Quase dois anos inativo, antigo prédio dos Correios na Pituba não encontra investidores 

Três leilões foram feitos para vender o imóvel, mas nenhuma proposta chegou à empresa até agora

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  • Marcela Vilar

Publicado em 13 de outubro de 2020 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Arrison Marinho/CORREIO

O prédio onde funcionava a agência dos Correios, na avenida Paulo VI, no bairro da Pituba, em Salvador, não conseguiu até hoje encontrar investidores para comprar o terreno. Já foram feitos três leilões - em fevereiro e maio de 2019 e em setembro de 2020 - para vender o imóvel mas nenhuma proposta sequer foi recebida pela empresa, que encerrou as atividades naquele prédio no dia 7 de novembro de 2018. 

A agência até abaixou o preço do lance mínimo de R$ 248 milhões para R$ 211,5 milhões, mas, mesmo assim, ninguém se interessou. O último leilão foi realizado no dia 17 de setembro deste ano. Um quarto processo licitatório deve ser aberto “em breve”, como informou os Correios, para tentar vender o patrimônio. O terreno tem mais de 35 mil metros de área, que abarcam 44 mil metros quadrados construídos e um edifício de 17 andares. 

Foram mais de 35 anos de prestação de serviço da agência no estabelecimento, inaugurado em 16 de julho de 1983, e cerca de 400 funcionários trabalhavam no local. Segundo a empresa, eles foram transferidos para outras unidades de Salvador. Enquanto isso, aquela área encontra-se inativa, subutilizada, e protegida por alguns seguranças que fazem ronda no perímetro, conforme informaram moradores e comerciantes do entorno. O CORREIO visitou o espaço, na manhã desta quarta-feira (7), e alguns cadeados trancavam os portões, bastante enferrujados. Na ocasião, não havia vigilantes em nenhuma das duas entradas, somente na porta do prédio principal. Nenhum dos funcionários quis falar com a reportagem.   “[O prédio] ficou aí abandonado, ninguém mais fala o que vai ser, se é shopping, condomínio… Agora só tem o pessoal que faz a segurança”, relatou Jeanelson Rodrigues, 35 anos, dono de uma banca de revista na Praça Marconi, em frente à antiga agência. “Para nós comerciantes está fazendo falta, a banca tinha uma clientela boa dos Correios, porque eles tinham um cartão que podiam fazer compra de revista”, contou Jean, que trabalha ali há 12 anos. Antigo prédio dos Correios, na Pituba, está há três leilões sem encontrar investidores. Crédito: Arrison Marinho/CORREIO O movimento também reduziu na barraca de salgados da praça. “A movimentação era maravilhosa, principalmente à tarde, na hora que os rapazes saíam para o descanso. Mas agora.. é uma pena, um patrimônio desse não era para estar fechado”, opinou o funcionário da barraca Alex Vieira, 35 anos. Consequentemente, o movimento de carros reduziu na região, como notou Lorival Silva, que trabalha guardando carros há 34 anos por ali: “Fez muita falta”. A advogada Luiza Maia, 58 anos, lamentou a inatividade do prédio. “Essa área é estupenda, é uma pena. Tomara que faça um complexo misto, escritório, ou aumente a área verde”, afirmou Maia. 

Dar outro uso ao espaço é justamente o que pensa o arquiteto e urbanista Luiz Antônio de Souza, presidente do Instituto de Arquitetos da Bahia (IAB). “Demolir 44 mil metros quadrados seria uma prova de insanidade completa. Aquele prédio nem sequer chegou ao tempo de vida útil que ele tem. Deveria haver uma operação de mudança de uso, e não ser reduzido apenas a uma operação financeira”, avaliou Souza. O arquiteto sugeriu ainda que universidade, escola e até um novo Centro de Convenções fosse instalado no espaço. 

O especialista discorda que os imóveis dos Correios devam ser vendidos e acha “curioso” a venda desses empreendimentos, que estão abaixo do preço, na avaliação dele. “Nada indica que numa situação econômica dessa vai aparecer alguma proposta. O que se chama de investidor, na verdade é a pessoa que está atrás de bolacha quebrada. Se conseguir vender, não vai ser pelo valor de mercado, será muito abaixo. No fundo, mais uma vez, a sociedade que vai ser lesada, porque o serviço está todo pulverizado”, conclui o presidente do IAB. 

