Promotor e advogada são acusados de extorsão por empresária em Camaçari

Caso foi enviado ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)

Publicado em 22 de novembro de 2019 às 15:06

- Atualizado há um ano

O promotor de Justiça Everardo José Yunes Pinheiro, titular da 7ª Promotoria de Camaçari, está sendo investigado por corrupção passiva, concussão e lavagem de dinheiro. A denúncia foi levada à Justiça pela empresária Adriana Almeida da Anunciação da Cunha, que diz ter sido vítima de extorsão por parte dele e da sua esposa, a advogada Fernanda Manhete Marques.

Segundo Adriana, o promotor e a advogada pediram dinheiro para arquivar um inquérito contra ela. O documento foi registrado na 1ª Vara Criminal de Camaçari e foi enviado ao Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) pelo juiz Ricardo Dias de Medeiros Netto.

Em seu depoimento, Adriana relatou que emitiu um cheque no valor de R$ 30 mil e depositou na conta de Everardo Yunes. O repasse foi feito, segundo Adriana, após uma reunião que ela teve com a esposa do promotor, que ocorreu em 2015. No encontro, a mulher teria pedido dinheiro para que o inquérito fosse encerrado. 

“Para minha surpresa, a Dra. Fernanda já chegou ao local com vários procedimentos em mãos que tramitavam no Ministério Público de Camaçari, e depois de algumas conversas, ofereceu serviços consistentes de arquivamento de todos os procedimentos que tramitavam no Ministério Público, afirmando de modo bem categórico que seu marido era o promotor criminal e que teria plenas condições de arquivar todos os procedimentos”, acusa o texto de Adriana. 

Ainda em depoimento, Adriana disse que depôs na justiça em um processo que está envolvida por causa da imobiliária que administra. "Depois da audiência, vi que não disse tudo que deveria dizer. Pelo nervoso, acabei esquecendo de fatos importantes, que faço aqui”, relata no documento.

“Tenho medo, temo pela minha vida e da minha família, mas não posso ficar calada”, narra outro trecho da denúncia encaminhada ao CNMP. 

A empresária foi presa em casa, após o cumprimento de mandado de busca e apreensão no local. Ela alega que a prisão ocorreu após ela se negar a fazer novos pagamentos para a advogada e seu marido.

O CORREIO localizou pelo menos oito processos criminais em que a empresária é ré. Não foi possível, contudo, determinar a razão pela qual ela foi detida. Na ocasião da prisão, Fernanda chegou a ser procurada para defender Adriana, e teria respondido “que não poderia fazer nada”.

No final do texto da denúncia relata, ainda, que o cheque emitido por Adriana teria sido compensado na conta do promotor Edvardo Yunes. A empresária pede a investigação do caso.

Na decisão, como há suspeita de corrupção passiva, concussão e lavagem de dinheiro pelo promotor, o juiz pede que o CNMP seja acionado e tome as medidas cabíveis. Solicita ainda que o banco utilizado para a transação envie cópia do cheque para comprovar a transação. O magistrado também pede que o caso seja levado à Procuradoria Geral de Justiça.

O CORREIO procurou o promotor por meio de suas redes sociais mas não obteve retorno. Também fez tentativas de contato telefônico com os números registrados no Cadastro Nacional de Advogados, também sem sucesso.

Em uma rede social, Everardo escreveu a seguinte declaração: "Já estou sabendo que querem macular a minha imagem criando, novamente, histórias falsas e armações sobre fatos antigos que nada têm a ver com minha atuação profissional. Velha estratégia de corrupção. Essa luta é árdua e perigosa, mas com força vamos continuar em frente", escreveu.

Em nota, o Ministério Público da Bahia (MP-BA) disse que teve conhecimento da denúncia por meio da imprensa nesta quinta-feira (21). “As informações serão imediatamente apuradas nos âmbitos da Corregedoria-Geral do Ministério Público e da Procuradoria-Geral de Justiça da Bahia. A instituição reafirma que não coaduna com qualquer prática ilegal de quem quer que seja e que, portanto, a apuração para esclarecimento dos fatos será absolutamente criteriosa e célere”, diz a nota. O MP finaliza dizendo que colaborará com a investigação do Conselho Nacional do Ministério Público, para onde a denúncia foi encaminhada. 

Procurado, o CNMP disse que recebeu a denúncia e os documentos nesta quinta-feira. “A documentação será analisada pela Corregedoria Nacional do Ministério Público, que irá deliberar sobre a necessidade de serem tomadas eventuais providências. Não há prazo para a Corregedoria Nacional concluir essa análise”, diz a nota enviada ao CORREIO.

*Com informações do repórter Gabriel Amorim.