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Por que Champagne é tão especial?


 

  • Paula Theotonio

Publicado em 23/07/2021 às 15:46:00
Atualizado em 22/05/2023 às 03:37:20
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O vinho sempre foi motivo de grande orgulho para a França. E a produção enológica francesa, motivo de grande aspiração pelos enófilos e de grande referência para enólogos de todo o mundo. Provar um rótulo francês e se propor a entendê-lo é mais do que uma experiência dos sentidos, é permitir-se conhecer um tanto de história, geografia, geologia, clima e o saber-fazer de um povo. 

Por isso fiquei tão animada ao participar da Masterweek França, um evento online para comunicadores promovido entre os dias 17 e 23/07 pela Cantu Importadora. O intuito era celebrar com vinho e conhecimento a Festa Nacional Francesa — comemorada anualmente em 14 de julho. Em duas masterclasses, pude aprender um pouco mais sobre duas regiões de grande prestígio em território francês: Champagne e Bourgogne (Borgonha). 

Hoje vamos falar de Champagne!  É difícil explicar as sensações de algo tão fascinante como Champagne, então vou me ater aos fatos. A região é uma AOC — sigla francesa para Denominação de Origem Controlada (Appellation d’Origine Contrôlée). Chama-se A Champagne e sua bebida é O Champagne/Champanhe.  (Foto: Divulgação) Justamente por ser uma AOC, com critérios de produção e de território, retém para si o uso da palavra Champagne para seus espumantes. Então, por mais que muitos façam excelentes borbulhantes da mesma maneira que se faz na França, ninguém (exceto a Peterlongo no Brasil, e mais à frente explico) pode chamar seu produto de Champagne.  

A Rússia até decretou que somente a produção nacional — os Champaskoe — poderá ser rotulada como Champanhe por lá. Algo que muitos produtores estão resolvendo com ajustes no contra-rótulo, somente para não perder mercado (ou despertar antigos problemas entre os países). 

Voltando à França: os vinhedos de Champagne se espalham por 34 mil hectares (algo como a metade de Salvador) em uma área mais ao norte da França. Portanto, de clima mais frio.  Este componente climático associado aos solos calcários, que ajudam na drenagem e a manter os vinhedos aquecidos pela noite, garantem que os famosos espumantes sejam sempre frescos, com nuances minerais (de pedra molhada) e excelente acidez. Característica que, ainda, permite o envelhecimento em garrafa por muitos anos. Atualmente Champagne tem 319 Crus, sendo 42 Premiers Crus e 17 Grand Crus (como são chamadas as parcelas de terreno com melhor localização geográfica e exposição ao sol para amadurecimento das uvas). Ao todo, a região possui 280.000 áreas demarcadas. 

Há quatro grande sub-regiões, segundo o site oficial da AOC: La Montagne de Reims, excelente para Pinot Noir; Vallée de la Marne, para a tinta Pinot Meunier; a Côte des Blancs et la Côte de Cezanne, reinado da Chardonnay; e Côte des Bar, também de excelência para Pinot Noir. 

Na Masterweek França, degustamos o Lanson Black Label Brut. O rótulo preto, feito nesta cor para se destacar dos demais, é um clássico da casa Lanson, uma das pioneiras e com data de fundação que remonta a 1760.   (Foto: Divulgação) O vinho base deste borbulhante é um assemblage (ou blend) de Pinot Noir (50%), Chardonnay (35%) e Pinot Meunier (15%) — principais da região — selecionados de 100 comunas (ou crus). 

Pelo menos 50% das uvas são de Grand Cru e Premier Crus; e 35% do assemblage vem de vinhos de diversas safras coletadas nos últimos 20 anos. Antes de chegar ao mercado, passou 4 anos envelhecendo, o que no conjunto adicionou toda a complexidade e corpo que provamos na taça. 

Brilhante, com cor dourada pálida e perlage finíssima, este espumante tem aromas de frutas de caroço (como pêssego) e florais em mix com notas tostadas e um tanto de mel. Na boca repete as impressões do aroma, com bastante frescor. É ainda um Champagne vivo, intenso e bastante aromático, que sempre pede uma segunda taça.  

Com quase 270 anos de fundação, a Lanson se mantém moderna e preocupada com sustentabilidade. Pelo menos 16 hectares já tem uma produção biológica e biodinâmica e foi a 1ª a propor um cuvée 100% biológico (ou orgânico), o Le Green Label Bio. O enólogo atual é o Hervé Dantan, que lidera a adega desde 2013 e mantém a filosofia de leveza da Lanson, como foco no frescor da sua produção.  

O Lanson Black Label Brut Branco custa, em média, R$ 459,90. Ah, sobre a Peterlongo: a empresa brasileira já produzia espumantes pelo método Champenoise (ou tradicional) antes mesmo da região francesa se transformar em AOC. O direito ao uso do nome foi garantido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil, em 1974. Em tempo:  Após as geadas que atingiram as videiras francesas na primavera de 2021, agora é hora de lamentar as perdas na Alemanha — desta vez, por enchentes. Para além das vidas ceifadas pela tragédia ambiental, produtores de vinhos às margens do Reno e, especialmente em Ahrweiler, ainda não conseguem calcular os prejuízos em seus negócios. Instalações, adegas e seus estoques, máquinas, barris de vinho e vinhedos inteiros foram destruídos.  (Foto: Divulgação) Já chegaram ao Brasil os rótulos com o selo do Programa de Sustentabilidade Vinhos do Alentejo (foto abaixo).  Pelo menos 446 vinícolas, representando 41% da área alentejana plantada, já estão certificadas por suas práticas sustentáveis. Entre elas, a aplicação de técnicas naturais no solo, redução substancial do uso de pesticidas, auditorias de energia, gestão dos resíduos e economia de água, além da valorização, do engajamento e do cuidado com colaboradores e a comunidade. (Foto: Divulgação)