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Editorial
Publicado em 14 de outubro de 2018 às 05:00
- Atualizado há um ano
O Porto de Salvador já foi o maior do Atlântico Sul. Atualmente, ocupa a quinta posição no país. Uma história que começa em meados do século XVI com a movimentação de açúcar, pau-brasil, algodão, fumo, couro e aguardente, no Brasil colônia. No final de 1914, por lá já circulava um volume anual de cerca de 400 mil toneladas. Inicialmente subordinado ao governo federal, desde 1977, é administrado pela Companhia das Docas do Estado da Bahia(Codeba), a quem também estão vinculados os outros dois portos públicos baianos: o Porto de Aratu-Candeias (que tem papel essencial no suporte ao Centro Industrial de Aratu-Candeias e ao Polo Petroquímico de Camaçari) e o Porto de Ilhéus que, atualmente, movimenta soja, milho, amêndoas, óxido de magnésio, concentrado de níquel, peças industrializadas e carga geral, além de receber navios de turismo.
A Codeba opera em conjunto com mais oito empresas e organizações portuárias. Dentro da companhia, ainda há concessões. Uma configuração que funciona, mas precisa ganhar força com o fechamento de novas parcerias. Áreas ociosas dentro dos portos e questões tecnológicas a serem resolvidas nos afastaram, progressivamente, do protagonismo no transporte marítimo brasileiro. Uma situação reversível, já que não nos falta demanda e posicionamento estratégico dos nossos portos na malha de movimentação de cargas. Estes, em pleno funcionamento, serão, outra vez, importantes fomentadores da nossa economia. E o que nos falta para retomar a dianteira?
Um dos instrumentos é o PDZ aprovado pelo ministro dos Transportes, Portos e Aviação Civil, Valter Casimiro Silveira. Encaminhado pela Codeba, o Plano de Desenvolvimento e Zoneamento dos Portos de Salvador e Aratu-Candeias propõe um programa de ações para os próximos 20 anos, contemplando melhorias operacionais, de gestão e investimentos. Um marco legal que traz segurança jurídica, abrindo as portas para investidores. O objetivo é balizar decisões, identificando e viabilizando oportunidades de investimento. Novos arrendamentos, ampliação de calado operacional, expansão de áreas de armazenamento e modernização de equipamentos são algumas das ações que podem nos devolver o protagonismo na cadeia de movimentação de cargas. Mas não apenas isso. Para que nossos portos estejam competitivos na malha de transporte, a infraestrutura terrestre também precisa de melhoramentos, o acesso aos portos precisa estar resolvido, assim como facilitada a continuidade dos percursos de cargas. É preciso que o governo estadual pense nas redes ferroviárias e nas condições das estradas, por exemplo. E entender esse investimento como importante ação para fomento da nossa economia.
Nessa normatização da tríade União, Codeba e investidores, proposta pelo PDZ, o investimento financeiro que seria inviável para a Codeba vem do âmbito federal e de investidores privados. Estes, atraídos pelo amparo legal, novas condições, equipamentos, grandes áreas e situação geográfica privilegiada da qual nossos portos dispõem. Uma clara oportunidade de negócio rentável que, a depender de como seja conduzida, ajudará a levar a Bahia de volta à posição de grande porta de entrada do transporte marítimo. Para além da movimentação de cargas, vêm juntos a revitalização dos nossos portos, a fomentação de atividades turísticas, a humanização desses espaços que já são, em diversos países, polos de lazer e cultura. Com isso, além do negócio principal, abrem-se possibilidades para empresários de diversos portes. Portos também podem ser ambientes de convivência, atuando de forma positiva na saúde social das cidades que os abrigam.
Quando éramos o maior porto do Atlântico Sul, alguns produtos ganhavam nomes, ao desembarcar aqui. Os que vinham de Portugal eram chamados de “do reino”. Se a origem fosse a África, viravam “da costa”, se do Oriente, “da índia”. “Da terra” era como se batizava os produtos nacionais. O Brasil usa esses nomes até hoje. A vida ao redor dos portos está presente em nossa arte, fortemente representada na obra de Jorge Amado, por exemplo. Imagens, enredos e personagens riquíssimos nasceram em nossas zonas portuárias, manancial fértil de poesia. Portanto, não se trata exclusivamente de economia, lazer e turismo. Isso já seria da maior importância, mas devemos a revitalização dos nossos portos também a nossa história, ou à parte dela que acontece entre chegadas e partidas de navios.