Professores das universidades estaduais acusam governo de não dialogar

Servidores seguem acampados na Secretaria de Educação (SEC), no CAB

  • Foto do(a) author(a) Eduardo Dias
  • Eduardo Dias

Publicado em 5 de junho de 2019 às 16:05

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Estudantes e professores das universidades estaduais seguem acampados em barracas localizadas na área externa da Secretaria Estadual de Educação (SEC), em Salvador, desde a noite de terça-feira (4). Eles decidiram permanecer no local após serem impedidos de entrar no prédio, que está com grades e proteção policial. As instituições estão em greve desde o dia 9 de abril.

Em ação conjunta, representantes das quatro universidades do estado elaboraram uma contraproposta com as reivindicações da categoria. No entanto, na tentativa de protocolar os pedidos e negociar com o governo, os docentes disseram que foram barrados na entrada do prédio da SEC, onde pretendem permanecer acampados até uma resolução. Os banheiros do prédio também foram fechados, para impedir o uso por parte dos servidores.

De acordo com os acampados no local, apesar do anúncio do corte nos salários de aproximadamente 4 mil professores, inclusive os que estão em período de gestação, licença médica ou férias, o movimento grevista continuará em busca do diálogo e da negociação.

A diretora executiva da Associação dos Docentes da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Lílian Marinho, contou que a categoria reivindica que seja aberto um diálogo com o governador Rui Costa e com o secretário de educação Jerônimo Rodrigues, para tratar dos 25% de reposição das perdas.“Perguntaram o que a gente precisava para sair da greve, mas, quando trouxemos as reivindicações, fomos barrados na entrada e recebidos pela polícia de choque. Vamos permanecer aqui até que o governo nos receba. Precisamos dialogar com o governador, que já foi sindicalista e sabe muito bem que apelo é esse. A nossa intenção era de apenas protocolar o documento e sermos recebidos pelo secretário da Educação, o que não aconteceu”, explicou Lílian. Lilian é uma das acampadas no local (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) A diretora ressaltou a importância da participação dos estudantes nas reivindicações. No acampamento que começou na terça, segundo ela, havia cerca de 300 pessoas, entre professores e alunos, que estão se revezando. Nesta quarta, por exemplo, um ônibus levou um grupo de servidores de volta para Vitória da Conquista, no Sudoeste do estado, e deixou outro grupo no local.

“Nós temos um movimento estudantil extenso ao nosso lado. Esperamos que isso tudo termine o mais cedo possível. Não é aumento salarial, é reposição das perdas. Tivemos diminuição do nosso salário quando aumentou a alíquota da previdência de 12 para 14%. O professorado não aguenta mais. Isso se trata de uma inflexão, estamos mostrando a eles que nós cedemos, mas precisamos que o governo ceda também, para negociarmos”, revelou.

O professor de Licenciatura em Química da Uneb, Abraão Felix, 53 anos, alega que, desde o final da greve de 2015, o governo não senta para negociar as pautas com a categoria. “De 2015 para cá, sempre protocolamos pautas e, mais uma vez, o governador não sentou para negociar conosco. A posição do governo é que só conversaria com a gente quando encerrássemos a greve", disse. Abraão alega que descaso do governo (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Ele acusa ainda descaso com os professores, o que tem gerado incômodo. "Ficaram de mandar uma pessoa pegar o documento com a gente e ninguém veio. Diante disso, decidimos ocupar essa área até o momento que sentem conosco. Ele [Rui Costa] está repetindo 2015, só falta querer botar a polícia para negociar com a gente”, completou.

Todos os professores que aderiram à greve estão sem receber os salários. No caso da Uneb, os servidores conseguiram uma liminar na justiça para garantir o pagamento, mas o governo recorreu com outra liminar para manter o corte. 

O professor de Filosofia da Universidade Estadual de Santa Cruz (Uesc), José Luiz de França, 59, destaca três principais pontos reivindicados pelos servidores: mais orçamento para as universidades, reajuste salarial, que há quatro anos não acompanha a inflação, além da garantia de retorno dos direitos que foram retirados.

“Estamos tentando negociar há mais de três anos. Entramos em greve porque as negociações não aconteceram. Mesmo com muitas reuniões, não chegávamos a um termo para resolver a pauta. O resultado da reunião com a liderança do governo que vai definir se vamos permanecer acampados ou não. Queremos a devolução dos salários cortados e a revogação das faltas”, disse o professor.

Também presente no movimento, o estudante de Farmácia da Universidade Estadual de Feira de Santana (Uefs), Renan Oliveira, 25, revela que os estudantes estão em apoio conjunto aos professores. Segundo ele, as pautas estudantis são alinhadas com as dos docentes. 

“A gente reivindica 7% da receita liquida de impostos para o orçamento das universidades estaduais, 1% para a permanência e assistência estudantil, a reformulação do Programa Mais Futuro, e defendemos o fim do contingenciamento imediato, que vem sendo aplicado nas universidades nos últimos quatro anos, porque nos últimos dois anos foi contingenciado um total de R$ 110,5 das universidades baianas”, finalizou.

O CORREIO entrou em contato com a Secretaria de Educação, que não se manifestou até o momento. Professores se reuniram com o deputado Rosemberg Pinto (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Reunião Nesta manhã, uma reunião extraordinária foi convocada pelo líder do governo na Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), deputado Rosemberg Pinto (PT), para discutir os rumos da paralisação e futuras negociações com os servidores. Do lado de fora da sala estava o coordenador da Associação dos Docentes da Universidade Estadual de Feira de Santana (Adufs), professor de Zoologia Jucélio Dantas, que participou da reunião com as lideranças do governo e Secretaria de Relações Institucionais do Estado da Bahia (Serin), Cibele Carvalho. A primeira reunião durou mais de um hora e não houve avanço nas negociações.

“Além do que já estava sendo discutido com o movimento docente, o governo insiste num acordo para que a greve termine e, só assim, começariam a negociar realmente. Por um lado, eles dizem que não podem negociar em greve e, por outro, dizem que estão negociando. Não entendemos”, disse. Outra reunião está marcada para o período da tarde.

*Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier