Prefeitura coloca barreiras no Farol da Barra para controlar aglomeração na praia

Estrutura começará a funcionar a partir da sexta-feira (11), das 6h às 19h

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  • Marcela Vilar

Publicado em 9 de dezembro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Nara Gentil/CORREIO

Som alto, aglomeração, churrasquinho, roda de samba e gente sem máscara. Depois de tantas desobediências ao decreto municipal registradas no Farol da Barra, a prefeitura de Salvador resolveu acabar com a brincadeira de quem vai à praia para aglomerar. Agora, os banhistas terão acesso controlado à areia, através de dois portais que serão instalados pela Guarda Civil Municipal (GCM). 

A entrada será apenas pelo Barravento, perto do Cristo, ou pelo Farol. Os outros dois acessos serão interditados por tapumes e o monitoramento das passagens será feito de 6h às 19h pelas equipes da GCM. A estrutura começará a funcionar na próxima sexta-feira (11) e funcionarão da mesma maneira que o portal instalado no Porto da Barra, no dia 19 de novembro, no Forte de Santa Maria.

A decisão foi tomada em meio à segunda onda da covid-19 que atinge a Bahia e após a prefeitura perceber que muita gente migrou da praia do Porto da Barra para a do Farol. Pelas regras municipais, o Porto continua interditado às segunda-feiras.  “Muitas das pessoas que viam o pôr do sol no Porto da Barra migraram para o Farol, em virtude da praia do Porto estar interditada. A gente entendeu que era preciso fazer um controle maior para que ela ficasse segura para todos”, explicou o diretor da Guarda Municipal Municipal, Maurício Lima. 

O objetivo da instalação dos portais é também instruir os banhistas a cumprirem os protocolos sanitários, como o uso de máscara - só entra quem estiver usando a sua - e distanciamento de, pelo menos, 1,5 metro. Além disso, estará proibido levar sombreiro, cadeira, cooler ou isopor e qualquer equipamento sonoro, segundo o diretor. 

A princípio, não haverá limite de pessoas e as estruturas ficarão no local por, no mínimo, 15 dias, mas a probabilidade é de continuarem até o dia 31 de dezembro. “No momento, a gente acredita que a praia do Farol é a mais urgente, porque é verão e a gente sabe que aquele trecho da cidade vai ficar muito frequentado com o Natal e Réveillon”, argumentou Lima. Na noite da virada, o prefeito ACM Neto já anunciou que o calçadão do Farol da Barra será fechado, a fim de evitar aglomerações.  Banhistas não vão poder levar sombreiros para as praias pelas novas regras (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Essas intervenções físicas também já foram feitas nas praias de Boa Viagem e no Cantagalo durante a pandemia, mas foram retiradas. A Guarda Civil ainda estuda fechar outras praias que estão com maior registro de descumprimento de protocolos. De acordo com Lima, as que dão mais trabalho são a de Itapuã e Ribeira, principalmente aos finais de semana. A praia do Flamengo, Amaralina e Cantagalo também têm dado problema e a do Tubarão, que ficou um período interditada, e está hoje sob controle. Os horários de maior movimento são de 16h às 18h, de segunda à sexta, e de 15h às 18h aos sábados e domingos. 

Todas as praias de Salvador podem ser frequentadas, desde que de segunda à sábado. Aos domingos e feriados, nenhuma está liberada. Somente as praias do Porto da Barra, São Tomé de Paripe, Tubarão, Amaralina, Ribeira e Itapuã não podem ser frequentadas na segunda-feira, mas funcionam sem restrições de horário de terça a sábado. 

O maior apelo que a Guarda Civil Municipal faz aos soteropolitanos é usarem as máscaras quando estiverem na areia. “A gente percebe que onde a gente está fazendo o controle dos acesso, no Porto do Barra especificamente, a gente tem as pessoas só podem passar pelo portal usando a máscara, mas logo depois eles retiram. O pedido que elas façam o uso durante todo o momento que estiverem na areia, retire quando se dirigirem ao mar, mas reponha quando retornarem”, recomendou o diretor da GCM. Banhistas aglomerados e sem máscara também no Porto da Barra (Foto: Nara Gentil/CORREIO) Farol tem banhistas sem máscara e sem distanciamento

Depois das novas medidas restritivas anunciadas pela prefeitura, o CORREIO foi até o Farol da Barra, na tarde de terça-feira (8), para observar o movimento. Apesar de não estar lotada, quase nenhum banhista usava máscara ou fazia o distanciamento recomendado pela autoridades de saúde. A maioria dos ambulantes, no entanto, usava máscara - mas nem todos a usavam corretamente. Por volta das 16h, se via alguns grupos dançando sem máscaras, próximo ao Barravento.

A cientista de informação Dalva Carvalho, 62 anos, mora do outro lado da rua da praia e decidiu não cair na água após ver a quantidade de pessoas na areia. “Não me molhei para não tirar a máscara. A praia está muito cheia, de lá do prédio eu vejo e fiquei assustada com a quantidade de gente. O pessoal que trabalha vendendo acarajé, o rapaz do queijinho e a maioria das pessoas que estão na areia estão sem máscara. Está todo mundo achando que na praia não tem corona. Estou achando um perigo”, contou Dalva, que foi à praia com a afilhada. 

O barraqueiro Erivaldo dos Santos, 41 anos, que trabalha no Farol desde que se entende por gente, relatou que máscara enquanto se está na areia é coisa rara por ali. “O pessoal vem de máscara, mas quando pisa na areia, já tira. As crianças nem se fala, porque toda hora tá na água”, contou Santos. Segundo ele, o horário mais movimentado é o da tarde, mais próximo ao Barravento. “Tem duas turmas, o pessoal que mora aqui perto, vem de manhã, umas 7h, e vai embora umas 11h. Aí chega outra turma 12h, que é a galera da muvuca e fica até de noite. Chega 17h, eu já começo a desarmar minha barraca, botei meu horário, porque, se deixar, eles querem ficar aqui até de noite”, narrou. 

