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Polarização?

  • Foto do(a) author(a) Horacio Hastenreiter Filho
  • Horacio Hastenreiter Filho

Publicado em 31 de agosto de 2022 às 05:00

. Crédito: .

A polarização, quando aplicada à política, descreve uma situação na qual o teorema do eleitor mediano, formulado pelo economista Antonhy Downs, de que os vencedores das corridas eleitorais são aqueles que conquistam o eleitor mediano, localizados no centro de um espectro que vai da esquerda à direita, falha. No Brasil atual, muitos analistas políticos usam o termo para descrever a preferência de mais de 70% dos eleitores por Lula ou Bolsonaro e, assim, assumem que esse percentual de eleitores teria posições extremadas à direita ou à esquerda. Faz-se necessário compreender porque o substantivo, na principal disputa política no Brasil de 2022, é mal aplicado.   Se voltarmos às décadas posteriores à segunda guerra, os governos ingleses ou franceses, entre outros governos europeus, adotavam medidas relacionadas a um amplo estado de bem-estar social, sem que fossem enquadrados como governos socialistas. Após o consenso de Washington, no entanto, mesmo medidas mínimas, relacionadas a uma preocupação com o bem-estar coletivo, passaram a ganhar status de políticas de esquerda. No pós-guerra, as fatias mais elevadas de renda inglesa chegaram a ser taxadas em 97% e os Estados Unidos da América, país símbolo do capitalismo, praticaram alíquotas na casa dos 80%. Tudo isso, antes que a doutrina neoliberal fosse gradativamente caminhando para sua quase hegemonia no ocidente.   

De lá para cá, a fração da renda e da riqueza que cabe aos 10%, 1% e 0,1% mais ricos nas principais economias europeias e americanas vem aumentando drasticamente, enquanto que a função do estado em prover o mínimo previsto na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, escrita há mais de 200 anos, passou a ser progressivamente mais questionada. No Brasil, em especial, à busca do cumprimento de uma Constituição cujo símbolo maior é o moderado político PMDbista Ulysses Guimarães, atribui-se um caminho para o comunismo. 

A composição ministerial dos dois governos do ex-presidente Lula e, sobretudo, a sua agenda econômica evidenciam que não há perspectiva a ser adotada que permita apontar qualquer inflexão à esquerda, além do mínimo cumprimento dos direitos constitucionais, em seu governo. No entanto, os interesses neoliberais de impor uma visão regressiva no processo redistributivo de recursos na sociedade reposicionaram medidas e governos de centro à esquerda, de direita ao centro e de extremíssima direita como afeitos a uma direita civilizada.

A polarização, no sentido da física, é uma propriedade das ondas eletromagnéticas, na qual elas são selecionadas e divididas de acordo com a sua orientação de vibração. Nesse caso, após as ondas passarem por um dispositivo que tem como função principal filtrar a direção em que elas vibram, há o impedimento de que ela possa passar pelas demais direções. A este dispositivo é dado o nome de polarizador. Esse tem sido o papel de parte da imprensa nacional e dos defensores da candidatura do presidente Bolsonaro. A primeira, com o objetivo de atribuir moderação e bom senso a uma terceira via que, minimamente civilizada no seu modo de agir, possa conduzir um programa de direita como se de centro o fosse e os últimos com o objetivo de repetir a estratégia de 2018, impelindo a população a lutar contra o Moinho de Vento comunista.

Horacio Nelson Hastenreiter Filho é professor associado da Escola de Administração da UFBA