Preso, motorista de aplicativo diz que foi ‘usado’ em assassinato de dentista no IAPI

Dois suspeitos seguem foragidos; trio costumava realizar roubos, diz polícia

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  • Tailane Muniz

Publicado em 5 de julho de 2019 às 18:59

- Atualizado há um ano

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Paulo é suspeito de matar dentista no IAPI (Foto: Alberto Maraux/SSP) Apontado pela polícia como um dos responsáveis pelo assassinato da dentista Rita de Cássia Guedes Fernandes, 59 anos, em uma tentativa de assalto no mês de junho, o motorista de aplicativo Paulo Souza Maia, 35, disse que foi “usado” para cometer o crime. 

Ele foi preso por agentes dos departamentos de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP) e de Polícia Metropolitana (Depom), na tarde desta sexta-feira (5), na Baixa do Tubo, localidade de Cosme de Farias, enquanto lavava o veículo utilizado no crime, um Volkswagen Fox, de cor prata, que está em nome da avó dele.

À polícia, o suspeito, que mora na região em que foi preso, informou que dois passageiros solicitaram uma corrida e cometeram o crime. Apresentado à imprensa horas depois da prisão, Paulo disse que buscou os “verdadeiros responsáveis” nos bairros de Cidade Nova e Paripe, no Subúrbio Ferroviário da capital.

Preso sob medida preventiva com validade de 30 dias, prorrogável por mais tempo, ele vai ser indiciado por latrocínio (roubo - ou a tentativa - seguido de morte). Diretor do DCCP, o delegado Élvio Brandão explicou que a versão de Paulo não condiz com a realidade.“Ele diz que é motorista de aplicativo, mas ele não é mais vinculado à plataforma. Atualmente, ele fazia corridas independentes e, aliado a isso, cometia roubos e estava envolvido em atividades criminosas”.O delegado comentou que os agentes envolvidos na investigação chegaram até Paulo por meio de uma pesquisa no banco de dados do Departamento de Trânsito (Detran), que revelou que o Fox, flagrado por imagens de câmeras da região, não se tratava de um veículo clonado.

"Logo que compreendemos que não se tratava de um crime de execução ou um homicídio, fizemos um trabalho na rua com agentes do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) e 2ª Delegacia (Lapinha), em busca de assaltantes na região. Além disso, usamos de tecnologia para melhorar as imagens das câmeras, o que permitiu chegar à identificação do carro", disse Élvio, ao comentar que chovia no momento da abordagem criminosa.

'Usado' Após chegar à titularidade do veículo, a polícia entrou em contato com a avó do suspeito que, de imediato, afirmou que o Fox era utilizado pelo neto, Paulo, que é pai de três filhos. 

Ao CORREIO, o suspeito negou ter participado do crime de forma voluntária. Ele disse que acreditava se tratar de uma "corrida normal, com passageiros normais". Prova disso, segundo afirma, é que aceitou o pagamento de R$ 80 ao final do trajeto, na Avenida San Martin, para onde Rita, mesmo ferida, conseguiu dirigir até bater o carro."Não fiz isso, tenho minha consciência limpa. Eu só dirigi e parei quando mandaram eu parar. Depois, um deles veio gritando, mandando eu arrastar, porque estava acontecendo um assalto. Assim, eu fiz. Não vi arma e nem ouvi tiros", narrou o preso, que afirmou à reportagem que não se apresentou à polícia por medo."Eu ia vir [até a delegacia], mas disseram que eu ia ficar preso por 30 anos, fiquei com medo", completou ele, que não tem advogado de defesa. O delegado desmentiu a versão do suspeito. "Tudo mentira. O tempo do trajeto que ele diz ter feito não bate com o momento em que a vítima foi morta, por volta de 16h45. A ligação do suposto passageiro teria acontecido ao meio-dia. O valor é exorbitante, se for considerar que ele afirma ter feito a estimativa pela plataforma. Temos provas testemunhais de que ele é um dos autores", disse Élvio. Os outros dois suspeitos já foram identificados, disse o delegado.

