Protesto de rodoviários bloqueia trânsito por 7 horas na região do Iguatemi

Apenas uma das cinco faixas da Avenida ACM estava liberada

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  • Da Redação

Publicado em 26 de março de 2018 às 06:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Motoristas que precisaram circular pela Avenida Antônio Carlos Magalhães, na região do Iguatemi, em Salvador, na manhã desta segunda-feira (26) tiveram uma manhã complicada. Rodoviários do Subsistema de Transporte Especial Complementar (Stec) realizaram por sete horas um protesto no local. Desde às 6h, ocupavam quatro, das cinco faixas, no sentido Paralela. A manifestação só terminou perto de 13h.

A categoria reivindica a integração com o sistema de metrô e ônibus. Da frota de 291, pelo menos 250 micro-ônibus estão fora de circulação, segundo informações da Cooperativa dos Permissionários do Transporte Alternativo de Salvador, que promovem o ato, que teve reflexo em toda a cidade. Foto:Mauro Akin Nassor/CORREIO Os rodoviários do micro-ônibus 'amarelinho', como é conhecido o subsistema Stec, seguravam faixas alertando sobre o risco de desemprego fora do sistema de integração. Os manifestantes espalharam objetos na pista e queimaram pneus. Apenas uma faixa ficou liberada durante o ato.

Por conta da manifestação, o trânsito ficou parado na região do Iguatemi, com impactos na BR-324, no Acesso Norte e na Avenida Paralela. A Superintendência de Trânsito e Transporte de Salvador (Transalvador) e a Polícia Militar acompanharam a manifestação na região.

De acordo com a PM, cerca de 40 ônibus bloqueram parcialmente o trânsito. "No momento, o comandante da 35ª CIPM (Iguatemi), unidade responsável pelo policiamento, está no local negociando a retirada dos veículos da via", informou a corporação, por volta de 10h.

Desvios Para diminuir o engarrafamento, a Transalvador instalou desvios no trânsito de quem seguiria da Bonocô para Rótula do Abacaxi e Avenida Luís Eduardo Magalhães; e para quem se dirigia do Hiperposto para a Avenida Paulo VI. Foto: Bruno Wendel/CORREIO Conforme o presidente da Cooperativa dos Permissionários do Transporte Alternativo de Salvador (Coopstecs), Pedro Miranda, as negociações com o sindicato das empresas de ônibus acontecem há dois anos e sete meses. Ped ro disse que a categoria tem uma dívida que beira R$ 18 milhões com bancos, em função de investimentos.

"Eles fizeram uma série de exigências. Pediram novos ônibus, novos validadores eletrônicos. Investimos R$ 47 milhões, destes, ainda devemos R$ 17,8 milhões e nada. Nada de integração, nada de cumprir o que acordaram conosco. Ficou acertado que logo após do Carnaval, seria iniciada a integração com o metrô, que já teve o aval do governo", afirmou o representante da categoria. 

Ainda segundo Pedro Miranda, a quantidade de passageiros despenca diariamente. "Transportavamos uma média de 153 mil pessoas por mês, depois para 123 mil e, estamos, hoje, com o número de 90 mil mensais. Quer dizer, temos um prejuízo absoluto", conclui. 

As vias em frente ao Shopping da Bahia estão livres. Ônibus e carros passam por estas. A via de passagem para quem vem da Lucaia tinha três vias livres. Já quem saiu do Corpo de Bombeiros, sentido Paralela, achava apenas uma faixa livre.

Engarrafamento Os reflexos do engarrafamento chegaram até a Rua Silveira Martins no Cabula, onde o motorista de Uber Rafael Santos, 22 anos, foi buscar um passageiro e ficou parado no trânsito por  mais de uma hora. No local, além do engarrafamento, ainda chovia."É complicado. Tudo travado. A gente troca de marcha várias vezes e gasta mais combustível. E ainda está chovendo e corre o risco de o carro quebrar e alagar", diz Rafael que é motorista no aplicativo há um ano e cinco meses.Embora seja a favor da integração dos micro-ônibus, o carpinteiro Francisco Cunha, 50 anos, comenta que acabou prejudicado esta manhã. "Todo mundo tem direito de correr atrás de sua melhora, de seus direitos, claro. Mas não tem um modo de fazer isso sem que outros saiam prejudicados nunca?", indagou ele, que seguia para o trabalho próximo à Igreja Universal. Morador de Coutos, no Subúrbio Ferroviário, Francisco Cunha, 50, contou que saiu de casa às 4h40 e deveria estar no trabalho antes de 6h. "Olha a hora que estou chegando aqui (Iguatemi, 9h). Peguei um engarrafamento enorme, eles [rodoviários] chegaram bem cedo", conclui.

A aposentada Maria do Carmo Alves, 59, também se queixou da manhã de engarrafamento. "Eu deveria ter chegado aqui às 7h. Vim numa clínica pegar uma receita para meu marido, mas só cheguei 8h30. Por sorte, consegui, eles se compadeceram de mim", contou ela, que mora em Jardim Cajazeiras e saiu do bairro antes das 6h. "Eu sou totalmente contra esse tipo de paralisação. Um monte de gente na rua tentando chegar em um médico, em um trabalho e é impedido por esse tipo de ação irresponsável. Absurdo", desabafou.

