Polícia prende ET, membro da Katiara que já matou mais de 20 em Valéria

Yuri Carlson Santana Santos, 22, foi preso após buscar atendimento médico em Feira

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  • Tailane Muniz

Publicado em 20 de dezembro de 2017 às 15:59

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Yuri Carlson Santana Santos, o E.T, tem 22 anos e já matou pelo menos 20 pessoas, incluindo policiais, segundo a Polícia Civil. Quatro de Espadas do Baralho do Crime da Secretaria da Segurança Pública (SSP) e integrante da facção Katiara, ele foi preso nesta segunda-feira (18), em Feira de Santana, onde foi buscar atendimento médico para tratar de um ferimento na perna - causado por um tiro que tomou durante confronto com a Polícia Militar, no sábado (16), no bairro de Valéria, em Salvador.

Apresentado à imprensa nesta quarta-feira (20), ele preferiu não fazer comentários. Com pinos na perna direita, E.T permaneceu calado e de cabeça baixa. Conforme o coordenador da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), delegado Jamal Amad, Yuri não tinha passagem por tráfico e é um dos principais executores das mortes na região de Valéria, onde a Katiara detém, ainda segundo a polícia, 90% do domínio do tráfico."Ele e esta facção criminosa, a Katiara, eles têm sob a responsabilidade deles mais de 20 homicídios, incluindo dois policiais aposentados. Sendo que Yuri é um dos principais executores. Ele mata, arranca cabeças, é cruel, não tem piedade", relatou Amad, ao mencionar a morte de um morador identificado como Moisés Paixão dos Santos que, em 2016, foi retirado de casa e levado para um matagal - onde foi executado por Yuri e outros homens.Na conta de E.T, ainda de acordo com Jamal Amad, também pesam as mortes de Lenilson Bacelar Mota, em novembro deste ano, e Jonas Pereira Cardoso, no último sábado (16) - todos em Valéria. Yuri tinha dois mandados de prisão - sendo um preventivo e um temporário, ambos pela morte de Lenilson. "Todos moradores inocentes. Um deles, inclusive, era morador recente. Mas eles fizeram do bairro um tribunal do crime, onde eles vão e executam quando bem entendem, quem eles bem quiserem", salientou o delegado.

Em depoimento, ainda segundo Amad, Yuri afirmou já ter pertencido à Katiara mas negou, no entanto, ser o autor das mortes. "Ele fala que ele não é traficante, não é homicida, não é bandido, mas não nega ser da facção. Ele é violento, extremamente agressivo. O surpreendente é que ele já foi orientado a falar apenas com o juiz, o que é um direito dele", comentou.

Conforme a delegada Patrícia Brito, responsável pelas investigações, a prisão de Yuri vai representar uma diminuição considerável nas mortes das localidades de Valéria, Lagoa da Paixão e Palestina."É uma quadrilha grande, que costuma trocar tiros com a polícia e fugir do local. E.T e seu bando são executores assíduos. São mais de 20 homicídios apurados. Eles agem com facas, tiros e até cachorros para intimidar suas vítimas, muitas delas moradores inocentes, sem qualquer participação no tráfico". Troca de tiros A prisão de E.T começou a se desenhar na noite de sábado (16), quando ele e o seu bando executaram o jovem Jonas Pereira Cardoso, 21, na principal avenida de Valéria. A morte motivou incursões das polícias Civil e Militar no bairro. "Os policiais se depararam com Yuri e seu grupo no domingo (17), quando houve a troca de tiros. Eles trocam [tiros] mesmo, não respeitam. E, claro, os policiais respondem e sempre vão responder à altura", afirmou Jamal Amad.

Ferido na perna, Yuri conseguiu fugir. Com a ajuda de familiares, ele foi a uma clínica particular no município de Feira de Santata, onde foi identificado e preso. "Claro, ele sabia que faríamos uma varredura nos hospitais de Salvador. Na cabeça dele, estaria a salvo no interior, mas a PM foi acionada e fez o cerco, ainda sem saber se havia comparsas dele lá", relatou.

