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Por dentro da cambaleante democracia

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  • Gabriel Galo

Publicado em 6 de setembro de 2019 às 09:14

 - Atualizado há um ano

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Na década de 1970, o Tuca, teatro da PUC em área nobre da capital de São Paulo, foi ponto vital de resistência à Ditadura Militar brasileira. Liberdade de imprensa e de expressão eram exigências que caminhavam junto com o restabelecimento da democracia. Não raras vezes, forças impositoras de um torpe conceito de lei e ordem entraram em confronto com estudantes, que derramavam suor e sangue para enraizar a voz de quem não se submete ao medo.

A simbologia da reconexão do Tuca com suas origens durante o “Direitos Já! Fórum pela Democracia”, no dia 2 de setembro, tem efeitos antagônicos em termos de sentimentos. Se por um lado, costurou-se alianças e se formou um movimento suprapartidário que reuniu no palco representantes de 17 partidos das mais variadas ideologias, desde Novo e PTB, trincheiras da proteção governista no Congresso, aos oposicionistas PSB e PCdoB, passando por outros tantos de centro, por outro é desolador que em 2019 ainda seja necessário lutar e provar o valor da democracia.

A luz de alerta tem porquê. As constantes mensagens de embrutecimento vindas de Brasília colocam em xeque a evolução civilizatória em forma de governo. Quando se toma atacar as instituições de contrapeso ao poder centralizado, expõe-se a face mais perversa do autoritarismo. Na normalização do absurdo, aproxima-se o inaceitável da realidade.

Se para muitos nas ruas ainda paira uma certa de incredulidade de que as conversas tensionem para o extremismo, para quem já viveu na pele as agruras de tempos sombrios, a conexão é inegável. E o mundo prova que mesmo as democracias mais estáveis, como o Reino Unido e os Estados Unidos, estão suscetíveis a um achincalhe organizado.

Noam Chosmky, uma das surpresas da noite, discorreu sobre o perigo iminente do avanço autocrata. Especialmente, de que o relógio correu demais e o monstro do autoritarismo ganhou forma a abraçou aqueles que se veem excluídos de políticas públicas.

O desafio do movimento “Direitos Já!” é entender agora quais serão os próximos passos de maneira prática. Anunciou-se que rodará vários estados nos próximos meses, gerando debates e visibilidade. Mas o que, efetivamente, decorre de suas pautas? É esperado um enternecimento no trato de Brasília? Ou a manutenção da postura beligerante é mais provável? Sim, direitos já, democracia sempre, mas com responsabilidade.

E o antagonismo de sentimentos se faz mais uma vez. No primeiro caso, o movimento perde razão de ser, e a democracia segue avançando ao seu jeito; no segundo, ele ganha ainda mais relevância, mas significa a entrada definitiva em tempos sombrios.

Obscurantismo, escuridão, sombras. Termos similares presentes nas palavras de tantos, em meio às suas pautas. No cerne do discurso, essencialmente, enalteceu-se a luta pelo bem maior da política: a vitalidade e plenitude da democracia. A luz se faz na manutenção da participação popular, que não deve ceder às tentações de déspotas, cujas péssimas intenções não podem ser relativizadas.

Gabriel Galo é escritor

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