar informações e colaborar para tentar neutralizar esses movimentos do crime organizado”, adianta.

O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Anselmo Brandão, afirmou que a chegada do Comando Vermelho à capital baiana "não passa de boatos". Segundo ele, os grupos criminosos de Salvador estão usando o nome da facção do Rio de Janeiro para ter mais espaço na cidade.

Em outro local do Santo Inácio, também tentaram apagar com tinta verde, mas foi novamente pichado (Foto: Nara Gentil/CORREIO)