Presepada: a invenção do 'acarajé à francesa'

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Publicado em 22 de março de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Praia do SESC, conhecida como Praia dos Brotos, em 1985 por Foto: Arquivo CORREIO

O acarajé cortado no prato já é quase um clássico soteropolitano, com o devido perdão ao baiano raiz - que gosta mesmo é de se lambuzar no dendê enquanto come o acarajé no papel. Mas, de fato, a iguaria no prato já não é novidade, nem raridade nos tabuleiros de Salvador. Novidade mesmo foi o apelido que os banhistas deram em 1985 a uma 'versão' do bolinho: 'acarajé à francesa'. O negócio era tão inusitado que o repórter do CORREIO, quando escreveu sobre a nova moda na praia do SESC, não se fez de rogado e deu nome ao negócio: 'presepada'.

Tava coberto de razão. Afinal, o acarajé tradicional era para ser comido com pimenta. Esse negócio de misturar com vatapá não era comum. Mesmo assim, fazia anos que alguns lugares já vendiam a iguaria no prato com vatapá, salada e camarão seco. Como a praia do SESC já andava querendo ultrapassar o Porto da Barra no quesito lançamento de moda, não deu outra. O povo já chegava nas barracas pedindo o tal do acarajé à francesa.

Consultei Mariele Marchand, baiana de mão cheia que vende acarajé e outros pratos da culinária da Bahia em Paris há alguns anos, e ela até tenta: só vende o acarajé no papel, embora a clientela sempre peça uma ajudinha. "Eles pedem talheres, alguns me pedem prato e, principalmente, tiram a casca do camarão. Eles não sabem muito como proceder, não!", brinca.

Há 35 anos, o dono da concorrida Barra do Guinha, Adilson Mendes da Silva, disse ao CORREIO que não se importava em servir o acarajé no prato, nem com os acompanhamentos."Temos clientes assíduos que já sentam na mesa pedindo o acarajé à francesa", disse, na época.[[galeria]]

Mas já havia clientes preocupados com a mistura:"Se continuar assim, vai ter até mostarda e ketchup no acarajé", queixou-se o bancário Gilberto Sampaio. Ele estava até tranquilo quanto ao prato, mas não engolia de jeito nenhum os acompanhamentos.A baiana de acarajé Aurelina de Jesus Fonseca também foi contra, na época. Como não tinha jeito, vendia: "Eles dizem que é assim que se come em São Paulo", contou.

A tal da moda virou foi regra. Se a tradição era comer o aracajé com pimenta, o que se vê hoje em boa parte dos tabuleiros é o acarajé com vatapá, salada e camarão - com ou sem pimenta, no prato ou no papel. Difícil é que os franceses saibam que esse é o tal do 'acarajé à francesa'.