Pobreza menstrual: garotas usam técnica da Idade Média e põem saúde em risco

Segundo Unicef, 713 mil meninas no Brasil não têm acesso a banheiros

  • Foto do(a) author(a) Andreia Santana
  • Andreia Santana

Publicado em 29 de maio de 2021 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

Pobreza menstrual é a falta de acesso a recursos, infraestrutura e conhecimentos por parte das pessoas que menstruam. A definição é do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e, ultimamente, o tema está no centro de debates, inclusive políticos, sobre a dignidade de quem menstrua. Na sexta-feira, 28, o Unicef, juntamente com o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) publicou o relatório Pobreza Menstrual no Brasil: Desigualdade e Violações de Direitos. 

O documento revela que ao menos 713 mil meninas no país não têm acesso a banheiros ou chuveiros em suas casas para se cuidarem quando estão menstruadas. Outras 4 milhões não têm, na escola, itens de cuidados básicos para esse período. 

O resultado é que muitas abandonam as aulas por não terem absorventes higiênicos, banheiros e água potável. Elas ainda precisam improvisar, em pleno século 21, formas típicas da Idade Média para conter o sangramento, como utilizar pedaços de roupas velhas. O que além de inadequado, é inseguro para a saúde. Não são poucos os relatos de meninas que adoecem e morrem de Síndrome do Choque Tóxico por não terem condições de realizar a simples troca de um absorvente ao longo do dia ou porque usaram materiais contaminados para impedir o constrangimento, já que a menstruação ainda é tabu, do sangue vazar na roupa.

As maiores vítimas da pobreza menstrual são as pessoas que já vivem outras situações de vulnerabilidade, como renda muito baixa ou ausência de renda e habitação precária, falta de acesso a serviços de saúde e nenhuma, ou quase nenhuma, orientação familiar. 

No Brasil, os estados com mais gente nessa situação são o Acre, Maranhão, Roraima, Piauí e Mato Grosso do Sul. Mas se engana quem pensa que só na zona rural se vive essa realidade. Nas periferias das grandes cidades também. Constrangimento por falta de absorventes afasta as meninas mais pobres da escola (Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil) O Unicef e a UNFPA explicam no relatório que pobreza menstrual vai além do acesso material aos absorventes higiênicos ou aos coletores reutilizáveis - considerados mais ecológicos, mas de pouca utilidade se a pessoa sequer tem água limpa para beber, que dirá para lavar o utensílio adequadamente - e envolve também a falta de saneamento básico, de água tratada, de infraestrutura para a higiene em casa ou na escola (banheiros, pias, duchas, etc.). Abrange ainda a falta de acesso a informações confiáveis sobre o que é o ciclo menstrual e que transformações o corpo vive nesse período.

No Congresso Nacional existem, atualmente, 10 projetos de lei sobre a pobreza menstrual. Boa parte deles versa sobre a distribuição gratuita de absorventes e melhora da estrutura das escolas públicas, para acolherem as meninas de forma mais digna. Os críticos do tema e dos projetos citam o impacto ambiental da quantidade de absorventes higiênicos descartados, mas a crítica não faz sentido, porque as meninas continuam menstruando, elas não vão menstruar mais ou menos por receberem absorventes, o fluxo delas desce todo mês, com ou sem absorventes disponíveis.

Além disso, alguns dos projetos sinalizam para adoção de absorventes biodegradáveis, para garantir a saúde das meninas e do meio ambiente. Como Astrid Bant, da UNFPA disse na sexta-feira em entrevista à Agência Brasil: "Esse tipo de atitude muitas vezes desconsidera as necessidades de menstruantes que vivem em situação de vulnerabilidade, em que não há acesso a água limpa para a higienização adequada dos produtos reutilizáveis”.

Mais adiante, ela ainda afirma que “quando não permitimos que uma menina possa passar por esse período de forma adequada, estamos violando sua dignidade. É urgente discutir meios de garantir a saúde menstrual, com a construção de políticas públicas eficazes, com a distribuição gratuita de absorventes, com uma educação abrangente para que as meninas também conheçam seu corpo e o que acontece com ele durante o ciclo menstrual. É o básico a ser feito para que ninguém fique para trás”,

O interesse de entidades como o Unicef e a existência de projetos de lei sobre o tema são prova de que a menstruação não é só assunto das pessoas que menstruam, como pensam os críticos desse debate, mas de saúde pública; e que incomodadas não ficavam só as avós, em referência a uma antiga propaganda de remédio contra cólicas, mas toda a sociedade deveria se incomodar bastante se milhares de pessoas deixam de frequentar a escola porque sangram uma vez por mês.

Outros destaques do noticiário da semana

Acervo digital para o 'Poetinha' Site traz 11 mil documentos sobre vida e obra de Vinicius (Foto: Acervo Digital Vinicius de Moraes/Divulgação) O acervo sobre a vida e a obra do poeta carioca Vinicius de Moraes, que integra o Arquivo-Museu da Literatura Brasileira, na Fundação Casa de Rui Barbosa (RJ), agora pode ser consultado e visitado pela internet, no site: acervo.viniciusdemoraes.com.br, disponível desde a quinta-feira, 27.

Em 1992, esse material ficou disponível para consultas presenciais, mas um projeto dos filhos do autor digitalizou os conteúdos. O objetivo, além da preservação dos documentos, é democratizar o acesso de mais pesquisadores e do público em geral. Ao todo, são 11 mil documentos originais, entre manuscritos e datilografados, e quase 35 mil imagens digitalizadas.

Imunidade de grupo em Malta Malta começará a vacinar pessoas a partir de 16 anos (Foto: Pixabay) O ministro da Saúde de Malta, Chris Fearne, anunciou, na quarta, 26, que o país alcançou a 'imunidade de grupo' contra a covid-19, por já ter vacinado 70% da população adulta. A partir de julho, o uso da máscara deixará de ser obrigatório se o número de contágios permanecer baixo. O país, que íntegra a União Europeia, agora já começou a vacinar as pessoas mais jovens, a partir dos 16 anos. Na última semana, Malta registrou média de 3 novos casos de covid-19 por dia.

Imagem da Semana: Esperança

Bebê baiano nasceu protegido contra a covid Imunidade do pequeno Mateus foi confirmada na quinta, 27, pelo Lacen-BA (Foto: Acervo Pessoal) Mateus, nascido dia 21, é o 1º baiano a chegar ao mundo imune à covid. A proteção foi confirmada na quinta-feira, 27, após exame no Lacen-BA. A mãe do bebê, a obstetra Patrícia Marques, completou o esquema vacinal com o imunizante Oxford/AstraZeneca 16 dias antes do parto. Outro bebê nascido também em maio, em Irecê, também nasceu blindado.

Ela disse... Angelina Jolie tem duas meninas adolescentes: Zahara e Vivienne, e outros quatro filhos (Foto: Reprodução/Instagram) “Agora que as minhas filhas cresceram e tenho esse novo relacionamento com elas, sei como é importante a relação que as mulheres têm umas com as outras”, Angelina JolieA atriz falou das filhas ao divulgar o filme Aqueles que Me Desejam a Morte, que estreou na quinta-feira, 27. Na produção, Jolie vive uma bombeira que lida com traumas do passado.