Puerpério: o bebê está bem, mas e você?

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 24 de janeiro de 2020 às 05:00

- Atualizado há um ano

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Falta de libido, cansaço extremo, insatisfação com a própria imagem e performance...Essas são algumas das questões que nos interpelam no período pós-parto. Não é fácil para nenhuma de nós e que bom que passamos a falar sobre isso. Acredite que é normal se sentir péssima, mesmo diante da grande felicidade de ter um/a filho/a. Tanto é que tem cada vez profissionais trabalhando para que a gente passe por esse momento sem culpas e com o mínimo de sofrimento. É o caso de Cristina, Ticiana e Ana Cristina. Cristina Sá (@dra.cris.sa) é ginecologista e obstetra, especializada em ginecologia regenerativa, funcional e estética, terapia sexual e colposcopia.

Há alguma maneira de prevenir - ou pelo menos se preparar - para os desafios do pós-parto? Sim. Claro que a mulher pode se preparar para esse período através da leitura e da informação. Mas é claro que quando isso acontece a prática é diferente da teoria. O que realmente faz toda a diferença é uma rede de apoio compreensiva, que ajude de fato. E não aquela que venha para dar ordem ou pitacos para não fazer de uma forma ou de outra, como sempre tem uma tia, uma vizinha...

Um dos pontos "tensos" dessa fase é a cobrança de que a mulher volte a ter desejo sexual e muitas pessoas associam a alta dosagem de prolactina à inibição da libido. Esse olhar, muitas vezes, acaba por desestimular a amamentação que sabemos ser de extrema importância para mães e bebês. O que é mito e o que é real nesse tema e como contornar esse momento? De fato, a alta dosagem da prolactina acontece nessa fase do pós-parto para induzir a produção de leite. É sabido que o aumento dessa prolactina também reduz a libido. Nessa fase é real a mulher não ter libido, não  pensar ou ter vontade de fazer sexo. É fato que é um momento em que  o casal precisa conversar bastante sobre essas questões para que não fiquem dúvidas sobre o quanto essa mulher gosta do parceiro ou parceira e que é algo momentâneo, pois está muito envolvida com o bebê. Com a amamentação, além da prolactina existe também muita produção de ocitocina, que a deixa muito apaixonada pelo seu bebê e não sente, de fato, vontade de fazer sexo. Mas em uma relação bacana é sempre importante que se estimule momentos de intimidade entre o casal e que não necessariamente precise ter sexo com penetração. Qualquer momento de intimidade, seja um beijo na boca, uma masturbação ou um sexo oral, é considerado uma relação sexual e pode ser muito prazeroso para os dois.

Quando há um/a parceiro/a, de que maneira ele/a pode atuar no sentido de atenuar/minimizar as dificuldades de mulher recém parida? O parceiro ou a parceira pode atuar de forma a dar apoio, a não fazer cobranças, sejam elas sobre a volta do corpo físico ou à atividade sexual. O que o/a parceiro/a pode fazer é participar da rede de apoio que essa mulher precisa. Ela precisa de apoio para cuidar do bebê, ela precisa descansar, se alimentar bem, dormir para que consiga produzir leite e amamentar. Então, a rede de apoio é fundamental e um/a parceiro/a cúmplice nesse momento vai fazer toda a diferença. Ticiana Cabral (@draticianacabral) é ginecologista e obstetra especialista em vídeo-histeroscopia, modulação hormonal e ginecologia regenerativa funcional.

Em que medida podemos relacionar a depressão pós-parto às alterações hormonais do corpo feminino, nesse período? Os níveis dos hormônios estrogênio e progesterona sofrem uma queda radical algumas horas depois do parto, assim como os níveis de endorfina, substância que contribui com a sensação de alegria e conforto durante a gravidez.

Por que é tão importante, para algumas mulheres, voltar ao corpo que tinham antes de engravidar? Isso não gera ansiedade? Não seria psiquicamente mais saudável se acolhêssemos esse novo corpo?  Vivemos numa sociedade em que a aparência física é muito importante. Essa mulher precisa retornar para sua vida social e profissional o mais rápido e a exigência é enorme. Aceitar esse período seria mais saudável. Tentar encaixar hábitos saudáveis, como atividade física e alimentação equilibrada, ajudam no processo de voltar ao corpo anterior.

 O que a sua especialidade pode fazer por uma mulher no pós parto? Explicar essa fase. Orientar sobre as alterações do corpo, amamentação, contracepção. Preparar para a vida sexual: uso de hidratantes vaginais e tratamento com laser vaginal para melhorar a atrofia que decorre das alterações hormonais. Ana Cristina Batalha (@dratinabatalha) é ginecologista e obstetra especializada em medicina estética genital, laser e patologia do trato genital inferior e colposcopia. Vice-presidente da Associação Brasileira de Cosmetoginecologia (Abcgin).

A cobrança contemporânea do "retorno à normalidade" - física e de produtividade - pode agravar as dificuldades do puerpério? A cobrança não é só da sociedade, mas da própria paciente. As pacientes são aceitas enquanto estão grávidas, como na questão do peso, por exemplo. Mas acabou de parir, saiu da maternidade, tem que estar com o corpo igual ao da Cláudia Leitte, tem que estar magra, enxuta, seca e em forma. É difícil, principalmente pra quem tem uma genética que não ajude. A cobrança dessa paciente com ela mesma ao se olhar no espelho e perceber que as roupas não estão dando é muito grande e todo mundo espera que exista uma super mãe: que ela dê conta de acordar de madrugada, que ela dê conta de amamentar bem, que ela troque fraldas, dê banhos e esteja linda e maravilhosa ao acordar. Isso é uma cobrança tanto da sociedade em geral, como da própria mulher. Ela exige que esteja tudo ok, mas na prática, com o bebê novo, é praticamente impossível, o que gera uma ansiedade muito grande. Outra ansiedade que acontece muito é quando a mulher deixa pra engravidar um pouco mais tarde por conta do trabalho e está naquele pique grande, bem sucedida e tem que dar uma parada. Isso, às vezes, pira a cabeça da mulher, ela pode achar que está perdendo tempo e isso tudo acumulado ajuda a complicar um pouquinho mais a situação materna.

Entre casais formados por duas mulheres, quando ocorre de uma das duas passar por gestação e parto, o puerpério pode acontecer de forma diferente? Pergunto: o olhar mais compreensivo de uma outra mulher pode facilitar as coisas? Se sim, o que parceiros homens podem aprender com isso?  Em relação aos casais homoafetivos, o que eu vejo, na verdade, é que eles passam por uma luta muito grande pra conseguir essa gestação ou adoção, então os dois estão muito mais entregues para aquilo, independente se são dois homens ou duas mulheres. Tudo quando é mais difícil, a gente dá mais valor e recebe de braços abertos. Os homens, hoje, estão com uma cabeça melhor para ajudar, estão mais abertos a ajudar. Acho que a sociedade exige mais a participação deles. A diferença maior que eu vejo é em relação à luta de aceitação e não necessariamente a parte do sexo, de ser homem ou mulher. Os homens hoje estão bem melhores, apesar de que existem homens machistas, que acham que a função é somente feminina e a deles é trazer dinheiro para dentro de casa, a tendência é uma mudança para uma participação maior do homem. A mulher também exige mais essa participação.