'Por favor, atenda': Ignorado, recenseador manda 82 bilhetes para sensibilizar moradores

Bilhetes foram entregues na Pituba; 42 pessoas já deram retorno

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  • Gil Santos

Publicado em 31 de agosto de 2022 às 05:15

. Crédito: Marina Silva/ CORREIO

Depois de várias idas e vindas aos condomínios da Pituba para fazer a pesquisa do Censo Demográfico 2022, sem encontrar os moradores em casa, o recenseador Carlos Gama, 30 anos, resolveu apelar para o lado emocional. Ele escreveu 82 bilhetes explicando a importância da pesquisa e pedindo a colaboração dos faltosos. Os porteiros ajudaram, colocando as cartas na caixa de correios dos apartamentos ou enfiando por debaixo das portas, e está dando certo.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), responsável pelo Censo, divulgou um balanço da pesquisa nesta terça-feira (30). Os dados apontam que cerca de 2,8 milhões de domicílios foram visitados em toda a Bahia, entre os dias 1º e 29 de agosto, o que representa pouco mais da metade (51,5%) dos 5,2 milhões estimados para o estado. O resultado ficou acima da média nacional (38,8%). Apesar disso, os recenseadores estão reclamando de dificuldades para conseguir fazer o levantamento.

“Olá, você sabe para que serve o Censo?”, assim começam os 82 bilhetes escritos por Carlos. “Seria muito importante a sua participação, pois você ajuda o órgão e o recenseador que faz as coletas dos dados. Sempre lembrando que toda informação é mantida em sigilo por lei”, diz o texto de dois parágrafos. Algumas linhas depois, conclui: “Fico muito agradecido se você puder me receber, já estou registrado em seu condomínio”. Ele contou que a ideia surgiu por conta da dificuldade.

“Não estava conseguindo localizar os moradores e essas são as últimas unidades para concluir essa regional. O IBGE tem uma Folha de Recado padrão para essas situações, onde a gente só preenche os dados, mas achei que era muito impessoal, eu precisava de algo mais emocional. Minha supervisora sugeriu que eu fizesse um texto curto, minha noiva me ajudou e fizemos dois parágrafos, o primeiro mais informativo e o segundo mais emocional, apelativo”, contou.

O bilhete foi entregue junto com a Folha de Recado padrão do IBGE, com nome, matrícula e o número de celular disponibilizado pelo Instituto. Funcionários dos condomínios ajudaram fazendo a entrega das cartas.“Mandei as primeiras cartas na segunda-feira, e na terça-feira à tarde, comecei a receber as ligações dos primeiros moradores. Muita gente trabalha ou está viajando, e tem esses choques de horário. Agora, faltam apenas as 40 últimas para eu terminar”, explicou Carlos.Algumas pessoas acharam a proposta inusitada e depois de responder ao questionário, devolveram o bilhete ao dono. Das 82 cartas entregues na semana passada, 42 já foram respondidas. A fotógrafa Vanessa Ramos, 33 anos, considera a pesquisa importante.“O IBGE esteve aqui em casa na semana passada e foi bem rápido. Perguntas simples, como nome, idade e renda. Respondemos tudo. O Censo é importante, porque possibilita fazer um recorte e uma leitura do panorama social”, disse.Pesquisa Responder ao Censo do IBGE é obrigatório pela Lei nº 5.534/ 1968, mas 44,1 mil residências não quiseram participar da pesquisa na Bahia, o que representa 2,03% dos domicílios pesquisados. A taxa de recusa no estado está um pouco menor do que no país (2,3%), sendo a 11ª entre as unidades da federação. Rio de Janeiro (4%), São Paulo (3,4%) e Roraima (3,3%%) apresentavam as maiores recusas, enquanto Paraíba (1,1%), Piauí (1,18%) e Rio Grande do Sul (1,42%) têm as menores.

A coordenadora de divulgação do Censo 2022 na Bahia, Mariana Viveiros, contou que a Folha de Recado, usada pelo recenseador Carlos Gama, na Pituba, tem o objetivo de facilitar o trabalho onde o acesso ao público é mais complicado.

“É uma forma tradicional dos censos. Antigamente, era uma folhinha azul. É uma forma de avisar para o morador que o recenseador esteve no domicílio, e de pedir para que essa pessoa entre em contato com o recenseador para combinar uma nova visita. Ajuda o recenseador a não precisar ficar voltando ao local outras vezes”, contou.

Os dados parciais divulgados pelo IBGE apontaram também que entre os dias 1º e 29 de agosto, de cada dez pessoas que se autodeclararam quilombolas, três eram baianas (116,4 mil). É a maior população do país. O estado tem ainda a segunda maior população de indígenas (81,9 mil). Em todo o Brasil, foram visitados até agora 30,3 milhões de domicílios, de um total estimado de 77,9 milhões. A Bahia é o 5º estado com maior percentual de respostas. O Censo 2022 segue, em todo o país, até o final de outubro. Os resultados serão divulgados a partir de dezembro.