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Quem é que tranquiliza os corações? Tem certeza que é o Bahia?

Torcedores brincam com a canção, e ciência garante que futebol pode mesmo afetar a saúde

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  • Fernanda Varela

Publicado em 24 de agosto de 2021 às 07:16

 - Atualizado há um ano

. Crédito: Caíque Bouzas/Arquivo EC Bahia e Reprodução

"Quem é que tranquiliza os corações? É o Bahia". A famosa frase está nos versos da música Campeão dos Campeões, que ganhou vida na voz do grupo Novos Baianos. Quem lembra de jogos como o Ba-Vi de Raudinei e o jogo contra o Fast pela Série C 2007 diz que a afirmação é uma grande mentira, enquanto outros juram de pé junto que existem sentimentos bons que só o Esquadrão é capaz de despertar. Opiniões à parte, esse mistério tem até explicação da ciência.

Não é preciso ser torcedor fanático para saber que o futebol, em questão de segundos, pode levar uma pessoa ao êxtase ou acabar com a alegria por um fim de semana inteiro. Dos mais tranquilos aos mais adeptos da paixão visceral, todos são afetados quando o assunto é bola na rede.

"O nervosismo faz parte da rotina de qualquer torcedor, mas nesses últimos dois anos a relação ficou um pouco diferente por não estarmos na arquibancada. Eu já fiquei mais nervoso no passado, com o tempo a gente coloca as emoções no lugar, mas, quando o Bahia perde, o dia sempre fica mais difícil", conta o cantor Ricardo Chaves, que sempre marcava presença na arquibancada da Fonte Nova. Ricardo Chaves é do time dos mais tranquilos, mas admite que fica de cabeça quente quando o Bahia perde (Foto: Reprodução) Apaixonado por futebol e música, Ricardo brinca com os versos dos Novos Baianos. "Ultimamente, a coisa que o Bahia mais tem feito é deixar os corações intranquilos, não tem tranquilizado nada. Mas, na média histórica, digamos assim, o Bahia tranquiliza mais do que deixa o coração acelerado de forma negativa, angustiada", brinca.

Achar explicação para a paixão que envolve torcer para um time de futebol é tarefa difícil. Os torcedores entrevistados variaram a resposta entre presente de Deus, culpa da genética ou do destino. 

Uma delas é a jornalista Alana Cafezeiro, 33 anos. "Torcer pro Bahia é uma experiência única, porque é uma prova de amor. Você não torce por quem tem os melhores jogadores, o mais rico, o que mais tem possibilidade de ganhar troféu. Eu torço pro Bahia porque torço junto com meu pai, com meu avô, que já faleceu, mas era apaixonado pelo Bahia e fazia minha avó bordar o escudo dentro de blazer, na sunga, em tudo", diz.

Mas, afinal, a música dos Novos Baianos tem fundamento? Futebol é capaz de tranquilizar o coração de alguém? "Eu acho que vai ser a única vez na minha vida que eu vou falar que os Novos Baianos se equivocaram. É um time de raça e tradição, mas que não tranquiliza o coração de ninguém. Só me faz sentir fortes emoções e sempre ao extremo. Não tranquiliza, mas enche meu coração de amor, de saudade, de esperança, de orgulho", brinca Alana.

A torcedora, que hoje mora em Dublin, na Irlanda, tem sofrido para acompanhar os jogos do tricolor, já que na cidade europeia o fuso conta quatro horas a mais. "Eu passo a madrugada assistindo o jogo do Bahia, então é uma madrugada tensa. Passo o dia inteiro ansiosa e, no jogo, fico nervosa. Quando o Bahia ganha eu tenho uma noite muito tranquila e me sinto muito bem. Quando o Bahia perde, tenho uma semana ruim, um dia ruim, de verdade", compara.  Alana coleciona momentos de emoção e choro com a camisa tricolor (Foto: Acervo pessoal) Todo esse misto de sentimentos tem explicação. Segundo a psicóloga Juliana Correia, o futebol pode mesmo provocar emoções que alteram o humor. "Quando a gente investe nossa energia em torcer, entramos num campo muito vasto do sistema nervoso. É um ato que desencadeia muitas emoções. Quem tranquiliza os corações é o time da gente, quando está ganhando. Fora isso, a produção de cortisol, que é o hormônio do estresse, sobe muito ao fim do jogo, provocando reações no corpo. A partir disso nos percebemos mais nervosos, dormimos mal. O mesmo ocorre quando o time ganha, quando aumentamos os hormônios de sensação de bem-estar", explica.

O negócio é tão sério que ultrapassa as barreiras das sensações e pode causar sintomas físicos também. O cardiologista Eduardo Lisboa conta que, a depender do nível do estresse do torcedor durante o jogo, é possível acontecer taquicardia e aumento da pressão arterial.

"Isso ocorre por causa dos hormônios que têm ação no coração, que são o que chamamos de aminas vasoativas (noradrenalina, por exemplo). Por conta disso, podemos dizer que sim, o futebol pode tranquilizar corações, porque após um evento de estresse, entram os hormônios regulatórios para retornar o equilíbrio. Aí pode estar envolvido dopamina, endorfina, serotonina, que são os hormônios vinculados à sensação de prazer", explica o médico.

Eduardo conta que esse tipo de paixão é tão intensa para algumas pessoas, que já presenciou até um caso de um paciente que apresentava angina - dor forte no peito causada pela diminuição do fluxo de sangue no coração - ao assistir a partidas de futebol. "Tem gente que eventualmente vai parar até na emergência algumas vezes", pontua.

O cardiologista esclarece que há até nome para esse tipo de episódio. "Existe uma síndrome que simula o infarto, que é chamada de Takotsubo. É desencadeada justamente por um estresse grande, com descarga desses hormônios de forma acentuada", completa.

Tá puxado Seja do time dos mais racionais ou dos 100% coração, não tem ninguém com coração tranquilo por causa do Bahia neste momento. O tricolor tem feito campanha irregular no Campeonato Brasileiro. Em 17 jogos, fez o torcedor passar mais raiva do que comemorar.

O time deu uma trégua ao coração do torcedor no início do Brasileirão, quando chegou a frequentar o G6, zona de classificação para a Copa Libertadores. Mas o rendimento caiu e, agora, a campanha é de cinco vitórias, três empates e nove derrotas - algumas delas desastrosas, como as goleadas sofridas para o Flamengo (5x0) e Atlético Mineiro, e aí entra o debate se 3x0 é goleada.

Se contar com a Copa do Brasil, competição na qual o time foi eliminado nas oitavas de final pelo Atlético Mineiro, a equipe chegou a ficar cinco jogos seguidos sem balançar as redes e com 12 gols sofridos.

5 momentos em que o torcedor do Bahia precisou ter um coração forte: