Presente de Natal? Já garanti o meu, dizem 47% dos consumidores

Entre os ‘autopresenteados’, as mulheres são a maioria

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  • Thais Borges

Publicado em 15 de dezembro de 2017 às 11:23

- Atualizado há um ano

Querida Maria Antônia, você foi uma boa pessoa em 2017. Foi uma boa filha, amiga, namorada. Ajudou velhinhos a atravessar a rua, não chegou atrasada ao trabalho nem uma vez e ainda participou do resgate de cãezinhos abandonados. Você merece este presente. Feliz Natal! Com amor, Maria Antônia. 

Não entendeu nada? Pois, Maria Antônia – essa moça que está presenteando a si mesma no Natal – representa muita gente. Muita gente que nem deve ter esse nome, mas que faz parte dos 47% dos consumidores brasileiros que vão se presentear nestas comemorações natalinas, de acordo com uma pesquisa do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e da Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL). 

Entre os ‘autopresenteados’, as mulheres são justamente a maioria – 53% dos entrevistados. Os participantes justificam a lembrancinha própria principalmente pela oportunidade de se presentear comprando coisas que precisam (46%, com aumento de 6,9 pontos percentuais em relação a 2016) e pelo sentimento de merecimento (39%). Em 2016, metade dos entrevistados disse ter comprado algo para si.  As mulheres são as que mais pretendem comprar presente para si (Foto: Evandro Veiga/Arquivo CORREIO) Muitos vão comprar presente para outras pessoas também, como explica a economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti. Ao todo, 63% vão comprar algum presente – seja para si, seja pata outros. Ela explica que, nessa época do ano, existem dois problemas: a sensação de estar um pouco mais rico, já que as pessoas recebem o 13º salário e alguns ainda recebem algum bônus, e o fato de estar impulsionado a consumir. 

“É importante lembrar que esse gasto não é só no Natal. Logo depois tem Réveillon, tem férias de janeiro, IPTU, IPVA, escola das crianças, seguro do carro... Então, o mais importante é se planejar para ver se essa sensação de dinheiro no bolso passa”, diz Marcela, em entrevista ao CORREIO, nesta sexta-feira (15). 

A pesquisa foi dividida em duas partes: na primeira fase, foram ouvidos 1.632 consumidores nas 27 capitais para identificar o percentual de quem pretendia ir às compras no Natal. A segunda etapa realizou 600 entrevistas, quando foi investigado o comportamento de consumo no Natal. A margem de erro é de no máximo 2,4 e 4,0 pontos percentuais, respectivamente.

Meu presente O comerciário Carlos Almeida, 54, disse que deve gastar, em média, R$ 2 mil com ele mesmo. "Eu preciso pensar em mim também. Esse ano sobrou um dinheirinho e como meu celular estava travando, decidi comprar outro. Além disso, eu quero estar com uma ‘beca’ nova no réveillon para receber bem o próximo ano", disse aos risos.

Se final de ano é sinônimo de presente, imagine quando se faz aniversário nesse período. A vendedora Fabiana Araújo, 33, 'uniu o útil ao agradável'. Ela completa 34 anos no dia 20 e, além de ganhar mimos e lembranças pelo seu dia, não vai deixar de presentear a si mesma. "Não tenho quem me presenteie e não posso ficar sem nada”, diz.

Mãe de uma criança de dois anos, ela diz que já gastou muito com o presente do menino, mas pretende comprar somente roupas para ela. “Eu trabalho tanto o ano inteiro, então eu mereço, né?", afirma Fabiana. 

Para alguns, comprar coisas para casa pode não ser presente para si mesmo, mas a cuidadora de idosos Ana Sena, 60, não pensa assim. Ela aproveitou o final do ano para comprar máquina de lavar, micro-ondas e as roupas. Segundo ela, o ato de se presentear já faz parte da sua rotina. “Tudo o que eu compro é pra mim. Se eu que vou usar, é meu. Agora mesmo vou comprar uma bolsa, mas depois pego mais coisas”, diz. Enquanto observava sua bolsa, demonstrava que se satisfaz ao comprar coisas para si. Questionada sobre os gastos com os presentes, ela garantiu “meu orçamento está todo controlado".  

Presente duplo E não vai ser um presente só, afinal, Natal é época de generosidade. Aqueles que vão se presentear estão planejando comprar duas lembrancinhas para si mesmos, com um ticket médio de R$ 155,84 cada. Ou seja, ao todo, cada um vai gastar, em média, R$ 332 consigo. Outros 46% ainda não decidiram quanto vão gastar.  

