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Quem será campeão da pandemia?


 

  • Paulo Leandro

Publicado em 16/12/2020 às 05:04:00
Atualizado em 21/04/2023 às 21:52:07
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Uma dúvida de poder simbólico também nos assalta: é glória ou vergonha ganhar o título do campeonato no qual tantos adoeceram, contribuindo para ampliar a pandemia e crescer a média diária de mortos? Quem será o campeão da covid-20?

Hoje, vamos verificar o contra-exemplo: jogam São Paulo, líder, contra o Atlético, segundo colocado. Com 50 pontos, o São Paulo pode desapegar-se do Atlético, com 46. Uma vitória elevará o tricolor aos 53 pra botar sete de distância no chato seguidor.

Entre os São Paulo x Atlético guardados na nostalgia, está o da final de 1971, em um triangular com o Botafogo do Rio; o Atlético do Rei Dadá levantou o primeiro caneco verdadeiramente nacional – antes, havia interessantes, mas breves torneios mata-mata.

Outro eternizado no museu de cada brasileiro, digno de ser nomeado com o mais elevado título da república – o de torcedor -, é a decisão de 1977, quando enfrentaram-se o futebol-força paulista, representado por Chicão, e a arte mineira de Reinaldo etc.

Talentoso meia atleticano, cujo time era muitas vezes superior a qualquer outro do país, Ângelo estava no chão quando foi pisado com vontade por Chicão, em cena de comoção nacional, até hoje lembrada como um dos gestos mais desleais do nosso fútil.

O Atlético tinha não sei quantos pontos (sei, sim, eram dez) de vantagem sobre a campanha do São Paulo, mas aqueles campeonatos deste tempo eram cheios de fase, repescagem, turno, e terminaram chegando iguais na finalíssima, São Paulo e Atlético.

No duelo, o Atlético saiu todo abraçadinho, depois de perder nos pênaltis. O Galo apostava na força ativa da arte, o São Paulo foi reativo e focou na energia supostamente milagrosa do santo construtor da igreja romana, embora sem piedade daqueles hereges.

Passaram-se os anos e a distribuição de alegrias segue refletindo o orçamento conforme ordem de grandeza capaz de virar um círculo escrôtico-ôntico, no qual quem ganha mais dinheiro fica mais forte e os menos aquinhonhados vivem ali no ioiô de subir e descer.

Campeonatozinho de pouca vergonha, feito para enriquecer espertos e transformar clubes em marionetes e vitrinas de sua mecânica do lucro: produziu, divulgou (mentiu), vendeu, distribuiu as pontas e o grosso da grana é do chefe. O que fizemos ao desporto!

Só dá problema quando um investidor entende ter recebido a menor a sua parte, aí é um tal de vazar conversa gravada em WhatsApp, forjar conteúdo falso para detratarem-se e tanta patifaria, cujo volume de tapetes para jogar o vômito por baixo seria montanhoso.

Os controladores podem decidir por empate ou derrota do São Paulo, caso façam suas apostas no Flamengo, com pontuação de 45 e chance de fazer terra no líder, caso vença o Bahia, domingo.

Lamento, Miriam, mas o Bahia não escapará do Flamengo: se não for na bola, será no apito; se não for no apito, será pelo VAR: o clube mais corajoso, ao associar sua marca a propostas cidadãs, errou, ideologicamente, no necessário cálculo prudencial.

Enquanto isso, o realmente importante eu não posso nem dizer nada porque a coluna é enviada à tarde e o jogo do Vitória foi ontem 21h30min. Não tenho razão para acreditar no Vitória, mas sinceramente espero termos aberto a caixinha da boa surpresa.

Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade.