Qual o valor de uma vida no futebol?

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  • Miro Palma

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

Dentro de campo, durante os 90 minutos das partidas, os jogadores são os protagonistas. Não importa o clube, não importa a liga ou mesmo a categoria: quando um jogo começa, eles são os personagens principais, os que controlam os olhares, a atenção, as torcidas e mesmo os insultos. É, também, através deles, que o mercado da bola movimenta cifras astronômicas. A habilidade de meninos e meninas, homens e mulheres, sustenta muita gente. Não só sustenta como enriquece. Muito mais pessoas do que conseguimos imaginar. Por essa característica tão essencial no esporte, é no mínimo paradoxal ver personagens tão importantes na dinâmica do futebol serem negligenciados com tanta facilidade.

Já são quase três anos desde o trágico acidente de avião que matou 71 pessoas, entre elas quase toda a delegação da Chapecoense que viajava à Colômbia para disputar a final da Copa Sul-Americana. Apenas seis pessoas sobreviveram: dois tripulantes, o jornalista Rafael Henzel – que faleceu após um infarto em março deste ano –, o lateral Alan Ruschel, o goleiro Jakson Follmann e o zagueiro Neto. 

Ontem, Neto esteve em uma audiência pública no Senado Federal em busca de elucidações, não só sobre as indenizações aos familiares das vítimas da tragédia, como sobre as punições para os responsáveis. “A impunidade dói mais que qualquer tragédia”, disse ele. Ainda assim, saiu de lá sem que seus esforços tivessem alcançado algum desfecho.  

Também sem desfecho há seis meses está a situação que envolve o incêndio que matou dez jogadores com idades entre 14 e 17 anos no alojamento do Flamengo. Veja, o alojamento que pegou fogo e matou uma dezena de meninos não tinha permissão da prefeitura para funcionar – no local era previsto para funcionar um estacionamento – e, ainda assim, o time carioca foi certificado pela CBF como clube formador de atletas em 2017, com validade de dois anos, o que garantiu o funcionamento do seu centro de treinamentos. Pois ninguém do Flamengo, nem da CBF, nem de nenhum órgão de fiscalização da prefeitura do Rio de Janeiro, absolutamente ninguém foi penalizado até então. 

Nesse meio ano, o clube fechou acordos de indenização com familiares de todos os sobreviventes da tragédia, incluindo os três jovens atletas que ficaram internados após o incêndio. O mesmo não pode ser dito das indenizações às famílias das vítimas fatais. Das dez famílias, apenas duas chegaram a acordos com o Flamengo, além do pai de um dos meninos. A mãe deste mesmo jovem, que é separada do pai, e outras sete famílias seguem lutando por um melhor acordo financeiro com o clube, que recentemente contratou nomes como Filipe Luís, Rafinha, Arrascaeta, Pablo Marí, o técnico português Jorge Jesus e até ontem seguia na disputa pelo italiano Balotelli.

Essas vidas perdidas não são descartáveis. Se eram valiosas aos times, torcedores, patrocinadores, confederações e afins enquanto carregavam um escudo no peito, deveriam valer ainda mais quando são levadas em circunstâncias que envolvem o futebol. E cabe a nós, torcedores – seja de que time for –, amantes do futebol, cidadãos, cobrarmos essa postura daqueles que possuem o poder de fazer algo concreto.

Miro Palma é subeditor de Esporte e escreve às sextas-feiras