Já a contadora Cássia Santos de Jesus, 36, defende a pauta da categoria paralisada. "Claro que eles têm que paralisar. O transporte deles são alvo fácil de assalto, por não ter integração, os bandidos sabem que lá eles vão encontrar mais dinheiro. É um público que paga mais dinheiro. Pra mim, seria uma ajuda e tanta se integrasse ao metrô. É uma opção a mais, é bom para todo mundo", afirma ela, que trabalha no Edifício Trade Center, na Avenida Tancredo Neves. Cássia, que mora em Vila de Abrantes, costuma sair de casa por volta de 6h, pegar o metrô e, da estação do Iguatemi, pegar outro ônibus até o prédio. "Mas tudo isso eu faço em um espaço de tempo bem curtinho. Hoje eu vou me atrasar, mas se é por uma boa causa, a gente entende. Infelizmente, é algo necessário, mesmo que muita gente não entenda".

Os quinze minutos que Cássia leva para ir da estação de metrô até o trabalho viraram mais de uma hora. Ela, que costuma chegar na empresa às 8h, desta vez chegou às 9h40. "Teve gente que chegou até depois de mim. A equipe só estava completa mesmo às 10h", disse a mulher, que é coordenadora do setor em que trabalha. 

Compreensiva, a gerente da empresa de Carmem abonou o atraso da equipe. Como ninguém havia sido avisado do protesto, não foi possível evitar o atraso. "Se eu soubesse, tinha ficado em casa para dormir mais um pouquinho e saía mais tarde", disse a contadora. 

O estudante Paulo Andrei Guedes, 25, também defende o protesto dos rodoviários. "O direito de um, é o direito de todos. Não é por isso que estamos lutando? Pela igualdade? Por que os ônibus da Integra são integrados e eles não? Não dá pra entender", comenta Fabrício, que mora em Sussuarana e está a caminho do curso no bairro de Pirajá. "Estou atrasado, sim, mas sem caos não tem mudança", completa

Para a dona de casa Carmem Magda Santos, 50, os transtornos poderiam ser maiores."A gente não pode nem reclamar, os ônibus estão passando, não estão cheios, nem nada. Pelo menos tiveram [rodoviários] a consciência de deixar algum espaço para nós passarmos. Acho que eles devem protestar, sim. São trabalhadores e eu acho muito justo. Acredito que seja bom para que a gente tenha mais opções, não entendo a dificuldade das pessoas entenderem isso", comenta ela, que veio ao Shopping da Bahia comprar ovos de Páscoa para os netos.Sem definição de valores Ao CORREIO, o assessor de relações no trabalho do Consórcio Integra, Jorge Castro, afirmou que a entidade está há quase um ano negociando com os rodoviários do transporte complementar. Para ele, o que está em discussão é um ‘movimento econômico’. 

“Eles querem que a gente bote na integração, mas não querem discutir valores reais. Estamos com um problema de definição com esses valores e, por trás disso, tem outras coisas. Tem gente com contrato vencido e a gente não sabe quais os passageiros que eles querem colocar (na integração)”, afirmou, por telefone. 

Segundo Castro, não existe acordo de como a integração será feita, nem de quanto seriam os valores repassados, nas tarifas, a cada uma das partes. Ele também diz que não sabe quantos passageiros seriam integrados aos ônibus convencionais.“Sem esses dados, não adianta conversar. Não posso aceitar que sejam integrados sem uma discussão econômica mais profunda. Eles estão pressionando e a gente quer fazer uma relação como negócio, mas não pode ser assim. Eles usam esse tipo de discussão para ver se cria um fato político”. Castro afirmou, ainda, que, há 15 dias, os representantes do transporte complementar abandonaram a mesa de negociações. Desde então, as discussões estão paradas e não há uma nova etapa prevista. Castro também não quis comentar a afirmação do presidente da Cooperativa dos Permissionários do Transporte Alternativo de Salvador, Pedro Miranda, de que a Integra teria feito exigências. “A gente não vai entrar nesse jogo se fez ou não fez (exigências). Não cabe a mim ficar discutindo”. 

Em nota, a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) informou que a integração já foi autorizada pela prefeitura desde o ano passado. Confira o posicionamento na íntegra:

A Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) esclarece que a integração entre os micro-ônibus das Cooperativas de Transporte Complementar (STEC) e os ônibus das Concessionárias do Sistema de Transporte Público por Ônibus (STCO) já foi liberada pela Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) desde setembro do ano passado. Com a liberação da Prefeitura, cabe somente aos Permissionários do  STEC e os Empresários do STCO,  um entendimento comercial para que seja realizado a integração entre os sistemas.

Procurada pelo CORREIO, a CCR Metrô Bahia afirmou que não vai se posicionar sobre o assunto.

Prefeitura anunciou que abrirá processo para investigar manifestação de micro-ônibus e a Transalvador informou que vai autuar os veículos que bloquearam trânsito na ACM. 

O prefeito ACM Neto confirmou que a integração já foi autorizada pela prefeitura. "Nós já autorizamos a integração. No entanto, eles não conseguiram chegar a um entendimento operacional com o metrô e com o sistema regular de transporte da nossa cidade. Nós sempre tivemos abertos ao diálogo, sobretudo Pedro, que é o presidente da associação, sabe disso. Se ele for justo vai trazer seu testemunho, mas não dialogo com esse tipo de protesto. Não aceito. Nós estamos desde cedo absolutamente revoltados como a forma utilizada para fazer o protesto, fechando e parando a cidade.

Neto cobrou uma ação da Polícia Militar. "Nós estamos desde cedo absolutamente revoltados como a forma utilizada para fazer o protesto, fechando e parando a cidade. Espero que a polícia comece a agir com rigor em casos como esse. porque não é admissível que a população pague o preço só porque os149 donos de transporte complementar decidiram parar a principal avenida de Salvador", disse.