Segundo a Secretaria Municipal da Fazeda (Sefaz), o metro quadrado da Avenida Paulo VI está avaliado em R$ 2.034,97. Ou seja, o terreno de 35 mil metros quadrados dos Correios está sendo vendido quase três vezes acima do valor de mercado. Pelos cálculos, o valor cobrado deveria ser o de R$ 71,223 milhões.

Contudo, para se fazer a avaliação de um imóvel, é preciso analisar também outros aspectos, como indicou o advogado especialista em direito imobiliário e perícia judicial e também vice-presidente do Conselho Regional de Corretores de Imóveis da Bahia (Creci-BA), Nilson Araújo. "Em um imóvel com essa característica da antiga sede dos Correios é imprescindivel a vistoria para verificação do estado de conservação, para levantamento da especificação que compõe o imóvel, vizinhança, garagens, elevadores... e esses detalhes só são perceptíveis na vistoria", pontuou Araújo. 

O arquiteto e historiador Francisco Sena afirmou que o prédio dos Correios não foi marcante para a arquitetura baiana, mas por centralizar os serviços públicos prestados pela agência. "Ele é um marco em termos de sede do órgão, mas do ponto de vista arquitetônico não. Ele é um prédio importante no contexto de serviço público", comentou o historiador. 

Não é o único prédio dos Correios que está à venda. Na Bahia, o terreno de Itaparica irá à venda e outros 100 imóveis de vários estados do país. Os editais para os leilões devem ser anunciados até o dia 31 de outubro. Segundo a empresa, esse Feirão de imóveis visa, “além da redução de gastos com a manutenção de prédios, ociosos e subutilizados, arrecadar recursos para investimento na própria empresa”.

No site dos Correios é possível conhecer os imóveis por fotos e vídeos, através dos links do terreno e do edifício, além de um vídeo com imagens aéreas. A expectativa é captar cerca de R$ 344 milhões com as alienações. A dúvida que fica é uma superestimativa feita pela empresa, já que o valor mínimo sugerido somente para o prédio da Pituba foi de R$ 211,5 milhões.

Esculturas furtadas de Mário Cravo Jr foram recuperadas pelo Ipac Nenhum dos entrevistados disse ter visto atos de vandalismo, depredação ou roubo dentro do edifício. Contudo, em janeiro de 2019, pedaços das esculturas de orixás construídas pelo artista Mário Cravo Jr, que decoravam a antiga sede dos Correios, foram furtadas. Ao todo, eram três esculturas em chapa de metal de Oxalá, Exu e Iemanjá e dez relevos de metal. O caso foi investigado pela Polícia Federal, mas não foram identificados os autores. Segundo a PF, o caso já foi arquivado pela Justiça Federal.

As estátuas não participaram de nenhum dos leilões dos Correios e foram doadas, em março de 2019, para Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac). O Ipac disse que as esculturas “sofreram a ação do tempo e atos de vandalismo, ainda sob a custódia da instituição doadora”. Elas foram transferidas para o Palacete das Artes, na Graça, e restauradas pelo Instituto. 

A escultura que representa o Oxalá, de maior porte, foi recuperada em volumetria e feito o tratamento das superfícies no material de suporte (diversas chapas de diferentes metais). Ela foi exibida ao público em um evento da Casa Cor Bahia, como planejado do processo de restauração. Monumento Mário Cravo Jr. recuperado pelo Ipac. Crédito: Fernando Baarbosa/Divulgação-Ipac Onde estão os serviços dos Correios agora? Atualmente, são mais de 450 agências de atendimento em funcionamento na Bahia. Em Salvador, o serviço está pulverizado em 30 unidades: Brotas, Cabula, Cajazeiras, Calçada, Comércio, Cidadela, Itapuã, Itinga, Mata Escura, Paripe, Rio Vermelho, São Caetano, Salvador Shopping, Shopping Paralela, Shopping da Bahia, Shopping Sumaré, TECA, Jardim Apipema, Campinas de Pirajá, Imbuí, Corredor da Vitória, Graça, Barra, Largo da Lapinha, Pituba, Patamares, Salvador Trade, entre outros. 

A empresa está à disposição pelos telefones 3003-0100 (capitais e regiões metropolitanas) e 0800 725 7282 (demais localidades)

*Sob orientação da subeditora Fernanda Varela