Polícia investiga se pai de suspeito de matar servidor estava na cena do crime

Carro da vítima, morta em agosto, tinha digital de pai do assassino confesso, que está foragido

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  • Tailane Muniz

Publicado em 12 de setembro de 2018 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Michel Batista (à esquerda) foi morto por Gabriel, que está foragido (Fotos: Reprodução) A sete dias de completar um mês da morte do servidor e ex-assessor parlamentar Michel Batista Santana de Sá, 35 anos, a Polícia Civil investiga se o pai de Gabriel Bispo dos Santos, 22, que é o principal suspeito do assassinato, também estava na cena do crime. 

Isso porque a perícia do Departamento de Polícia Técnica (DPT) encontrou as digitais do empresário Maurício Lucas de Teive e Argolo, pai adotivo de Gabriel, e de seu motorista, Itazil Moreira dos Santos, no carro de Michel - encontrado morto atrás do Shopping Paralela, na manhã do dia 17 de agosto.

A Polícia Civil vai indiciar o pai e o motorista. A informação foi passada ao CORREIO, nessa terça-feira (11), por uma fonte ligada às investigações. A reportagem procurou a Secretaria da Segurança Pública (SSP-BA), que não confirmou o indiciamento.

A vítima saiu de casa na tarde do dia 16 para negociar a venda de um carro - que havia anunciado pela internet um mês antes. 

No Salvador Shopping, local marcado com Gabriel - então comprador -, Michel descobriu que o dinheiro não estava em sua conta. O ex-assessor chegou a entrar em contato com a família, mas foi encontrado morto no dia seguinte. Segundo o pai da vítima, o suplente de vereador Arnando Lessa, o filho foi torturado e teve os 'testículos destruídos'. Documento atesta transferência da propriedade do veículo feita por Michel para Gabriel (Foto: CORREIO/Reprodução) Digitais e contradição Sem se identificar, uma fonte ligada às investigações afirmou ao CORREIO que a polícia acredita que Gabriel não fez tudo sozinho. Maurício Lucas, que cria o principal suspeito desde os 3 anos, e Itazil, que dirige para o empresário, prestaram depoimento há duas semanas e, ainda de acordo com a informação recebida pela reportagem, entraram em contradição."A polícia sabia que Gabriel tinha chamado o pai no shopping. As imagens colocavam eles [empresário e motorista] no local. Fato é que disseram que não tiveram contato com Michel, mas a filmagem do shopping mostra que eles saem juntos, no carro da vítima, e não retornam", relatou a fonte.Tanto Maurício quando Itazil disseram, em interrogatório, que foram ao shopping a pedido de Gabriel - que teria afirmado ao pai ser vítima de um golpe.

"O pai [de Gabriel] afirmou [para a polícia] que o filho ficou desesperado porque o dinheiro que ele tinha depositado para Michel caiu em outra conta, e que ele foi no shopping ajudar o filho", detalhou.

Imagens divulgadas no dia 18 de agosto mostram o suspeito no Salvador Shopping, com camisa social azul. No momento, ele estava com a vítima e fez compras no próprio centro de compras com o cartão de Michel. Assista:

O empresário acrescentou em seu depoimento que no caminho para a delegacia, notou que estava de bermuda e que, portanto, teria que trocar de roupa."Então ele falou que retornou ao shopping, mas as imagens só mostram eles saindo com a vítima, o retorno não acontece. Isso leva a crer que eles estiveram na cena do crime e, por isso, serão indiciados".Itazil e Maurício disseram, a princípio, que sequer haviam tido contato com Michel dentro do carro da vítima, mas tiveram que admitir após se reconhecerem nas imagens mostradas a eles por policiais. "Falaram: 'Esquecemos esses detalhes'", completou. Falsa comprovação de transferência bancária, com nome de Michel errado, foi enviada pela vítima ao irmão, que o alertou (Foto: CORREIO/Reprodução) Foragido Já Gabriel, considerado foragido da Justiça, confessou o crime ao advogado Hudson Dantas, que cuidava de sua defesa, e familiares, mas não informou a motivação. O advogado, que não representa mais Gabriel, afirmou, também, que pai e filho trabalhavam com compra e venda de carros, na região da Avenida Bonocô. 

Procurado pelo CORREIO, Dantas confirmou que está na defesa de Maurício e Itazil e que não ia comentar o assunto.

A reportagem teve acesso à informação de que a polícia chegou a três mulheres, na localidade de Barra de Pojuca, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), que teriam dado abrigo ao autor confesso.  Elas foram ouvidas e liberadas. Em depoimento, disseram que o foragido afirmou ter 'matado um homem em Salvador', e saiu da casa delas dizendo que ia embora do estado. Transferência de valor que seria referente a veículo feita em nome de uma terceira pessoa (Foto: CORREIO/Reprodução) Durante as investigações, a Polícia Civil chegou a divulgar fotos do motorista Luciano Pinho da Silva, 35, apontado à época como coautor do crime. Mas o rapaz se apresentou na Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV) no dia 22 de agosto e, após passar seis dias preso, foi liberado após segundo interrogatório.

Luciano provou, por meio de declaração da empresa em que trabalha, que estava de serviço no dia do crime. Conforme o advogado do rapaz, Joel Mendes, o GPS do carro do cliente também mostrou que ele não passou pela 'trilha do crime'. 

À época, a polícia afirmou que "não havia a necessidade da manutenção da prisão de Luciano [que era temporária] porque a prisão cumpriu a finalidade na investigação".

'Quadrilha familiar' Pai de Michel Batista, o suplente Arnando Lessa disse ao CORREIO que sempre teve a certeza de que Gabriel estava tentando proteger uma pessoa próxima."Eu sempre acreditei que o padrasto e o motorista do assassino do meu filho estiveram na cena do crime. E, ainda, na trama de roubo do carro [de Michel]. Não sei até que ponto estiveram presentes e o papel de cada um na execução, mas sei que uma pessoa só não teria conseguido finalizar a barbárie", afirmou Arnando, nesta terça-feira. Arnando Lessa acredita em envolvimento do pai de Gabriel em morte do filho (Foto: Almiro Lopres/Arquivo CORREIO) Lessa relevou que ele mesmo levou ao conhecimento da polícia a suspeita do envolvimento de Maurício e Itazil. "Eu recebi várias denúncias anônimas falando do histórico criminal do pai adotivo de Gabriel, corri atrás e levei ao conhecimento do delegado".

Arnando confirmou ao CORREIO a informação de que imagens mostram a vítima acompanhada dos três suspeitos na tarde do crime e, ainda, sobre o conteúdo contraditório dos depoimentos tanto do empresário quanto do motorista."Para mim, eles já deviam estar presos. Eu sempre soube que eles eram tão culpados quanto Gabriel. Na verdade, é uma quadrilha familiar. Tenho certeza que ele iniciou a vida criminal do enteado", comentou o suplente.O CORREIO apurou que Gabriel morava no bairro de Narandiba, e o padrasto, na Paralela. Arnando Lessa comentou com a reportagem que conheceu o pai biológico do assassino do seu filho, a quem se referiu como "um comerciante, trabalhador honesto, que não participou da formação do rapaz". 

Em tom de indignação, Lessa disse que aguarda que até sexta-feira (14) seja decretada a prisão de Maurício e Itazil. "Acompanho as investigações desde o primeiro dia. Semana que vem completa um mês do assassinato do meu filho e eu tenho muita confiança que a polícia vai elucidar o caso logo", concluiu.

O Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), por meio da Delegacia de Repressão a Furtos e Roubos de Veículos (DRFRV), investiga o crime.