Primeiro automóvel do Brasil foi atração no Carnaval de Salvador

Carro do engenheiro Henrique Lanat fazia parte do desfile de corsos no Centro da cidade

Publicado em 13 de fevereiro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Lanat, em exposição no Museu de Ciência e Tecnologia, em Pituaçu, em 1988 (Foto: Oduvaldo da Silva/Arquivo CORREIO) O automóvel mais antigo do Brasil, um Clement Panhard & Levassor, chegou à Bahia no dia 2 de fevereiro de 1901, há 120 anos. Pertencia ao engenheiro e comerciante Henrique Lanat e também foi um personagem do Carnaval de Salvador. Sim, o carro era o personagem. O automóvel, que permanece conservado, inclusive, fazia parte dos desfiles pelas ruas do Centro da cidade no início do século passado.

Lanat era um entusiasta dos desfiles de corsos - carros enfeitados - e a arrumação do carro dele para a folia de cada ano era aguardada pelo público. Uma reportagem publicada pela Revista Bahia Ilustrada sobre o Carnaval de Salvador de 1919 fala um pouco sobre a fama do automóvel."Sempre que está ás portas da cidade do Salvador a alegria de Momo, uma curiosidade preconiza as sorprêsas das , e dos carros, os mascarados e as allegorias. E essa curiosidade é tanto maior quanto se pensa no que apresentará de novo o sr. Henrique Lanat, que costuma, nos carnavais bahianos, attrair para seu automóvel, como numa extraordinaria fascinação, as attençoes todas por suas orginalissimas excellencias*", diz um trecho.Outros jornais da época apontam que Lanat não só colocava o próprio carro na rua, como alugava automóveis para os desfiles. O dele, claro, costumava ser mais atrativo. Naquele ano, mesmo com o impacto da crise provocada pela Primeira Guerra, o comerciante colocou "um recamo de phantasia e de luzes, com um apparato singular, que deslumbrou*". Lanat e outros automóveis participavam dos desfiles de corsos no Carnaval de Salvador (Foto: Revista Bahia Ilustrada, 1919/Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional) Fora do Carnaval, o carro também atraía atenções. O historiador Daniel Rebouças conta que o dono, Henrique Lanat, circulava com o automóvel apenas pela região do Garcia."Ele importou um carro de um cavalo só, não subia ladeira nem nada. Ele rodava com o carro só no Garcia", conta.O modelo, com estrutura de madeira armada e um motor quase horizontal, de dois cilindros e já com volante, foi importado da França. É, possivelmente, o exemplar de número 475, fabricado em 1900, embora o modelo fosse de 1889.

Em 1949, quase 50 anos após ter chegado a Salvador, o veículo, apelidado de Lanat, participou de um desfile do IV Centenário de Salvador. Ainda hoje permanece na Bahia. Primeiro, ficou exposto no Museu de Ciência e Tecnologia, no Parque de Pituaçu, como mostrou reportagem do CORREIO em novembro de 1988. Ele estava lá ao lado de um ônibus espacial, o convés de um barco, as turbinas e um avião e uma locomotiva. O carro ficou em exposição no Museu de Ciência e Tecnologia, em Pituaçu; CORREIO mostrou em 1988 (Foto: Sonia/Arquivo CORREIO) Atualmente, faz parte do acervo do Museu da Misericórdia, que pertence à Santa Casa de Misericórdia. O carro foi doado pela família ao Museu em 2007 para atender a um desejo da viúva de Henrique Lanat, dona Maria Rosa, de que o carro nunca deixasse a Bahia.

Os netos do casal, vestidos com roupas em referência ao início do século passado, fizeram o último trajeto do carro, entre a Câmara de Vereadores e o Museu da Misericórdia, na cerimônia de doação.

*Grafia da época