PMs acusados de matar criança de 11 anos passam por audiência

Oito testemunhas foram ouvidas sobre crime ocorrido em janeiro de 2018

Publicado em 26 de setembro de 2019 às 22:30

- Atualizado há um ano

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(Foto: Mauro Akin Nassor/Arquivo CORREIO e Acervo pessoal) Um ano e nove meses depois do assassinato de Geovanna Nogueira da Paixão, 11 anos, as testemunhas do caso foram ouvidas pela justiça. A menina foi baleada na cabeça durante uma incursão policial no bairro de Jardim Santo Inácio, em Salvador, em janeiro de 2018. Os policiais militares Nildson Jorge Sousa França e Emerson Camilo Sales Pereira são acusados pelo crime.

Segundo o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA), na audiência desta quinta-feira (26) foram ouvidas duas testemunhas de defesa e seis de acusação. O processo segue em fase de instrução.

Familiares e vizinhos da menina contaram, na época do crime, que Geovanna estava sentada no sofá de casa quando viu que a avó chegava para fazer uma visita. A menina correu ao encontro dele, mas foi baleada com um tiro na cabeça antes de alcançar a idosa. O corpo dela ficou caído na porta da residência. Geovanna foi baleada na porta de casa (Foto: reprodução) Os policiais alegam que a Geovanna foi baleada durante uma troca de tiros provocada por traficantes. Já os moradores afirmam que não houve troca de tiros no momento em que a menina foi baleada e contaram que foram os policiais que mataram a criança.

A defesa dos policiais, feita pelo advogado criminalista Daniel Keller, alegou nos autos que “não possui preliminares a arguir e que se reserva ao direito de enfrentar o mérito da presente ação penal em alegações finais”. O advogado também afirmou que vai requerer a absolvição dos policiais

Conforme laudo pericial realizado em procedimento administrativo, ficou comprovado que os projéteis encontrados no local, bem como o que atingiu Geovanna, foram disparados pela arma do soldado da PM Nildson. Os dois PMs eram lotados na 48ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/ Sussuarana).

Após finalização do inquérito policial, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) denunciou a dupla por homicídio, em 2 de setembro de 2018, e pediu o encaminhamento deles ao Tribunal do Júri. “Ao atirar naquelas circunstâncias, os acusados assumiram o risco de atingir alguém, o que efetivamente aconteceu”, escreveu a promotora Armênia Cristina Santos. Caso comoveu a comunidade (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) Relembre o caso No dia 24 de janeiro de 2018, por volta das 7h20, os dois policiais militares chegaram à localidade da Mata Escura, na Avenida Brasil, a bordo de um veículo modelo Ford Ka, sem identificação.

Quando os disparos começaram, Geovanna, que tinha 11 anos, tinha ido até a porta de casa para receber a avó, Valdete Maria Paixão, que tinha acabado de chegar. Ao ver a neta caída no chão, a mulher gritou: “olha o que vocês fizeram!”. A mãe da menina estava dentro de casa, amamentando o filho caçula.

À época, a avó mostrou revolta com a versão da polícia e desabafou: "Nunca vou esquecer da minha primeira neta, minha filha, caída em uma poça de sangue". Parentes afirmam que a polícia já chegou ao local atirando.

O inquérito policial concluiu que “há indícios da prática de crime militar, na modalidade culposa”, pelos dois policiais. Logo após a finalização do procedimento administrativo, que levou ao afastamento dos militares da guarnição, o MP-BA denunciou a dupla à Justiça, dando lugar à ação penal atualmente em curso.