Polo, 40 anos

Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional

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  • Waldeck Ornelas

Publicado em 18 de julho de 2018 às 05:00

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A celebração dos 40 anos da entrada em operação do Polo Industrial de Camaçari, inicialmente apenas petroquímico, constitui fato relevante ao que a Bahia parece não estar dando a atenção devida. Isto vem sendo feito, é fato, mas apenas nos limites da própria indústria, sob a liderança do Cofic, o Comitê de Fomento Industrial de Camaçari, em articulação com a Fieb. Perde-se, no entanto, oportunidade ímpar para que se estabeleça em toda a Bahia, por seu governo, suas universidades, sua imprensa, suas entidades de classe – profissionais e empresariais, toda a sociedade, uma ampla discussão sobre a situação atual e as perspectivas futuras do nosso estado.

O Polo substituiu o cacau como principal esteio da economia baiana. Felizmente chegou antes da crise da “vassoura-de-bruxa” afetar a lavoura, senão a Bahia teria literalmente quebrado. Mas, se por um lado o Polo ainda não enraizou na economia estadual – porque até hoje ainda não aconteceram os seus esperados desdobramentos – por outro, a Bahia não está fazendo nenhum esforço significativo para expandir e diversificar a sua economia, donde a sombra de um novo “enigma baiano”, expressão cunhada na década de 1950 pela geração de Rômulo Almeida, Pinto de Aguiar, Clemente Mariani, Thales de Azevedo, entre outros, para explicar o atraso econômico da Bahia e buscar o caminho para sua superação. O parâmetro, à época, era o crescimento industrial do Centro-Sul do país, daí que a petroquímica emergiu como resposta a essas angústias.  

No princípio era um Polo Petroquímico, para o qual o estado preparou a infraestrutura de um distrito industrial. Logo chegou também a metalurgia do cobre. Ao longo do tempo novos setores, segmentos e empresas vêm se agregando, por integração – como o complexo acrílico – ou por justaposição, como a automobilística. Fato é que o atual Polo Industrial de Camaçari mudou o perfil da economia baiana, até então eminentemente agrícola e, desde então diversificou-se, sendo um dos mais importantes complexos industriais do país e, ainda hoje, o maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul.

Em Camaçari e por toda a Bahia, o mais recente fato de grande relevância é o início de implantação do Cimatec Industrial, empreendimento liderado pela Fieb, através do Senai. Depois da petroquímica e da automobilística, esse é o mais novo “polo” que o município e o estado conquistam, de natureza tecnológica, voltado para o que há de mais moderno em manufatura industrial, alinhado com a 4ª revolução industrial, fadado a ser uma referência global em inovação.

No mais, mesmo em relação ao atual Polo Industrial, ainda é preciso romper o círculo de giz que retém a petroquímica no âmbito da produção de bens intermediários, para chegarmos à transformação plástica e do segmento acrílico; no âmbito da automobilística, é preciso atrair as autopeças; mas há também – e precisam ser expandidos – a produção de componentes para a geração de energias limpas; os serviços, com destaque para as atividades logísticas e a produção de bens de consumo em geral.

Há 40 anos chegou até parecer que a Bahia se integrava definitivamente à dinâmica econômica do Centro-Sul brasileiro, abrindo as portas para a correção das desigualdades regionais. No entanto, como se observou nos últimos anos, nem por isso a Bahia deixou de perder posição no ranking do PIB dos estados e, mesmo em relação ao Nordeste, onde embora continue em confortável primeiro lugar, tem perdido participação relativa, por falta de continuidade dos esforços para a atração de novos empreendimentos. Isto só demonstra que muito mais há que ser feito e conquistado.

Certo hoje é que a Bahia precisa construir novos cenários para o seu futuro e, superada a crise econômica que devastou o país, poder retomar rapidamente a senda do desenvolvimento. Waldeck Ornélas é especialista em planejamento urbano-regional e ex-secretário do Planejamento, Ciência e Tecnologia da Bahia