Popularidade de Trump tem recorde de baixa e não deve avançar com ataque à Síria

Por outro lado, a popularidade de Trump não baixa além do atual patamar porque ele tem o apoio de cerca de 85% dos eleitores republicano

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  • Da Redação

Publicado em 14 de abril de 2017 às 02:32

- Atualizado há um ano

Donald John Trump assumiu a presidência dos EUA como o líder menos popular da história do país, desde que pesquisas de opinião passaram a ser realizadas há várias décadas. Desde sua posse em 20 de janeiro deste ano, seus índices apresentam uma trajetória de queda, com alguns episódios de melhora. Isto ocorreu recentemente, logo após o bombardeio ao sul da Síria, com 59 mísseis americanos sendo lançados para combater o uso de armas químicas que o governo daquela nação é suspeito de ter adotado para aterrorizar inimigos no próprio território.

Mas esta melhora da popularidade de Trump ainda o coloca com 39% de aprovação, conforme pesquisa da CNBC divulgada nesta semana, ou de 40% de acordo com o instituto Gallup. “Geralmente um presidente está bem com o povo quando atinge pelo menos 50% de aprovação”, comentou Stephen Ansolabehere, professor de Ciências Políticas da Harvard University. “Quando este patamar é atingido, poucos em Washington brincam com o presidente, pois sua força política é grande.”(Foto: AFP)Neste período de início de administração, os ex-presidentes Barack Obama e George W. Bush registraram pouco acima de 60% e ao redor de 55%, respectivamente, de acordo com a ABC News. O professor Ansolabehere e outros especialistas ouvidos pelo Broadcast não acreditam que o primeiro ataque militar da era Trump será suficiente para sustentar ou elevar sua popularidade nas próximas semanas. “Trata-se de um caso isolado cujo impacto limitado junto ao público deve desvanecer logo, salvo a ocorrência de fatos de magnitude muito maior que não podemos prever “, comentou Ernesto Calvo, professor e um dos chefes do departamento de governo e política da Universidade de Maryland.

O mais provável é que a ação dos EUA na Síria não deve envolver desdobramentos mais profundos, como bombardeios ostensivos de caças americanos a alvos do governo de Bashar al-Assad ou um aumento muito grande de soldados no solo para combates diretos contra forças do exército sírio, o que somente é apoiado por 18% da população americana, aponta a CNBC. Trump atingiu o baixo nível de popularidade que possui por erros fortes e adoção de medidas que provocam uma rejeição muito grande entre eleitores democratas. “Ainda na campanha eleitoral, ele adotou uma série de atitudes que provocam uma aversão tão grande que ele se tornou uma figura sem credibilidade, que passa a imagem de que não respeita mulheres, negros, latinos e imigrantes”, apontou Jonathan Lieber, diretor do Eurasia Group para os EUA. “E, aparentemente, até agora Donald Trump pouco fez para reverter essa percepção generalizada. Isso ocorreu ao assinar um decreto que proibia o ingresso nos EUA de imigrantes de vários países e reverter políticas adotadas pelo governo de Barack Obama”, destacou Lieber.

Por outro lado, a popularidade de Trump não baixa além do atual patamar porque ele tem o apoio de cerca de 85% dos eleitores republicanos. Primeira derrota Trump já manifestou que sua prioridade junto ao Congresso nos primeiros passos do seu mandato seria revogar o programa nacional de planos de saúde conhecido como Obamacare. Como não tinha uma proposta sua pronta para ser levada ao Congresso, ele abraçou a defendida pelo presidente da Câmara, o republicano Paul Ryan.

O compêndio de novas medidas desagradou cidadãos que viram que seus gastos com convênios subiriam muito, além de americanos ricos que queriam ver menos participação do Estado neste segmento da economia. O resultado foi uma derrota política de grandes proporções para Trump e Ryan, mas sobretudo para o presidente, que perdeu sua primeira batalha no Congresso ao lançar dúvidas sobre sua força para ver outras políticas aprovadas pela câmara e senado.

A popularidade de Trump também junto aos democratas é muito fraca porque ele não mostra detalhes dos seus planos para o país, sobretudo para a economia. “Boa parte destes eleitores não lhe dá respaldo porque não vê projetos de longo prazo para diversas políticas”, destaca o professor Ernesto Calvo. E há ainda dois modos de agir de Donald Trump que boa parte do público simpatizante do partido da oposição não gosta: a vitimização, na qual atribui a culpa de fracassos a quem lhe persegue, como a imprensa, e o teor de suas mensagens no Twitter, visto como inadequado por três quartos da população americana.

“Muitos avaliaram como ridículas as declarações de Trump que seu antecessor, Barack Obama, teria ordenado a realização de escutas ilegais em seu escritório em Nova York”, comentou Jonathan Lieber. O diretor do FBI, James Comey, em depoimento no Congresso negou que tais atos tenham sido realizados contra o então candidato do partido republicano. As acusações de Donald Trump contra Barack Obama ocorreram quando começava a avançar o surgimento de artigos e reportagens de emissoras de TV sobre suspeitas de conexões pouco claras mantidas por assessores seus na campanha eleitoral com funcionários do governo russo.

Por enquanto, Trump está bem com os eleitores republicanos, pois muitos deles defendem medidas de combate a políticas defendidas pelos democratas, como a desregulamentação ambiental e financeira. Contudo, essa aprovação pode perder vigor caso as promessas do presidente de fortalecimento da economia não se concretizarem. “Num contexto, de perda de popularidade junto aos republicanos para um patamar ao redor de 60%, talvez restaria ao presidente adotar medidas que elevassem sua aprovação junto aos democratas, como as relacionadas a imigração e avançar o plano de investimentos em infraestrutura”, comentou Jonathan Lieber.