Polícia busca os assassinos de três jovens no IAPI

Crime ocorreu na Rua Fé em Deus, na localidade conhecida como Rocinha do IAPI

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  • Bruno Wendel

Publicado em 16 de fevereiro de 2021 às 20:25

- Atualizado há um ano

. Crédito: Reprodução

 Três rapazes, dois deles adolescentes, foram mortos a tiros no mesmo local onde seus familiares retiram forças para se erguer diante da tragédia. Na Rua Fé em Deus, no IAPI, mães, pais, irmãos encontraram os corpos de Mateus Vinícius Reis dos Santos, 23 anos, conhecido como “Mista”, Kauan Pimenta dos Santos e Thiago Gabriel Ferreira Rodrigues Lourdelo Santos, ambos de 16 anos, na noite dessa segunda-feira (15).

As vítimas foram baleadas a poucos metros de casa. Na manhã desta terça-feira (16), o CORREIO conversou com parentes de Kauan no Instituo Médico Legal Nina Rodrigues (IMLNR). Por uma questão de segurança, seus nomes não serão revelados. Um deles, ainda bastante emocionado, disse não saber o motivo da crueldade.

“Até então, Kauan não era envolvido em nada. Pelo contrário, tinha muitos sonhos, que foram tirados dele e de nós, porque sonhávamos junto com ele. O menino que não dava trabalho algum morto dessa forma. Ninguém entende o que aconteceu. Quando a gente pergunta, os vizinhos dizem que nada viram. A família está toda desolada. Nada vai trazer ele de volta. Agora é pedir a Deus que o coloque em bom lugar”, disse o parente.

O assassinato dos três ainda é uma situação não esclarecida. Sobre o triplo homicídio, a Polícia Civil informou somente que a autoria e a motivação são investigadas pela Delegacia de Homicídios Múltiplos (DHM), unidade do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).

O CORREIO buscou também os parentes das outras duas vítimas, mas eles não quiseram comentar o caso.

Vários tiros O crime aconteceu por volta das 22h30, na localidade conhecida como Rocinha do IAPI.  Segundo o familiar, Kauan estava sentado na porta de uma das casas, comendo pipoca junto com os outros dois rapazes, quando foram mortos. “Foi o máximo que consegui colher até agora. As pessoas residem num bairro muito violento, onde são intimidadas o tempo todo e eu entendo a retração deles, porque eu também moro aqui e tenho consciência de tudo isso”, declarou.

O parente disse que tinha acabado de chegar do trabalho, quando escutou vários tiros. Na hora, pensou: “Espero que, pelo menos, não tenha sido com algum inocente”. Instantes depois, no grupo de WhatsApp da família, a trágica notícia: “Uma sobrinha disse que Kauan era uma das pessoas mortas. Fiquei em estado de choque e fui lá do jeito que estava vestida e constatei aquela terrível cena”, contou, logo após a liberação do corpo do rapaz.

 Kauan, Matheus Vinícius e Tiago Grabriel moravam na Rocinha do IAPI, porém em ruas distintas, mas próximas. Entretanto, o parente de Kauan, que também mora na região, disse que não conhecia os outros dois rapazes.

“Para estarem juntos é porque havia uma relação de afinidade. Mas não sei o que dizer, porque não conhecia os outros dois”, pontuou.

Ainda de acordo com a fonte, Kauan cursava o 7º ano no Colégio Helena Celestino Magalhães em um turno e no outro trabalhava como ajudante de oficina no bairro. Algumas poucas pessoas disseram que Matheus Vinicius vendia frutas numa banca montada na Avenida San Martin. Não há informações sobre Tiago Gabriel.

Sobre o triplo homicídio, a Polícia Militar informou que policiais da 37ª CIPM (Liberdade) foram acionados via Cicom para apurar uma denúncia sobre três homens feridos por disparos de arma de fogo na Rua Fé em Deus, no bairro do IAPI. “ No local a guarnição constatou o fato, no entanto as vítimas não resistiram aos ferimentos. A área foi isolada e o Silc acionado para realizar a perícia e remoção dos corpos. A Polícia Civil investigará o caso”, informou a nota da PM.

Silêncio Para chegar ao local onde as vítimas foram mortas, foi preciso trafegar numa ladeira sinuosa, onde somente passa um carro por vez, margeada por casas de reboco e alguns bares, além de inúmeros becos. Num determinado ponto, onde o caminho não é mais permitido por carro, a equipe de reportagem continuou o trajeto a pé, seguindo numa escadaria repleta de vielas até chegar ao ponto exato das execuções.

Onde os três rapazes foram assassinados é um local mais aberto, com aparência de ser uma das áreas de lazer da comunidade. Apesar de os moradores terem lavado a cena do crime, era possível perceber a área mais escura sobre o chão de cimento, provavelmente as marcas deixadas pelo sangue das vítimas.

A reportagem buscou informações sobre o que aconteceu, mas ninguém quis falar sobre o ocorrido. Em alguns casos, moradores relataram que estavam ali por acaso. “Eu nem moro aqui. Tô de passagem”, disse uma mulher. Era nítido que todos estavam com medo de falar alguma coisa sobre a violência no bairro.

“Essa dificuldade também enfrentamos. Logo após o ocorrido, fui para o local, mas ninguém quis falar nada. Depois de muito insistir, uma pessoa, que mora em frente onde os corpos foram encontrados, e que tinha sido ouvida pelos policiais, disse pra mim o seguinte: ‘Numa situação como essa, quem é quem vai botar a cara? Pra morrer também?”, contou o parente de Kauan ainda no IML.

Diante das circunstâncias, o familiar de Kauan encerrou a entrevista dizendo:  “Agora, vida que segue. Peço a Deus para que essas pessoas que fizeram isso com ele não façam com mais ninguém”. E silenciou. Não foram divulgadas informações sobre o enterro das três vítimas.