Presente de Iemanjá é 'aconchego de mãe' e pedido de paz

Dentro de uma concha, coberta de flores e feita de papel reciclado, a imagem da Rainha do Mar atraiu devotos

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  • Laura Fernades

Publicado em 2 de fevereiro de 2019 às 21:40

- Atualizado há um ano

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. por Foto: Marina Silva/CORREIO

“Lá vem o presente!”, apontou ansiosa uma senhora, enquanto os fogos de artifício anunciavam a chegada do cortejo com a oferenda para Iemanjá. Dentro de uma concha imponente, coberta de flores e feita de papel reciclado, a imagem da Rainha do Mar aparecia de braços abertos “para representar o aconchego de mãe”, justificou a ialorixá Mãe Jacira de Obaluaê, 66 anos, responsável pelo presente oferecido todos os anos pelos pescadores do Rio Vermelho.

“Esse aconchego é o que a gente está precisando nos dias de hoje, né?”, sorriu a mãe de santo. Além de agradecer, Mãe Jacira pediu à Rainha do Mar “que as pessoas procurassem o amor pelas outras, porque fé era uma coisa só” e intolerância não tinha espaço. “Precisamos parar com essas discórdias, porque parece birra de criança. Somos adultos capazes de resolver qualquer problema. Essa oferenda é uma mensagem de paz”, garantiu.

Carregada em um andor por um grupo de pessoas e figuras públicas, a exemplo do prefeito ACM Neto, a imagem de Iemanjá fez todo o burburinho do Rio Vermelho se calar por um segundo e imediatamente se transformar em aplausos e gritos de “Odoyá!”. “É um dia maravilhoso, estou aqui feliz como cidadão, como prefeito, vendo a cidade linda, cheia de gente. Esse sincretismo maravilhoso é a coisa mais típica da nossa fé”, elogiou ACM Neto. (Foto: Marina Silva/CORREIO) De mãe para filho Enquanto via o cortejo passar em direção ao mar, por volta das 17h, a contadora aposentada Maria de Lurdes, 70, não pregava os olhos ao lado da irmã, a arquivista aposentada Valquíria de Lurdes, 76. “A gente vem desde criança, quando mamãe e papai vinham com todos os filhos. Éramos dez”, justificou Maria, sorridente. “A gente aprende desde criança essa coisa dos ancestrais que passa de pai para filho”, completou Valquíria.

Orgulhosa de seguir os ensinamentos dos pais até hoje, “pensando na paz e na união das pessoas”, Valquíria disse que a fala de Mãe Jacira fazia todo sentido e que muitas discórdias lembravam mesmo “birra de criança”. Refletir sobre os erros, para ela, é o caminho. “Toda família não tem isso?”, sorriu.

Outro que frequenta a festa desde criança é o pequeno Hugo, 6 anos. “Eu vim para o 2 de Fevereiro quando estava grávida de nove meses e ele nasceu no dia 4”, contou orgulhosa a recepcionista Marlúcia Lima, 44, ao lado do filho. “Já é uma coisa de mãe para filho, sabe? Minha avó passou para minha mãe, que passou para mim e eu passei para ele”, contou.

Os dois estavam debaixo do sol quente, segurando um buquê de flores, mas sem perder o sorriso no rosto. Apesar do orgulho, Marlúcia estava triste por não contar com a presença da mãe este ano, que amputou o pé por causa da diabetes. “Com fé, ela vem ano que vem”, desejou, enquanto Hugo explicava o que ia pedir a Iemanjá: “Saúde pra vovó”.

Além de pedir ajuda para sua família, Marlúcia garantiu que ia expandir os desejos porque todo mundo estava precisando de um aconchego de mãe. “O pessoal está muito desunido. Tem gente até que tem o filho, mas joga no lixo. Como pode? Iemanjá tem um carinho de mãe que precisa ser espalhado, sabe?”, defendeu.

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