As testemunhas do crime também contam uma versão diferente da que Paulo afirma ser verdadeira. De acordo com a Polícia Civil, uma delas disse em depoimento que, após ouvir o disparo, o motorista de aplicativo chegou a arrastar o veículo na tentativa de fugir, depois que o atirador acertou Rita de Cássia. "A testemunha é clara quando diz que o homem atirou, guardou a arma na cintura e se dirigiu ao carro, que ele tentou arrastar quase frustrando a fuga do comparsa", destacou Élvio Brandão.

A corrida O delegado Adailton Adam, do DCCP, classificou as investigações do latrocínio como "um quebra-cabeça que ainda está sendo montado". As peças reunidas até o momento, segundo Adam, dão conta de que, quando avistaram Rita de Cássia, Paulo e os outros dois suspeitos estavam à procura de uma vítima.

"Buscavam por alguém. E ela, que optou por entrar naquela rua, uma rua fechada, com pouca movimentação, foi escolhida. Eles abordaram, ela tentou fugir e acabou, infelizmente, vítima desse crime bárbaro", comentou Adam. Os delegados disseram à imprensa que se surpreenderam com a "frieza" de Paulo, ao falar do momento do crime "como se nada tivesse acontecido".

Para a polícia, a dinâmica do trio se resume em avistar a vítima, abordar e roubar. No caso de Rita, que tentou fugir, as coisas saíram do que havia sido planejado. "Ela acelerou o carro e foi baleada neste momento. Uma pessoa dificilmente conseguiria sair daquele local ileso, porque é uma rua mais fechada (estreita)", revelou Élvio.

Que completou: "Não temos qualquer dúvida de que ele participou do crime. Tanto participou deste, como se preparava para cometer outro assalto neste final de semana". A arma do crime ainda não foi localizada.

'Família está desolada', diz esposa Prestes a completar um mês do caso, a família da dentista Rita de Cássia ainda não conseguiu retomar completamente a rotina. “A família está desolada porque Rita era uma pessoa que cuidava muito de todos. A família gravita em torno desse cuidado dela. A vida de ninguém conseguiu voltar ao normal”, afirmou Janaíra Barreiros, esposa da dentista em entrevista ao CORREIO nesta sexta-feira (5).  Rita de Cássia Guedes Fernandes tinha 59 anos (Foto: Acervo Pessoal) Janaíra conta que ainda não consegue compreender os motivos do crime. “Como é que uma pessoa atira em alguém, não leva nada, e simplesmente acaba assim com a vida de uma família?”, questiona ela. A esposa da dentista diz ainda que ver a justiça sendo feita não é, apenas, uma questão pessoal. Rita não vai voltar, mas a gente tem que evitar que outras pessoas passem pelo que a gente está passando. Só que a gente não tem o que fazer, não dá para fazer justiça com as próprias mãos, então precisamos do apoio da Justiça, da polícia, da Secretaria de Segurança Pública”, apela.

Os investigadores pediram para quem tiver informações sobre o caso entre em contato pelos telefones 3235-0000 e 190. O sigilo será garantido.

Rita de Cássia e o retrato falado do suspeito do crime (Foto: Divulgação/SSP)

O crime Rita de Cássia foi abordada por dois homens quando dirigia na Rua Professor Moura Bastos, próximo à localidade da Divineia, no IAPI, depois que deixou o ambulatório do Hospital Ana Nery, na Caixa D'água, onde trabalhava havia pouco mais de um ano.

Ela estava em baixa velocidade quando foi abordada pelos criminosos e, antes de fugir, foi baleada no peito. A dentista conseguiu dirigir até a Avenida San Martin, onde foi socorrida por uma viatura da 37ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM/Liberdade), que passava pelo local, para o Hospital Ernesto Simões, no Pau Miúdo, mas não resistiu aos ferimentos.