Plantar a lua? Entenda o ritual feminista com sangue menstrual

Mulheres baianas acreditam que a menstruação é um período sagrado e coletam o fluido para jogar nas plantas

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  • Rafaela Fleur

Publicado em 27 de maio de 2018 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nathalia Miranda/Divulgação

Cólicas, TPM e falta de energia podem ser sinônimos de período menstrual. Porém, para muitas mulheres, menstruação significa renovação - e cada gota de sangue é sagrada. Tão sagrada que desperdiçar não é opção: ao invés de de usar absorventes, elas coletam o fluido e guardam num pote. Depois, jogam na terra, em plantas. Pronto. Isso é plantar a lua. 

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No início deste ano, a atriz Bianca Bin, que interpretou Clara na novela O Outro Lado do Paraíso (TV Globo), postou no Instagram sobre o hábito. “É uma forma de fechar o ciclo. Mudou minha relação com meu corpo e com me entender mulher. O universo é uma grande potência feminina e é com essa força que busco me conectar sempre”, postou ela. A atriz Bianca Bin incentivou suas seguidoras a plantarem a lua (Foto: Reprodução/Facebook) Como surgiu À primeira vista, pode parecer maluquice. Porém, o primeiro passo é entender que o sangue menstrual não é sujo. Logo, não é nojento. Depois, basta um resgate histórico para entender que isso está longe de ser novidade.

“É uma prática ancestral, das antigas sociedades matriarcais, comandadas por mulheres. Não existia absorvente, não existia medicina. Elas sangravam na terra, era um período de autoconhecimento. Mais do que isso, existia a relação do ciclo menstrual com as fases da lua e com a agricultura”, explica a baiana Adriana Gabriela Teixeira, professora da Ufba e pesquisadora do Sagrado Feminino - filosofia que acredita na força visceral da mulher como parte da natureza e busca trazer consciência para os ciclos femininos, como menstruação e gestação.

O nome ‘lua’, inclusive, veio daí: é uma associação do ciclo menstrual com o ciclo lunar. Para elas, tudo está conectado. 

Elas plantam Desde 2013, a terapeuta integrativa Bruna Natanny, 27, planta a lua. Dona da Ártemis, centro terapêutico holístico itinerante, ela confessa que já foi recebida com estranheza quando comentou o assunto. Bruna Natanny é terapeuta e todo o mês costuma plantar sua lua (Foto: Reprodução/Instagram) “A sociedade acha um incômodo menstruar, é como uma desvantagem de ser mulher, acham nojento. Já me atacaram muito”, lamenta. Porém, os benefícios parecem ser recompensadores: intuição aguçada, autoestima, renovação espiritual e até sonhos mais lúcidos. Parece até coisa de bruxa. E é. 

Alekto Lukius Lvnae (lê-se Aléquito Luquius Lunae) faz parte da Bruxaria Tradicional Ibérica (BTI). Lá, na Veneração Helênica, uma das divisões do BTI, ela é sacerdotisa de segundo grau.

Aos 31 anos, revela que planta a lua desde 2014. “Meu humor muda, fica mais sereno, mais dono de si. É muito forte em nível psicológico e também espiritual”, explica. Alekto preferiu não revelar seu nome civil. “Ainda passamos por muitos tipos de preconceitos. Já tive problemas gravíssimos até no meu trabalho por conta da minha religião”, desabafa.

Como plantar O primeiro passo é se livrar de absorventes descartáveis. No lugar, use coletor ou absorvente de pano. No caso do coletor, basta misturar o sangue com água e reservar.

No caso do pano, deixe de molho apenas com água e recolha o líquido. Depois, é só despejar na terra, plantas ou árvores. “Faça isso refletindo sobre o que você deseja. Observe qual lua estava no céu quando sua menstruação desceu, isso pode dizer muita coisa”, explica Adriana. 

*Com orientação do editor Victor Villarpando

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