Para a professora Joelma Silva, 48, as pessoas estão muito displicentes, motivo pelo qual ela deixou de tomar seu banho de mar. “O pessoal está muito negligente, porque ainda não é o momento de ter aglomeração. Eu vinha para tomar banho, mas resolvi não arriscar e só vim para passear e olhar a paisagem, andar um pouco. Mas acho que o pessoal tá muito despreocupado e a pandemia não passou. Os hospitais continuam cheios e as pessoas não estão levando a sério, mas a covid está aí ainda”, avaliou a professora, que curtia o último dia de férias em Salvador. Nascida em Barra do Rio Grande, interior da Bahia, ela mora há 19 anos na cidade de São Paulo, e veio visitar os familiares. 

No caso de Leide Santos, 36, o movimento foi fraco na venda de geladinhos. Era o primeiro dia que ela vendia no Farol da Barra, seguindo os passos da mãe, que vendia cachorro-quente na mesma praia. “Fiz uma porrada, uns 150, mas só consegui vender 14 reais. Geralmente, o movimento é maior a partir de quinta-feira. Hoje está fraco”, disse a vendedora, que está desempregada desde 2018. Em relação ao cumprimento dos protocolos, ela contou que não viu muita obediência. “Vejo muita negligência, as pessoas não estão usando máscara e não estão cumprindo o distanciamento. Fora isso, o pessoal está mais se divertindo”, comentou Leide. 

De acordo com o boletim epidemiológico divulgado nesta terça-feira, 08, pela Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab), dos 428.034 casos confirmados desde o início da pandemia na Bahia, 408.837 já são considerados recuperados e10.723 encontram-se ativos. São 8.474 mortes desde o início da pandemia em todo o estado, mais de 2,7 mil em Salvador.

Os bairros da capital com maior número de incidência da doença são Pernambués, com 3.725 casos, Pituba, com 3.142, e Brotas, com 2.681 infectados. Pelo último boletim da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab), a Bahia registrou 29 mortes e 3.330 novos casos de covid-19 nas últimas 24h, o que resulta em uma taxa de crescimento de +0,8%. Quem for surpreendido com temperatura acima de 37,5 na Lapa será encaminhado para atendimento (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) Monitoramento na Lapa

Depois do crescimento do número de casos, as câmeras de monitoramento de temperatura da Estação da Lapa ganharam reforço desde a segunda-feira (6). Quem estiver com temperatura acima de 37,5 será abordado pela equipe de saúde e direcionado para a unidade de atendimento mais próxima, no caso, a dos Barris. Segundo o secretário municipal de mobilidade, Fábio Mota, que também é o coordenador de ações de proteção à vida, os equipamentos passaram por um período de manutenção no final de novembro. 

“As câmeras nunca foram tiradas, nunca deixamos de fiscalizar. O que a gente fez foi reativar o monitoramento, com o aumento da quantidade de casos de covid, para fiscalizar a questão da colocação da máscara, como o próprio uso adequado da máscara”, comentou o secretário. Segundo Mota, são cerca de 400 mil pessoas que circulam na estação diariamente, que estão sendo monitoradas por uma equipe de 20 pessoas - entre profissionais de saúde e fiscais. Na segunda-feira, pelo menos 10 mil pessoas foram vistas usando a máscara incorretamente. 

O secretário ressaltou ainda que quem não estiver usando a proteção não pode usar o transporte público. Além disso, a equipe municipal tem distribuído 6 mil máscaras na estação diariamente, no horários de pico, entre 6h e 8h da manhã e 17h e 19h da noite. Nas próximas semanas, as ações serão feitas nas estações de Mussurunga, Pirajá e Acesso Norte. 

Novas restrições começam a valer amanhã 

A partir de amanhã, novas medidas restritivas começam a valer na capital baiana, conforme anunciou o prefeito ACM Neto, na segunda-feira (6). Os bares e restaurantes no Rio Vermelho e em Itapuã serão fechados de sexta a domingo a partir das 17h, por conta das aglomerações. Também foram suspensos teatro, cinema, casas de espetáculo, atividades  sociais em clubes em toda cidade. Só podem acontecer atividades recreativas e esportivas. As medidas têm validade de 15 dias. Depois desse período, serão reavaliadas.

O aumento de casos fez surgir ainda a necessidade de abertura de novos leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com covid-19. Até 20 de dezembro, serão abertos mais 40 leitos: 10 no Hospital Municipal, 10 no Hospital Salvador e 20 no Hospital Sagrada Família. O governo do estado também juntará esforços, com a abertura de 170 leitos de UTI na Bahia: 130 em Salvador - sendo 80 no Hospital Espanhol, 30 no Ernesto Simões Filho e 20 no Hospital Couto Maia. No interior, serão abertos 20 em Feira de Santana, 10 em Juazeiro e 10 em Porto Seguro. A capacidade de testagem do Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) aumentará para 6 mil testes por dia. 

Regras nas praias:Quais estão abertas?   Todas, de  segunda a sábado; exceto Porto da Barra, São Tomé de Paripe, Tubarão, Amaralina, Ribeira e Itapuã, que abrem de terça a sábado; 

Quando não abrem?  Domingos e feriados;

O que não pode levar?  Cadeiras de praia, sombreiros, cooler, isopor e caixas de som

Importante lembrar:  Use a máscara e respeite a distância de 1,5 metro de uma pessoa para a outra*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lobo