Quando o futebol é um calo no pé

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Publicado em 5 de outubro de 2017 às 06:00

- Atualizado há um ano

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Um, dois, três, quatro e contando. Preto Casagrande não resistiu à máquina de moer que é o futebol brasileiro. A demissão foi justa? Não foi? Agora pouco importa. Fato é que entra ano, sai ano, e a discussão permanece a mesma, assim como os times continuam adotando as práticas ineficientes de sempre. A cada três meses, um novo treinador chega, motiva o grupo, sugere contratações, cria expectativa, perde dois ou três jogos e vai embora. E assim a roda vai girando, sem sair do lugar.

O ciclo do nasce-cresce-reproduz-e-morre se completa como na canção de Cássia Eller: “mudaram as estações, nada mudou”. Do lado de cá, torcida e imprensa comentam sobre a saída de Preto, o baixo desempenho (de exibição, não numérico) do Bahia nos nove jogos sob comando dele e apuram ou conjecturam a respeito do futuro técnico. Faz sentido, pois no cotidiano vivemos imersos na nossa microrrealidade. Do lado de lá, os dirigentes buscam reencontrar o rumo - perdido desde a saída de Guto Ferreira, no fim de maio.

De micro em micro, todo esse problema que o Bahia vive agora, a dois meses do fim do Campeonato Brasileiro, está inserido numa macrorrealidade prestes a completar três anos: o futebol é um calo no pé da diretoria tricolor. 

O resto é consequência que confirma a hipótese. Preto era inexperiente para o cargo e o momento do clube? Demais. Demitir o treinador só na noite de terça-feira sendo que o estopim da demissão (jogar mal de novo e empatar com o Coritiba) aconteceu no sábado é uma perda de tempo? Claro que sim. O diretor de futebol, Diego Cerri, é inexperiente na função? Sim, procede. Tais escolhas têm algo em comum: o futebol em segundo plano.

No argumento acima, não está inclusa a contratação de 66 jogadores em três anos, média de um time inteiro, com titulares e reservas, por temporada. O clube passa por dificuldades financeiras por causa de uma herança de dívidas do passado relacionadas a causas trabalhistas e questões patrimoniais, o que limita os investimentos no futebol. Mas também, com essa margem de erro tão grande no departamento, dinheiro nunca vai ser suficiente. Clubes com orçamento médio - caso do Bahia, Vitória, Sport, Coritiba – não podem se dar ao luxo de errar tanto assim. Aliás, empresa nenhuma pode. Mas, no futebol, o erro parece regra.

Preto vai embora em “boa” hora, em uma correção tardia do erro que foi cometido ao efetivá-lo porque, na época, a diretoria não encontrou um substituto para Jorginho e acabou dando um passo precipitado. Pela história que construiu como jogador e pelo empenho que demonstrou nos dois meses como técnico, torço para que ele se torne um bom treinador. Ainda não é, mas o caminho está aí para ser percorrido.

Só convém lembrar que o problema do Bahia vai além de Preto. A curto prazo, ok: o time está a um ponto da zona de rebaixamento e a questão precisa ser resolvida em 12 jogos, apenas dois meses. Chama o bombeiro, abaixa o preço do ingresso, apela ao amor incondicional do torcedor. Só não se pode esquecer que existirá vida daqui a três meses. E que o pensamento não pode ficar sempre só no micro.*Herbem Gramacho é editor do Esporte e escreve às quintas-feiras