Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Gil Santos
Publicado em 10 de maio de 2018 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Por mais de 400 anos, o bairro do Comércio foi o principal centro econômico de Salvador. A região recebia navios, dos quatro cantos do mundo, abarrotados com os mais variados produtos, quase que diariamente. Por isso, era rica e lá os aluguéis custavam caro. Hoje, quem circula pelo local acredita que as ruas não lembram, nem de longe, aqueles tempos áureos. >
[[publicidade]]>
Para revitalizar o bairro, as principais praças e ruas passarão por reforma. Também está no projeto da prefeitura desenvolver ações habitacionais no local. O projeto, efeito pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), ligada à prefeitura de Salvador, contempla as praças Visconde de Cayru, Inglaterra, Riachuelo e Marechal Deodoro (Praça da Mãozinha) e a Rua Miguel Calmon, que será reformada e arborizada.Serão investidos ao menos R$ 13,2 milhões.As primeiras máquinas chegaram no local esta semana. A Praça da Inglaterra já está sofrendo as intervenções. Tapumes isolaram o espaço da obra, à prova de curiosos, e operários trabalham no local durante todo o dia.>
Ao lado da praça, sentado em uma cadeira plástica, o aposentado Alfredo Bonfim, 66 anos, observava os trabalhadores. Ele mora no Garcia, mas frequenta o bairro do Comércio há mais de 20 anos. Alfredo frequenta o bairro há 20 anos (Foto: Marina Silva/ CORREIO) “Essa região está precisando mesmo de melhorias. Essa praça estava cheia de sujeiras, bastante abandonada. Essa reforma é mais do que bem-vinda. Esperamos que o resultado seja mesmo positivo”, contou o ex-administrador de empresas.>
Depois da Praça da Inglaterra, serão iniciadas as obras na Praça Cayru, na Rua Miguel Calmon e, por fim, na Praça Marechal Deodoro. Cada obra tem um prazo distinto, mas a estimativa é de que tudo esteja tudo pronto no primeiro semestre de 2019. Praça vai receber estátua de Gandhi (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Mudanças O ato de contemplação de seu Alfredo, por coincidência, foi o que inspirou parte do projeto. De acordo com a presidente da FMLF, Tânia Scofield, as reformas são para tornar as praças mais habitáveis, com espaços de lazer e descanso. Essa seria a primeira parte do projeto. A segunda é atrair mais comerciantes e moradores para lá.>
“Estamos fazendo um projeto integrado, ou seja, várias ações em diferentes áreas. Mas, para que haja melhorias, é preciso ações diversas, tanto urbanísticas como de habitação, e outras para potencializar o comércio. Queremos criar um ambiente de moradia naquela região”, afirma Tânia.>
A prefeitura está elaborando um projeto de habitação social e popular. O estudo deve ficar pronto até o final do ano. Até lá, serão feitas as reformas estruturais, de mobilidade e acessibilidade. Praça Marechal Deodoro é uma das mais deterioradas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Praças De uma maneira geral, as praças vão receber novos pisos, paisagismo, iluminação, bancos e outros equipamentos. Para a ambulante Rita Barreto, 70, a necessidade é urgente: “As pessoas estão vindo cada vez menos ao Comércio por conta da falta de estrutura. A gente percebe isso na queda das vendas”.>
A Praça da Inglaterra terá um atrativo a mais. Uma estátua do ativista e líder político indiano Mahatma Gandhi será erguida no local. A obra é uma doação do governo indiano e uma homenagem aos Filhos de Gandhy, afoxé que surgiu no Porto de Salvador. A peça está prevista para chegar a Salvador em junho deste ano.>
[[galeria]]>
A reforma nessa praça está sendo feita com recursos de emenda e vai custar mais de R$ 1,6 milhão. Já a Praça Cayru será estendida do Mercado Modelo até o cais ao lado do 2º Distrito Naval. A pista que atualmente passa ao lado do Mercado será desativada, enquanto a outra via será ampliada para dois sentidos.>
O investimento será de R$ 6 milhões para a praça e mais R$ 1 milhão para a recuperação do cais e da rampa. Os recursos são da Caixa e do Ministério do Turismo.>
A praça Marechal Deodoro é uma das maiores da cidade e das mais deterioradas. Com calçamentos soltos e má iluminação, quem frequenta o local garante que é perigoso passar pela região. A prefeitura ainda não estimou o valor da obra nesse local. Praça Riachuelo vai receber piso intertravado (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Comércio Não há setor mais esperançoso com as reformas do que aquele que dá nome ao bairro. Segundo o coordenador do Conselho de Comércio da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL), Haroldo Núñes, os comerciantes acompanham a ação e apoiam a ideia.>
“Eles estão adorando o projeto. Essa revitalização é muito bem-vinda e era esperada há muito tempo. O poder público já deveria ter interferido ali”, disse. Rua Miguel Calmon também será requalificada (Foto: Marina Silva/ CORREIO) O presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Estado da Bahia (Sindilojas), Paulo Motta, também aprova o projeto, mas lembrou que as intervenções precisam ser amplas. Segundo ele, há cerca de 500 lojas lá, empregando 15 mil trabalhadores.>
“O projeto está bonito e todos estamos de acordo. Com a mudança das grandes empresas para outros pontos da cidade, o Comércio foi afetado, então, é preciso pensar o bairro de uma maneira mais ampla. Trazer moradores, recuperar os imóveis abandonados, pensar em isenções fiscais para atrair mais comerciantes, enfim, são muitas questões”, afirmou.>
O projeto de habitação que está sendo elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira envolve 90 imóveis que foram identificados na região. O estudo observa o estado de conservação desses imóveis, a situação fundiária e as dívidas com o município.>
A ideia é de que essas casas sejam destinadas a habitação social e popular. A FMLF informou que está conversando com movimentos de luta por moradia sobre o assunto. Até lá, o vai e vem do Comércio segue frenético.>