Racional: a fase em que o doidão Tim Maia ficou careta e seguiu genial

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  • Hagamenon Brito

Publicado em 1 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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O grande Tim Maia partiu há 21 anos no dia 15 de março. Tinha 55 anos, mas segue vivíssimo como o Rei do Soul nacional. É difícil encontrar brasileiros que não saibam cantar alguns versos de clássicos como Azul da Cor do Mar, Não Vou Ficar, Você, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar) e Gostava Tanto de Você (de Edson Trindade). Tim Maia (1942-1998) convertido à seita Cultura Racional, quando abandonou as drogas e se vestia de branco: os três lendários álbuns dessa fase chegam às plataformas digitais (Foto/Arquivo Familiar) Como essa chama não apaga, uma ótima maneira de reverenciar a musicalidade genial do carioca Sebastião Rodrigues Maia, que temperou a black music americana com sotaque brasileiro, é ouvir os álbuns Racional Vol. 1 (1975), Racional Vol. 2 (1976) e Racional Vol. 3 (1976, mas lançado apenas em 2011 em uma coleção organizada pela Editora Abril).

Gravados numa fase em que Tim Maia se converteu a uma seita esdrúxula chamada Cultura Racional (criada pelo guru Manoel Jacintho Coelho), e abandonou as drogas e a carne vermelha, os dois primeiros e mais importantes álbuns foram relegados e retirados do mercado pelo próprio artista na década de 1970. 

Tornaram-se lendários com o passar do tempo e agora, junto com o Volume 3, chegam pela primeira vez aos serviços de streaming, graças ao empenho de Carmelo Maia, 44 anos, filho de Tim Maia e único representante legal do espólio do compositor.

"Fui obrigado a priorizar, organizar, digitalizar as masters e revisar os contratos, pois não existiam serviços de streaming na época do meu pai. Foi complicado revisar os contratos", conta Carmelo. Aliás, por questões legais, três canções da trilogia ficaram de fora das edições digitais: O Caminho do Bem (Vol. 2), Cultura Racional (Vol. 2) e Lendo o Livro (Vol. 3).

Nascido em plena fase mística do pai e com seu nome sugerido pelo próprio Manoel Jacintho, Carmelo é entusiasmado pela musicalidade da trilogia Racional. Ele e a torcida do Flamengo, pois, apesar das letras por vezes  muito esquisitas, os arranjos das canções são exuberantes e Tim Maia, longe do álcool e outras drogas, nunca cantou tão bem. A capa do álbum "Tim Maia Racional Vol.1" (as outras duas capas são iguais, só mudam os números dos volumes) O reggae soul (Imunização Racional), o gospel funk Rational Culture,  Bom Senso e o samba soul Paz Interior são obras-primas e mostram que o artista soube aproveitar bem musicalmente o tempo passado nos EUA entre 1959 e 1963, quando voltou deportado.

Polêmico por natureza, o cantor mudou temporiamente o rumo da carreira ao ser apresentado ao livro Universo em Desencanto, de Manoel Jacintho, em 1974.  Após lançar quatro álbuns de sucesso, ele mergulhou de cabeça na história de que seres vindos de outro planeta estavam exilados na Terra e a única salvação era a "imunização racional".

Com as bases já gravadas para um álbum duplo para a RCA, Tim resolveu mudar as letras e os títulos das canções. Os fãs e o mercado estranharam a fase Racional, os discos fracassaram comercialmente e Tim Maia, depois de decepcionar-se com Manoel Jacintho, relegou essa fase da vida.  

Álbum inédito em espanhol - "São os meus discos preferidos, embora eu seja suspeito para falar. Na verdade, ouço meu pai a depender do momento de vida que eu esteja", diz Carmelo que, apesar do nome, cresceu sendo chamado de Telmo por Tim, toda a família e os colegas da escola.  Carmelo Maia nasceu em plena fase mística do pai Tim Maia, em meados dos anos 1970 (Foto/Arquivo Familiar) Herdeiro também de muitas dívidas e processos do pai, Carmelo promete outra pérola para este semestre: um disco inédito com Tim cantando seus clássicos em espanhol. 

"São gravações feitas nos anos 90, com ele interpretando hits como Cristina, Azul da Cor do Mar e Primavera em espanhol", adianta. "Vou lançar tudo com a qualidade sonora e o respeito que o meu pai merece".

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5 CURIOSIDADES SOBRE O SÍNDICO DA MPB

1. Roberto, Erasmo Carlos e Jorge Ben - Tim foi amigo de Roberto Carlos, Erasmo Carlos e Jorge Ben Jor, trio que ele conheceu na adolescência na Tijuca, Zona Norte do Rio. Com RC, por exemplo, participou do grupo vocal The Sputniks, em 1957.

2. Deportado dos Estados Unidos - O cantor foi para os Estados Unidos na cara e na coragem, em 1959, onde trabalhou, estudou inglês e bebeu da fonte da soul music e do funk. Preso por roubo e porte de maconha, foi deportado para o Brasil em 1963 e logo se tornou o pai do soul nacional.

3. Maior voz do Brasil - A revista Rolling Stone elegeuTim Maia, em outubro de 2012, como a maior voz do Brasil, superando Elis Regina e Ney Matogrosso. A revista também elegeu o cantor como o 9º maior artista de todos os tempos da música popular brasileira.

4. Maconha da Bahia - Biógrafo do cantor, Nelson Motta conta que Tim Maia costumava elogiar a qualidade da erva da Bahia. Parodiando a voz grave e o dengo viril do mestre Dorival Caymmi, ele cantava: "O que vem da Bahia é du bão/ O que vem da Bahia é du bão!".

5. Raul Seixas - Tentando converter o amigo Raul à seita Cultura Racional e com o roqueiro baiano defendendo a cocaína, Tim mandou: "Tu toma cuidado, hein, magrelo. Nego cheira cocaína e fica logo com vontade de dar o cu, cocaína afrouxa o brioco, mermão!"

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OUÇA OS VOLUMES 1 E 2 DE TIM MAIA RACIONAL