Não vai ser estranho, inclusive, se esse pessoal decidir gastar justamente com o look do Natal – aquele visual maravilhoso para receber as visitas na sala de casa. Isso porque os presentes preferidos de quem vai se presentear são justamente roupas (54%), calçados (34%) e perfumes e cosméticos (25%). Enquanto isso, parece que a maioria está dispensando o iPhone X debaixo da árvore: só depois – em quarto lugar, com 17% - é que vêm celulares e smartphones. 

Ao mesmo tempo, o ticket médio dos presentes com os outros é de R$ 461,91 – mas para uma média de quatro ou cinco presentes. “Proporcionalmente falando, as pessoas estão planejando mais para si. O total (individual) fica menor, mas a proporção não, tanto é que o gasto médio com os outros é de R$ 103,83. As pessoas são mais condescendentes com si do que com os outros”, afirma Marcela. 

No entanto, ela pondera que, quando se compra presentes para mais pessoas, há desde aquelas consideradas muito importantes – e com quem espera-se gastar mais – até aquelas lembrancinhas que vão, por exemplo, para o amigo secreto ou para a manicure que te atendeu durante todo o ano. Esses presentes entram na conta e, por vezes, acabam fazendo a média de gastos cair. 

Quando se fala no presente mais caro, 28,5% das mulheres, inclusive, dizem que será o do filho, enquanto apenas 14% dos homens dão a mesma resposta. Por outro lado, 38% eles afirmam que o presente mais caro será da esposa ou do marido, enquanto apenas 6% das mulheres vão gastar mais com o marido ou a esposa. 

Mais lembranças As pessoas que vão se presentear que acreditam que, além do próprio presente, vão receber outro mimo no Natal. Aproximadamente metade dos participantes da pesquisa afirmam que esperam receber algo de outra pessoa – desses, 24% dizem que é porque “muitas pessoas que gostam deles e querem agradá-los”. 

E não é que as roupas ocupam o primeiro lugar de novo? Pois, entre esses entrevistas que acreditam que vão receber lembrancinhas dos outros, as roupas ocupam o primeiro lugar no ranking dos desejos, com 50%. Logo em seguida, vêm calçados (36%), perfumes e cosméticos (35%), livros (25%) e celulares/smartphones (25%). Já outros 6% acham que não serão presenteados e 45% não sabem responder.

Entre os 25% que realmente não vão comprar nem uma caixa de chocolate para si mesmos, há motivos como a própria falta de costume ou não gostar de presentes (30%), não ter dinheiro (15%) ou ter outras prioridades de compra (15%). Os ‘sem dinheiro’ cresceram 5,7% em relação aos que apontaram essa justificativa no ano passado. 

A economista-chefe do SPC Brasil, Marcela Kawauti, porém, não recomenda nem esse extremo de não comprar nada – da mesma forma que não orienta os consumidores a passar da conta. “É gostoso a gente se presentear, porque a gente de fato merece. Todo mundo passou por um ano difícil, de crise, mas vale lembrar que a economia está só começando a se recuperar. Não dá para sair gastando como se não tivesse amanhã, mas se não comprar nada também, a vida fica muito chata. É bom comprar dentro do que pode, dentro das possibilidades”. 

Em nota, o educador financeiro do SPC Brasil e do portal Meu Bolso Feliz, José Vignoli, também reforçou a importância de não ceder a compras impulsivas ou fora da realidade financeira. “Por causa de um ato impensado de consumo, muitas pessoas passam vários meses pagando despesas para as quais não estavam preparadas. O mais recomendável é sempre fazer um planejamento e definir o quanto pode gastar”, aconselha Vignoli.

Dicas do educador financeiro Edisio Freire para controlar os gastos no fim de ano

1 - Fazer pesquisas para identificar os melhores preços e os mais acessíveis;

2 - Avaliar o que de fato a pessoa precisa comprar; Ter cuidado para não comprar e se arrepender;

3- Ficar atento às falsas promoções;

4 - Tentar comprar o que deseja fora do momento de euforia do comércio; Esperar passar o natal;

5 - Tentar não gastar o dinheiro todo com bens de consumo; Guardar para as despesas do início do ano;

6- Evitar fazer compras acima do orçamento e não usar o argumento de passar no cartão, pra não gerar endividamento;

7 - Estabeleça uma meta para o gasto com esses tipos de produtos. Ex.:Vou gastar 30% do salário com o Natal, pois assim evita que gaste o dinheiro com uma coisa só.

*Colaborou Caio Issa, integrante da 12ª turma do programa Correio de Futuro