Preso suspeito de matar menina que saiu de casa para comprar pipoca

Garota foi encontrada morta em janeiro deste ano

Publicado em 27 de maio de 2019 às 11:32

- Atualizado há um ano

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Um homem suspeito de matar Maria Elaine Sobras Cortes, de 10 anos, foi preso na manhã desta segunda-feira (27). O corpo da estudante foi encontrado no dia 17 de janeiro deste ano em um terreno vizinho à casa da família dela, no bairro de Alto de Coutos, em Salvador. A menina havia sido vista pela última vez três dias antes, quando saiu de casa para comprar pipoca. 

De acordo com a Polícia Civil uma equipe da 3ª Delegacia de Homicídios (DH/BTS) cumpriu o mandado de prisão temporária. "Outras informações acerca dos desdobramentos da apuração não serão divulgadas, imediatamente, para não interferir no andamento do inquérito policial", informou a PC. Para a família, o assassino era alguém próximo.  (Foto: Reprodução) Maria Elaine era a filha do meio do pedreiro João Cortes, que tem outras duas crianças, de 2 e 12 anos. A garota foi assassinada e jogada nos fundos de um prédio - em local de difícil acesso -, com a blusa suspensa e o short na altura da virilha.

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Na segunda-feira, dia 14 de janeiro, Elaine estava sozinha em casa quando decidiu sair para comprar pipoca a poucos metros da sua residência, na Travessa 15 de Novembro, onde nasceu e foi criada.  Criança foi encontrada em terreno a 100 metros de casa (Foto: Reprodução) Alguns indícios dão conta de que a menina não pretendia demorar: deixou a TV da sala ligada em um canal de desenho, a porta aberta, e sequer calçou os seus chinelinhos preferidos da Hello Kitty. Trancou apenas o cadeado do portão, por volta de 15h - horário estimado por parentes.

O plano de retorno foi tirado dela. Assim como o direito de crescer, estudar e ir à praia, o último programa que fez com a família. Alguém que conhecia a rotina dos Cortes é o responsável pela barbárie cometida à garota, acredita o pai. "Queria saber onde está o coração dessa pessoa, será que ele deita e dorme? É alguém aqui do bairro, é daqui da rua. É alguém muito próximo a mim. Eu acho que cometeram um estupro e deixaram ela lá, por ser alguém conhecido da nossa família", disse o pai da vítima ao CORREIO dias após o crime. O CORREIO esteve no lugar onde o corpo de Elaine foi encontrado. Para chegar, a equipe contou com a ajuda da balconista Marta Rúbia Santos, 39, quem encontrou o cadáver da criança, e permitiu o acesso por sua casa. 

O terreno, um pequeno espaço localizado na parte inferior de uma das casas, em uma ribanceira cercada de mato, é uma área comum aos fundos de todas as casas do lado direito da rua."Não entendo como trouxeram ela pra cá. Eu tinha tanta esperança, toda a comunidade, de encontrar ela viva. Foi horrível. Eu achei que era um rato morto, comecei a procurar, quando olhei direito, vi uma perna humana", relatou Mara, acrescentando que o '"cheiro muito forte" começou a ser observado na terça-feira (15). Nesse dia, a balconista precisou queimar palha para espantar o odor. Logo que o corpo foi encontrado, os moradores entraram em contato com o Departamento de Polícia Técnica (DPT). Os peritos precisaram quebrar parte do vão em que estava a garota, já que o corpo inchou e já não pôde ser retirado pelo mesmo espaço em que foi colocado. Local onde corpo de Elaine foi achado: embaixo de vão de uma casa na rua em que família mora (Foto: Almiro Lopes/ ARQUIVO CORREIO) Mais um funeral Sentado sobre a escada de casa, cercado de vizinhos e amigos, João disse que a família vive mais um "episódio de horror". Há cerca de dois anos ele enterrou a sua esposa à epoca, Maria Quitéria Sobral, mãe de Maria Elaine e dos outros dois filhos.

Quitéria, que era dona de casa, morreu aos 45 anos, em decorrência de problemas cardíacos, além de diabetes e hipertensão. Desde então, o pedreiro criava as três crianças na casa de dois andares, parcialmente rebocada, no bairro de Coutos. 

Além do sofrimento pela morte da esposa, João precisou lidar com o fato de que a filha recém-nascida havia sido diagnosticada com uma espécie de cisto no cérebro.  

Com a ajuda de famíliares, criava os filhos, trabalhava, e dava toda atenção às crias, garantiu o presidente da Associação dos Moradores 31 de Dezembro, vizinho e amigo da família, Domingos da Silva Filho, 53. "Desde que Maria morreu, ele se dedicou totalmente aos meninos. Sempre foi um pai amoroso, cuidadoso com todos. Ele é um homem bom, que sofreu muito nesses dias de busca pela menina. Elaine era muito bem cuidada, a gente fica se perguntando o porquê", afirmou à reportagem, em prantos. Emocionado, Domingos disse que não consegue entender como alguém que possivelmente conhecia a família da vítima "pôde cometer um crime tão cruel".

O último dia Ao CORREIO, João contou que a filha costumava ficar sozinha em casa sempre que a madrasta saía para acompanhar a irmã de 2 anos até o Hospital do Subúrbio, onde está internada desde dezembro.

Já o filho de 12 anos habitualmente era levado pelo pedreiro para o trabalho.

"Na segunda-feira, saímos de casa mais ou menos às 6h. Deixei minha mulher no hospital e segui pro trabalho com meu filho. Sempre falava pra ela não abrir a porta pra ninguém. A chave, deixava à disposição dela, porque não podia trancar. O pesadelo começou quando chegamos, às 18h, e eu vi o cadeado fechado", recordou.

Quando subiu, notou que a porta da casa, porém, estava aberta, a TV ligada e o chinelo de Elaine. Pensou, a princípio, que estivesse na casa de 'tio Paulo', mas não."Quando vi que ela não estava lá e em lugar nenhum, comecei a movimentar todo mundo. A comunidade inteira me ajudou, nos unimos e procuramos em tudo, mas não encontramos mais. Eu sempre acreditei que ela estivesse viva, até o último momento", lamentou o pai da vítima, que disse que quer justiça.Abalada, a madrasta da criança, a dona de casa Josenildes Brasilino, 37, falou que foi "bem recebida" por Elaine, com quem convivia há pelo menos sete meses, desde que foi morar com João.

"Graças a Deus, ela gostava de mim e eu dela. Onde eu ia, ela queria ir. Me chamava de mãe, e eu tratava como filha. Assim como eu trato os outros dois filhos dele. Eu passava mais tempo no hospital, com a menorzinha, por causa do problema na cabeça, mas eu e Elaine nos gostávamos muito".

Mãe de um jovem de 18 anos, a madrasta da menina comentou que "sofre a dor do marido"."Não deve ter nada pior na vida. Ela era só uma menina, que nunca fez mal a ninguém, que tinha uma vida pela frente, era uma menina feliz", descreveu.De férias, Maria Elaine estava ansiosa para iniciar o ano letivo, onde cursaria o 5° ano do ensino fundamental. Em vários momentos, o pedreiro comentou, com orgulho, o fato da filha ter passado de ano.

Assim como a família, a criança era evangélica. Gostava de ir à praia, mas também se divertia em casa assistindo TV e ouvindo louvores evangélicos. No dia em que sumiu, segundo uma vizinha, passou parte da manhã cantando músicas religiosas.

O corpo da garota foi enterrado no Cemitério Municipal de Plataforma, para que "descanse perto da mãe".