Precisamos falar sobre cura gay, precisamos falar sobre Cat Person

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 18 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Em tempos de alta e preocupante temperatura conservadora, o livro e o filme Boy Erased: Uma Verdade Anulada são bem-vindos. Depois de ter sua estreia cancelada nos cinemas do Brasil, em janeiro, por questões mercadológicas, o drama protagonizado por Lucas Hedges, Nicole Kidman e Russell Crowe será lançado no país em DVD, em 17 de abril, com 40 minutos de material extra. No filme baseado no livro Boy Erased, o ator Lucas Hedges (direita) vive o jovem que é submetido ao procedimento de reversão sexual (Foto/Divulgação) Dirigido pelo ator australiano Joel Edgerton (Star Wars episódios II e III, The Great Gatsby), o filme é baseado no ótimo e homônimo livro de memórias do americano Garrard Conley, editado no Brasil pela Intrínseca (320 págs. | papel: R$ 49,90 | e-book: R$ 34,90), com tradução de Carolina Selvatici.

A história narra os terríveis momentos passados por Conley (Jared no filme, personagem interpretado por Lucas Hedges), um gay de 19 anos que passa a ser rejeitado pelos seus pais e seus amigos.

Filho de um influente pastor batista de uma pequena cidade do Arkansas, Conley viu seu segredo ser revelado cruelmente aos pais após ser violentado por um potencial amante e colega de faculdade.

O pai, então, lhe ofereceu duas opções nada fáceis:  participar de um programa de terapia baseado na religião para "reverter" sua homossexualidade, ou ser abandonado por todos, incluindo o Deus ao qual o jovem dedica orações todos os dias. O escritor americano Garrard Conley, 33 anos, conta a sua história pessoal no livro Boy Erased (Foto/Divulgação) Movido pelo sentimento de culpa, algo comum a muitos gays, Conley aceitou ser internado numa instituição que o submeteu a um programa de 12 passos para "curá-lo" dos impulsos "impuros" e, consequentemente, apagar uma parte do que ele é.

Mas, em vez de sair do brutal programa como um heterossexual, ele arranjou forças para abraçar a sua verdadeira identidade. Hoje, o autor é um ativista da causa LGBTQI+ e vive em Nova York com o marido.

Boy Erased: Uma Verdade Anulada figurou em várias listas americanas dos livros de não ficção mais importantes de 2016 e seduz não apenas pelo impacto da história, mas também pela sensibilidade com que Garrard Conley, 33 anos, fala sobre o amor e a sexualidade. "Quando o conheci, tive pensamentos impuros. Ele era atraente para mim. Tinha uma visão da masculinidade que eu desejava porque me fora negada na infância. Eu estava irritado comigo por gostar dele. Sabia que era errado. Sabia que tinha que pedir ajuda a Deus", escreve na página 266.

O autor também é produtor e criador do podcast UnErased, que explora a história de reorientação sexual nos EUA. Atualmente,  a prática é legalizada em 41 estados e aproximadamente 77 mil jovens LGBTs americanos fazem a terapia. De boas intenções o inferno está cheio.

Veja o trailer do filme que será lançado diretamente em DVD no Brasil, em abril

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'CAT PERSON' VIRALIZOU E FEZ A FAMA DE KRISTEN ROUPENIAN, QUE LANÇA SEU 1º LIVRO

A escritora americana Kristen Roupenian, 38 anos, era  desconhecida até o dia 11 de dezembro de 2017, quando públicou Cat Person na New Yorker e o conto se tornou o texto de ficção mais acessado do ano no site da importante revista americana. A americana Kristen Roupenian viralizou o conto Cat Person e assinou contrato de US$ 1 milhão para o livro (Foto/Divulgação) A história sobre uma jovem que conhece um homem mais velho e, após um primeiro e desastroso encontro, se questiona se deve ou não fazer sexo com ele, levou a autora a ter o seu primeiro livro disputado por muitas editoras.

Kristen fechou com uma editora inglesa por US$ 1 milhão e o livro Cat Person e Outros Contos foi lançado em janeiro nos EUA e chega ao Brasil pela Companhia das Letras (255 págs. | papel: R$ 44,90 | e-book: R$ 29,90).

Um dos 12 contos apresentados no livro, o conto viral é o melhor de todos e o seu grande sucesso se deve à habilidade de Kristen para refletir sobre suas vivências e ao apelo da história junto ao público feminino moderno. 

Milhares de mulheres em todo o mundo se identificaram com o tipo de relacionamento fugaz e indeciso entre a balconista de cinema Margot, 20 anos, e Robert, 34, que vai à bombonière comprar Red Vines e pipoca.  Apesar do fracasso do primeiro encontro, a ambígua Margot parece mais preocupada com o que Robert sente do que com o que ela quer fazer da situação.

Após ser rejeitado,  Robert, que era um cara atraente na relação virtual, mostra a sua face ruim ao chamar Margot de "puta" numa mensagem de texto. Antes disso,  ele era o exemplo de homem legal.

O nome do conto tem a ver com um detalhe: Margot, uma cat person (pessoas que têm e amam gatos), desconfia de que Robert inventou ter bichanos para conquistá-la, já que, embora os tivesse mencionado várias vezes, ela não viu nenhum gato na casa dele. É curioso observar que, em pleno Século 21, um conto explorando a vida sexual de uma mulher ainda cause polêmica. "Durante o sexo, ele a movimenta por uma série de posições com eficiência brusca, virando ela de lado, para lá e para cá, e ela se sente uma boneca novamente, como se sentiu na loja de conveniência, mas agora não um tipo especial — uma boneca feita de borracha, flexível e resiliente, uma figurante para o filme que estava passando na cabeça dele" , escreve a autora em um dos melhores trechos do conto, numa situação feminina de desconforto sexual.

Confirmada na 17ª Festa Literária Internacional de Paraty, em julho, Kristen Roupenian, porém, não repete a qualidade de Cat Person nos demais textos do livro. Ela precisa crescer como contista. E há quem diga que a escritora não merecia um contrato de US$ 1 milhão pelo primeiro livro. O tempo dirá.