Por que mais baianas estão morando sozinhas? Entenda o nosso 'we can do it'

Para pesquisadora, comportamento é resultado de mudanças iniciadas nos anos 70

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  • Raquel Saraiva

Publicado em 27 de abril de 2018 às 05:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/CORREIO

Em um ano, 27,4 mil mulheres baianas passaram a morar sozinhas, segundo dados divulgados nesta quinta-feira (26) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O aumento de 7,7% tem explicação. O “we can do it” das baianas é resultado de uma mudança de comportamento iniciada nos anos 1970. “Esse fenômeno vem acontecendo nos grandes centros urbanos e é multifatorial. As regras sociais foram mudando e as mulheres vão optando por outras escolhas na vida”, diz a pesquisadora Darlane Andrade, do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim/Ufba).

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“Há influência da defesa da autonomia das mulheres e dos movimentos feministas. Tem também a questão do divórcio, que tem aumentado muito, e o casamento que antes era o sustento e agora não é mais o destino da mulher”, explica a pesquisadora, que estudou modos de vida de quem está e mora sozinho em Salvador.

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A importância da independência financeira se destaca nesse processo. A maior possibilidade de conseguir emprego e o Bolsa Família, cuja titularidade da conta é em nome da mulher, são fatores que possibilitam essa autonomia.“Esse estilo de vida tem custo alto. A independência financeira também proporciona o ‘morar só’. É isso o que falamos quando tratamos de empoderamento, é ter perspectiva de escolha”, diz a pesquisadora.É o famoso “Solteira sim, sozinha quando eu quiser!”. As novas tecnologias diminuem o sentimento de solidão, facilitando o contato a qualquer momento com os amigos e a família - mas também o sossego, quando desejado. “As mulheres diziam ‘fico sozinha quando quero, só desligo telefone’, é um isolamento voluntário”, destaca a pesquisadora. (CORREIO Infográficos) Darlane acrescenta que o fenômeno não é verificado apenas entre as classes alta e média. Muitas mulheres da periferia optam por morar só. "Elas fazem essa escolha de viverem sozinhas por terem mais oportunidade de estudo e trabalho, e para investirem neste campo da vida", destaca ela. 

A insegurança, entretanto, ainda é fator de grande preocupação para as mulheres que moram sozinhas - e isso se reflete até nos relacionamentos. “As mulheres relatam que, quando paqueram, não falam prontamente que moram sozinhas, com medo da violência. Isso reflete a vulnerabilidade”, diz. Ou seja, morar só é também enfrentar a violência.

*Com supervisão da editora Clarissa Pacheco