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Paulo Leandro
Publicado em 7 de julho de 2022 às 11:23
- Atualizado há 2 anos
Ao conquistar o título da Liga Nordeste, vencendo o Sport na final, o basquete do Vitória reativa a vocação olímpica do clube, nascido na Era Moderna como acesso dos baianos às diversas modalidades criadas com a garra do Leão.>
Não é de uns anos pra cá a inclinação para o sucesso do nosso cestobol, como era chamado o esporte, tendo o rubro-negro destacado-se no ginásio de Cajazeiras em época mais recente.>
Antes, nosso olimpismo foi incentivado pelas canoas do remo, empolgando a cidade uma inédita travessia desde a Barra à Ribeira, como marco zero das regatas.>
Não é pouca coisa se lembrarmos a prudência dos organizadores dos campeonatos de futebol, ao evitar marcar jogos nos mesmos dias de regatas, pois os bondes seguiam lotados sentido Itapagipe, até início da década de 1930.>
Também seria recusar ao Vitória o empenho do pioneirismo, se apagássemos a realização da primeira corrida de rua do país, fertilizando, assim, o atletismo, do qual os rubro-negros foram ases.>
A garagem náutica da Barra serviu de ponto de encontro da juventude durante décadas, cabendo disputas de xadrez até a organização de times de polo aquático.>
Não se tem notícia de um clube capaz de organizar desfile nas principais ruas e avenidas de Salvador, com a participação de atletas de 17 diferentes esportes, com as cores vermelha e preta no alto do pódio.>
Não seria exagero pedir mais papel e tinta ao editor com o objetivo de descrever tantas proezas quantas realizou o Vitória, mas apenas o já descrito até este parágrafo já serve para lembrar do alto relevo do Leão para os baianos.>
Por conta deste perfil, não se pode admitir a irracionalidade de insistirmos no projeto de extinção do Vitória, ao contrário, o basquete nos reanimou a lutar para voltar à Série B do futebol e de lá, o ânimo é reconstruir o Decano.>
Conquistar mais três pontos, fora de casa, diante do São José, daria sequência ao alento obtido com o placar de 2x0 sobre o Figueirense, no Barradão, na rodada mais recente.>
Nem sempre o Vitória teve orçamento generoso, dependendo na maior parte da história dos chamados abnegados (negados de si mesmos), os quais faziam vaquinhas ou apadrinhavam jogadores a fim de pagar-lhes o salário.>
A bilheteria também sustentou o Vitória, com a presença de sua torcida fiel, mesmo nos momentos íngremes de suas ladeiras mais difíceis, e atualmente não é qualquer clube capaz de atrair público mesmo na terceira divisão.>
Não se pode acreditar no abandono como justificativa para o declínio, devendo os gestores do clube dedicarem-se à causa da reabilitação, rumo no qual não só rubro-negros mas todos os desportistas de todas as cores devem perseverar.>
A recuperação do Vitória não é benefício isolado, mas trata-se de fazer a Bahia escapar outra vez da ilusão de fortalecer seu futebol com apenas um clube incentivado a ser grande.>
O extermínio faz mal ao mundo, e dentro dele o desporto, enquanto a pluralidade, ao invés, estimula o convívio e faz dos conflitos o motor da vitalidade, da mudança e do movimento.>
Vamos, todas e todos, torcer para o Vitória sair desta, assim como o Bahia subir, e nossos clubes intermediários avançarem em suas demandas, para voltarmos a ter um futebol forte, junto a todos os esportes.>
Paulo Leandro é jornalista e professor doutor em Cultura e Sociedade.>