Relacionamentos só terminam bem na mentirinha das redes sociais

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  • Flavia Azevedo

Publicado em 1 de julho de 2019 às 11:11

- Atualizado há um ano

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Volta e meia um ex-casal recente (e famoso) se anuncia "best friends", em recadinhos carinhosos e fotos com legendas fofas, da última viagem. Não como nada e, por aqui, a linha é outra. Pra mim, ex é ex e não amigo. Pelo menos, não imediatamente depois da separação. Faço quarentena, deleto mensagens, esqueço o aniversário da sogra, não visito, não procuro conversa, evito os botecos em comum, não abraço apertadinho. Nunca tive uma recaída, inclusive porque acredito que sexo casual é com alguém que eu encontre casualmente e não com um ex tentado a abrir a gaveta do meu banheiro e contar quantas camisinhas usei, desde a nossa última vez.

(Um clássico)

Com meu ex pai do meu filho, tentei fazer diferente e deu merda. “Você pode dormir aqui, com o bebê", eu cheguei a propor e me arrependo amargamente. Não era o momento. Deixasse passar um tempo para acomodação. Fui precipitada, contra a minha natureza, no “tá tudo bem, meu bem” e, sem o luto e distanciamento necessários, não se fecha essa Gestalt. Resultado que brigamos até hoje como cão e gato.

(Há formas civilizadas, mas não íntimas, de manter a convivência entre filhos e pais separados)

Sou nordestina do interior. Caipira. E não adianta o número de cidades grandes nas quais eu já tenha circulado, não importam as terapias libertárias e cordiais civilidades. Toda vez que vejo um ex-casalzinho recente dizendo que se ama, é amigo e tá tudo bem, penso na hora “é mentira, Ratinho!!!!”. E sempre é. Não tem como, amizade. Primeiro que separação consensual, mesmo, profundamente consensual, eu nunca vi nem comi, só ouço falar. Alguém deu a dica primeiro. Alguém rejeitou e alguém foi rejeitado. E nunca me apresentaram ao ser humano que se recupere, tão rapidinho, de um “não te quero mais”. 

Por outro lado, também não conheço aquele que, tendo seus motivos para rejeitar, reprograme seus sentimentos rapidamente, transformando aquela “ginge” que dá da pessoa (eu enjôo até da respiração) em profunda amizade. Simples: separar é SEPARAR. Qualquer coisa além disso é mico inevitável, explosão retroativa, briga que ninguém vai entender, tempos depois, inclusive pelas mesmas redes sociais.

O luto é humano, necessário, inevitável, ainda que tentem nos vender o peixe de que o civilizado é fingir normalidade. Assim como corpos perfeitos, agora nos propõem comportamentos "adequados" que ignoram feridas, decepções, tédios, sentimentos que têm lá suas profundidades. A "normalidade" chega, com sorte, depois de um silêncio obrigatório. Lá, de onde eu venho, pra poder ser amigos, a gente primeiro fecha a cara e troca de lado da calçada.