Que circuito novo é esse? Entenda a polêmica em torno da mudança na rota do Carnaval

Proposta de transferir festa da Barra-Ondina para trecho entre Boca do Rio e Piatã divide opiniões

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  • Da Redação

Publicado em 11 de junho de 2022 às 07:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

O título desta reportagem resume com precisão o sentimento que tomou conta da cidade após o prefeito Bruno Reis (União Brasil) anunciar a possibilidade de transferir o Carnaval da Barra e Ondina para o trecho da orla que vai do limite entre os bairros da Boca do Rio e Pituaçu à Piatã, já para a folia de 2023. A pergunta “que circuito é esse?” é feita quase em tom de paquera por quem se mostra simpático à ideia. Mas há aqueles para quem tal indagação vem recheada de antipatia diante da eventual mudança.

Nas duas áreas, moradores, iniciativa privada, ambulantes e foliões se dividem em opiniões contra e a favor sobre o novo local da festa. Para comerciantes e empresários da Barra, que abriga uma série dos maiores pontos turísticos da cidade, a eventual mudança não será nada positiva. “O que sustenta a cidade é a alta temporada, e o auge dela é o Carnaval. Quem traz dinheiro para cá é o turista.  Esse público é atraído também pelas belezas da Barra, e não tem beleza na Boca do Rio que se compare à daqui. Então, Salvador terá menor atratividade”, critica o proprietário da agência de turismo Tsot,  Mauricio Laukenickas.

Dois dias após o anúncio do prefeito, Laukenickas e outros 52 empresários do Circuito Dodô (Barra-Ondina) se juntaram para pensar formas de impedir uma provável mudança na folia. De imediato, lançaram um abaixo assinado e planejam realizar um protesto em frente ao Farol da Barra no próximo dia 19.  De acordo com eles, a extinção do Carnaval na região da forma como o conhecemos hoje acarretará prejuízos em série para as empresas do bairro e para a história da folia. 

Os argumentos da resistência são: queda de mais de 50% da receita anual, 70% dos empregos temporários a menos, devolução dos valores pagos por reservas feitas desde o começo do ano e antes da pandemia e diminuição da atratividade pela falta de pontos turísticos. Não é exatamente assim que pensa o grupo que, há tempos, sonha com a folia longe dali. No caso, a parcela mais mobilizada de quem mora no bairro.  Para esses, é um bom negócio que a festa fique separada do bairro por uma distância de aproximadamente 14 quilômetros.

Prós e contras

Para o presidente da Associação de Moradores da Barra (Amabarra), Watson Campos, a mudança é bem-vinda e esperada há cinco anos. O motivo, apontou, é o crescimento desordenado da festa, visto pelos mais de 200 moradores associados como prejudicial ao fluxo do bairro.  “Desde 2017 a associação vem alertando o Conselho Municipal do Carnaval de que o modelo de trios e camarotes estava crescendo desordenadamente, e os problemas também. A própria PM avisou que o bairro já está saturado e não comporta mais esse volume”, destaca Watson.  

No entanto, os membros da Amabarra aprovam a continuação da festa no circuito com o formato de bandas e fanfarras, sem camarotes nem trios elétricos.  Ficar com o que os moradores da Barra não querem anima as pessoas que ainda não viveram a experiência de sediar o Carnaval. Morador da Boca do Rio, Paulo César, de 31 anos, é folião e disse que adoraria aproveitar a festa perto de casa. “Eu entendo que seria um prejuízo para quem é da Barra, porque a tradição é forte, mas seria bom ter o gostinho de ir a pé para o circuito”, brinca. 

Os comerciantes acompanham o coro. É caso da rede de bares e restaurantes Boteco do Caranguejo, que tem unidade em Pituaçu. Segundo a assessoria da empresa, a mudança atrairia mais clientes para o estabelecimento, que já percebe alta durante a época da folia, mesmo fora do circuito. Contudo, nada indica que a mudança já esteja na ordem da realidade.

Em nota, a Secretaria Municipal de Turismo e Cultura ressaltou que a medida ainda está em fase de planejamento e elaboração do projeto. “Mas o intuito é oferecer um espaço público com mais conforto, beleza e sustentabilidade a uma das mais importantes áreas da capital baiana, no sentido de devolver a cidade aos cidadãos”, acrescentou. Pelo visto, vontade de mudar a prefeitura tem.

Prefeito diz que mudança é hipótese ‘concreta’

Ao comentar, na manhã de sexta-feira , a polêmica em torno da troca de circuitos, o prefeito Bruno Reis deixou claro que só vai analisar de forma mais aprofundada a proposta quando receber o projeto, a cargo de empresários do setor, e ele for submetido ao Conselho Municipal do Carnaval (Comcar). Por outro lado, antecipou, trata-se de  possibilidade concreta e real.

De acordo com Bruno Reis, a prefeitura iniciará uma obra no trecho de orla entre Pituaçu e Piatã, para criar um espaço semelhante ao da Barra. O trânsito da região, que atualmente acontece à beira mar, será transferido para o outro lado, margeando o Parque Metropolitano de Pituaçu, com vias nos dois sentidos. 

A intenção, emendou o prefeito, é criar na região um grande calçadão, que poderá substituir o circuito da Barra.  “O grande trecho de orla será o calçadão. Tomando conhecimento disso, o trade do Carnaval, em conversa com o Comcar, ficaram de elaborar um projeto. O Comcar aprovando, vão submeter à prefeitura, e aí nós vamos avaliar”, destacou.

O prefeito garantiu ainda que a prefeitura não tem nenhuma decisão sobre o assunto. “Mas é uma possibilidade concreta e real”, salientou Bruno Reis,  durante coletiva. De acordo com a nova proposta, trios e camarotes seriam transferidos para a nova região, enquanto na Barra permaneceriam as fanfarras e projeto como Fuzuê e Furdunço.  “Aí os benefícios são inúmeros, mas ao tomar essa decisão, e se ela for tomada, vamos justificar”, concluiu.

*Com a orientação da subchefe de reportagem Monique Lôbo