Capitão da 65ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Feira de Santana), major André Cavalcante comentou que os funcionários da clínica começaram a desconfiar depois que notaram uma movimentação estranha de carros e pessoas ao redor da unidade de saúde. Sem resistir, Yuri foi preso por policiais do Pelotão de Emprefo Tático Operacional (Peto) da 65ª CIPM. Ele vai responder por associação ao tráfico, prática de homicídios e formação de quadrilha.

Léo Barata Há um mês, outro integrante da Katiara foi capturado em circunstâncias similares. Leonardo Fernando dos Santos, o Léo Barata, acabou preso após buscar ajuda no Hospital Eládio Lasserre, em Cajazeiras. Ele foi atingido por um tiro após trocar tiros com policiais das Rondas Especiais da PM (Rondesp), na Lagoa da Paixão. Léo segue preso no Complexo Penitenciário de Mata Escura, em Salvador. Ele responde por tráfico, associação ao tráfico e prática de homicídios.

A prisão de Léo, de acordo com o delegado, motivou diversas mortes em Valéria. "No dia seguinte, já houve uma execução. Porque Léo era o [linha de] frente. Léo ordenadava e executava. Depois de sua prisão, Yuri, que já tinha sua importância, também passou a orquestrar. Para eles, há uma delação por parte dos moradores. Uma coisa de imaginação deles, que acreditam que se a polícia chega e prende é porque tem o dedo de moradores inocentes, coisa que é imaginária", explicou.

Léo assumiu o comando do tráfico na região de Valéria após morte de Anderson dos Santos, conhecido como Bigó, em outubro de 2016. Bigó foi apontado pela Polícia Civil como autor do homicídio do sargento reformado Eduardo Henrique Bispo dos Santos, 59, em setembro do mesmo ano.  

Valéria dominada Conforme o subcomandante da 31ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Valéria), capitão Márcil Gentil, a Katiara tem praticamente todo domínio dos bairros de Valéria, Palestina e região da Lagoa da Paixão."Eles não têm concorrência. Primeiro porque todo mundo teme eles. São bastante cruéis. Há uns quatro anos, mais ou menos, eles já nos 'entregaram' a cabeça de uma pessoa em um poste", comentou o major.Gentil afirmou, ainda, que a Katiara já chegou a expulsar famílias inteiras de um conjunto habitacional localizado na Lagoa da Paixão. "Lá, eles circulavam e traficavam tranquilamente. As últimas operações [da PM] inibiram um pouco essa prática, mas ainda existe forte no conjunto", esclareceu o major, acrescentando que os traficantes costumam matar pessoas aleatórias.

Além destas regiões, de acordo com Márcio Gentil, a quadrilha está presente também no Recôncavo Baiano, onde costuma alugar fuzis para quadrilhas de assaltos a bancos. Segundo o major, a região foi escolhida por ser de conhecimento Adilson Souza Lima, o Roceirinho - apontado como criador da Katiara -, que se criou Nazaré.

"Eles agem sempre em grupo e têm um grande arsenal. São fuzis, pistolas e outros armamentos de grosso calibre. Este negócio possibilita que eles se organizem a ponto de financiar o tratamento e até translado de membros feridos em confrontos".

A maioria dos integrantes, ainda conforme Gentil, são jovens da própria comunidade. "Por isso, é muito difícil prender eles. Quanto mais meninos forem envolvidos, mais informações eles têm das ações da polícia nas localidades. Costumam esconder as armas nos matos, e até ficar lá por dias".

As prisões de Léo Barata e E.T, segundo a polícia, enfraquece a Katiara. "As mortes de Bigó e Guinho também foram baques para eles, agora, apenas um dos linhas de frente segue foragido", afirmou major Gentil, fazendo referência a um traficante identificado como Marcelo, o Desenho, que assumiu o posto do seu antecessor, Robson Luiz Gomes Lima, 32 anos, o Robin, encontrado morto com tiros em maio deste ano, na cidade de Pedrão, no Centro-Norte baiano. As filhas do traficante, de 1 e 5 anos, que estavam com os pais no momento do crime, seguem desaparecidas.