PMs participam de reconstituição da morte do empresário Márcio Perez

Mais de 30 viaturas participaram; dois policiais estão presos pelo crime

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  • Da Redação

Publicado em 17 de maio de 2019 às 07:44

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Betto Jr/CORREIO

As últimas horas de vida do empresário espanhol Márcio Perez Santana, 41 anos, assassinado no dia 19 de setembro do ano passado, no bairro da Armação, foram reconstituídas pela polícia na noite de quinta-feira (16), oito meses após o crime. A reconstituição foi interrompida no começo da manhã desta sexta (17) e será retomada em outro dia.

Membros do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), coordenadoria de produtos controlados da Polícia Civil, Departamento de Perícia Técnica (DPT), Corregedoria da Polícia Militar, Ministério Público da Bahia (MP-BA), além dos advogados de defesa e acusação, participaram da reprodução simulada, que iniciou no Imbuí e chegou ao local do crime, na Armação. Empresário morreu após ser seguido por policiais e atingido por um tiro na nuca (Foto: Arquivo) Mais de 30 viaturas das policias militares e civil acompanharam a reconstituição. A Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) auxiliou no bloqueio das vias que foram percorridas e no trânsito das viaturas. No Imbuí, a chegada do comboio chamou a atenção da população, que buscava entender o que estava acontecendo. Os locais utilizados pelos policiais foram isolados e a imprensa teve que manter distância do cerco e das testemunhas. 

No dia do crime, Márcio dirigia seu carro e voltava para casa quando começou a ser seguido por policiais. Ele tentou escapar, mas vários tiros foram disparados e ele foi atingido na nuca. O espanhol não resistiu aos ferimentos e morreu. Renata não foi baleada.

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Maurício Correia dos Santos e Saulo Reis Queiroz, policiais militares acusados de homicídio qualificado contra o empresário, e Renata Alves Correia, que estava no banco do carona de Márcio no dia do crime, auxiliaram na reconstituição dos fatos que ocorreram no dia da morte do empresário.

O pedido da reprodução simulada foi feito pela defesa dos policiais e acatada pela Justiça. Os dois policiais militares estão presos e são réus de uma ação penal.

"A reprodução simulada faz parte de uma instrução processual. O inquérito policial já foi finalizado e a defesa dos réus solicitou essa providência à justiça, que a acatou. Então nós viemos fazer hoje a reconstituição", explicou o diretor da DHPP, José Alves Bezerra Júnior.

A reconstituição busca detalhar o que de fato ocorreu na noite do assassinato. A distância entre os locais percorridos, o tempo que foi levado, a luminosidade dos locais, por exemplo, foram verificados durante a perícia.

Para o advogado dos pais do empresário, Alcindo Júnior, e o promotor do caso, Luciano Assiz, "não há mais nada a ser esclarecido". Eles argumentam que o pedido deveria ter sido feito durante o fechamento do inquérito policial, antes que a questão chegasse à Justiça.

"O inquérito já foi fechado, então à essa altura do campeonato, os réus já estão para ser ouvidos. Os policiais têm direito de solicitar qualquer tipo de conduta, mas ao meu ver e ao do Ministério Público, não há mais nada a ser esclarecido", disse Alcindo.

Com relação ao crime, o advogado voltou a dizer que em nenhum momento o empresário percebeu que estava sendo perseguido - o que foi relatado durante o depoimento de Renata - e que os policiais não estavam com o giroflex ligado na hora da abordagem. "Entendo que o que vai se provar aqui é de uma situação de execução. A execução aconteceu, o crime aconteceu, agora a motivação é que ainda continua aberta", disse Alcindo.

O promotor de Justiça Luciano Assis, responsável pela denúncia dos policiais à Justiça explicou que o processo está em fase final. Segundo ele, todas as testemunhas já foram ouvidas e a juíza estava apenas aguardando o interrogatório dos acusados, que agora apenas poderá ocorrer após a produção de prova da reconstituição do dia.

“O Ministério Público acha que foi desnecessário (a reconstituição neste momento) até porque havia um momento processual oportuno em que isso poderia ter pedido, mas vamos cumprir essa etapa processual”, explicou o promotor, que ressaltou que a etapa busca aproximar os fatos da realidade através das versões contadas pela vítima sobrevivente e dos acusados.

“Nesse momento, o que a gente precisa é provar que o crime existiu e que existem indícios suficientes de que os policiais foram os atiradores e isso está comprovado nos autos. Queremos recolher os fato para mandá-los à júri popular. Até agora não existe a qualificadora da motivação. O que sabemos é que houve efetivamente um homicídio duplamente qualificado e uma tentativa de homicídio duplamente qualificado”, acrescentou Luciano Assis.

Autor do pedido de reconstituição do caso, o advogado dos policiais militares, Dinoermeson Tiago, explicou que a defesa percebeu controvérsias ao comparar o depoimento das testemunhas à peça de acusação. “A defesa precisa esclarecer alguns detalhes muito importantes para a defesa. Surgiu então a necessidade de fazer requerimento de reprodução simulada”, afirmou, sem detalhar os pontos requeridos. 

O advogado ainda afirmou que quer esclarecer nos autos que “não foram tantos disparos” contra o carro do empresário. De acordo com ele, em se tratando de abordagem policial não houve excesso de disparo de arma de fogo e que um carro idêntico ao de Márcio teria disparado contra a viatura anteriormente.

“Eles perderam o carro durante dois minutos mais ou menos e se depararam com o de Márcio. Eles fizeram todo o procedimento policial corretamente, como ligar o giroflex, e o carro acelerou. O que nós estamos querendo compreender é o motivo”, disse Dinoermeson.

O caso O crime aconteceu na noite de uma quarta-feira. Márcio Pérez estava estacionando o próprio carro na porta de casa, acompanhado de uma mulher, quando foi surpreendido por uma viatura da 58ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Cosme de Farias). Segundo testemunhas, era por volta de 23h e a viatura estava apagada.

Os vizinhos da vítima contaram que o empresário se assustou e saiu com o carro, mas foi perseguido e baleado na nuca pelos militares. Depois de ser atingido, o consultor perdeu o controle do veículo, subiu o canteiro e atingiu uma árvore. A mulher que estava com ele não ficou ferida.

Os policiais não explicaram o que estavam fazendo em Armação, 10 km distante da área em que eles atuam, Cosme de Farias. Também não ficou claro por que a viatura estava com as luzes apagadas e por que só havia dois PMs dentro do veículo, quando a ronda é sempre feita com três militares.

O advogado de defesa dos policiais, Dinoermeson Tiago, afirma que ambos estavam à serviço da coordenação da área do momento e que “não saíram em hipótese alguma da área de atuação” porque Imbuí fazia parte da ação que eles foram alocados na data.

Perez era formado em Economia e sócio de uma empresa que presta consultoria a uma operadora de telefonia. Os pais dele são espanhóis, mas viveram por alguns anos no Brasil, por isso, o empresário tinha naturalidade espanhola.

O pai e a mãe retornaram para a Espanha, mas Márcio resolveu permanecer no Brasil. A família era natural da cidade de Ponte Caldelas, onde o corpo do empresário foi enterrado. Márcio era filho único e deixa duas filhas.