Restaurantes se preparam para reabrir na segunda fase da flexibilização

Setor pede mais crédito aos governos municipal, estadual e federal para conseguir atravessar a crise

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 2 de agosto de 2020 às 14:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Divulgação

Operando em fogo baixo desde março, os restaurantes começam aquecer as panelas para retomar as atividades este mês.  Isso, se as taxas de ocupação dos leitos de hospitais continuarem abaixo de 70% como vem acontecendo desde o começo da semana. A retomada, que está sendo cuidadosamente conduzida pela Prefeitura de Salvador, em parceria com o Governo do Estado, será feita com parcimônia e temperada com rígidos protocolos de segurança.  De acordo com o secretário municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), Sergio Guanabara, tudo está caminhando para acontecer: “Essa segunda fase da flexibilização é um anseio da Prefeitura e do Governo do Estado e, claro, do segmento. Se atingirmos os índices que, acreditamos, acontecerá nos próximos dias, o prefeito deverá anunciar a reabertura”.  Para uns, a receita não tem como dar errada. Para outros, o momento ainda exige cautela. Consenso mesmo entre os empresários do setor é de que o sonhado retorno exige pitadas extras de recursos, ingrediente que, para a maioria, anda faltando na despensa. Nesta hora, todo cuidado é pouco. Para quem ainda tem dúvida de como proceder, o Serviço Nacional do Comércio (Senac) lançou um programa para orientar o empresariado nesta retomada.( https://bit.ly/33fI1xY ) (Divulgação) Casa de Tereza manteve equipe durante a pandemia  Neste grande caldeirão o que não falta é insumo para temperar a discussão. A chef Tereza Paim, do restaurante Casa de Tereza, defende o retorno das atividades desde os primeiros meses da pandemia. Para ela, está mais do que na hora de voltar a funcionar. 

“Eu não lido com novo normal, isso é passageiro, acho que nosso segmento vai mudar pouco porque já operamos com controles sanitários e de segurança alimentar muito rígidos na nossa rotina. Vamos acrescentar novos protocolos como termômetros, álcool em gel, distanciamento para dar a sensação de segurança ao público”, diz. Paim foi uma das primeiras vozes a se levantar pela reabertura dos restaurantes. No começo de julho, ela postou um vídeo nas suas redes sociais, direcionado às autoridades, pedindo o retorno. Recebeu uma chuva de comentários. Contra e a favor. “Fui muito respeitosa na minha fala”, defende-se. A empresária diz estar pronta para reabrir. “Nossa equipe já passou por quatro treinamentos, todos os protocolos foram adotados, agora é seguir em frente. As pessoas estão ansiosas para voltar a frequentar”, afirma. (Divulgação) Mesmo com dificuldades, Dona Mariquita se prepara para reabrir Se para alguns a questão é apenas adotar os procedimentos exigidos pelas autoridades, para outros é preciso arregaçar as mangas e partir para um novo recomeço. 

É o caso da chef Leila Carrero, do Dona Mariquita, que tem ralado para manter o negócio ativo.  “Demiti a maioria dos funcionários, deixei de pagar contas; vendi o estoque e fui, eu mesma, entregar a comida na casa dos clientes”, conta a empresária que, por estar inadimplente, não teve acesso a crédito nos bancos. “Não desisto fácil, estou pronta para recomeçar, consciente do desafio e dos riscos.”, diz.  (Divulgação) Varanda aberta é um dos trunfos do Amado  Abrir ou não abrir, eis a questão. Dono do restaurante Manacá, no litoral de São Paulo (onde os negócios já foram autorizados a funcionar desde o mês passado), e o Amado, na capital baiana, Edinho Engel preferiu adiar a reabertura da casa paulista para outubro. “Embora o litoral esteja lotado, preferi aproveitar para fazer uma reforma que já planejava”, diz.

Já o Amado, diz: “está preparado para voltar”: “Temos salão e varanda amplos, o que vai nos permitir funcionar com segurança, mesmo com a capacidade de assentos reduzidos”. Pelas suas contas, o Amado teria que operar, segundo as regras, com 100 a 120 lugares, mas que trabalhará com 70 a 80 lugares. “Tá bom para nós”, diz Edinho.Banho Maria Embora o serviço de delivery e retirada no local tenha sido a alternativa para garantir alguma receita neste período, há quem tenha resistido ao máximo operar com esta modalidade. O francês Chez Bernard, por exemplo, só aderiu ao serviço no começo de julho. Foi um aquecimento para reabertura da casa que não só manteve toda a equipe como investiu R$ 80 mil em insumos, treinamentos e equipamentos para encarar o novo normal. “Os cuidados vão desde a testagem da equipe até a lavagem da roupa pessoal dos funcionários que será nossa responsabilidade”, conta o empresário Ademar Lemos Passos.  (Divulgação) Chez Bernard vai operar com apenas 22 assento Segundo ele, todo o material de serviço será higienizado e ensacado, as mesas serão montadas à vista do cliente: “O funcionário chega e vai direto para o chuveiro, onde recebe um saco para descartar a roupa que chegou vestido, que irá para a lavanderia, e receberá o uniforme higienizado. No final do expediente, ele descarta a farda, recebe o kit com a sua vestimenta pessoal deixada no dia anterior e no dia seguinte, a mesma coisa”. Os protocolos de segurança também serão adotados por bares e botecos. Embora integrem o mesmo segmento, as operações destes não são iguais as dos restaurantes, segundo dirigentes destes últimos. “Não podemos colocar todos na mesma panela porque nos bares e botecos, as pessoas vão exclusivamente para beber e aglomerar, ao contrário dos restaurantes onde o comportamento é outro”, alfineta um dono de restaurante.  (Divulgação) Além da ampla varanda, Pereira pleiteia ocupar calçada Gustavo Baiardi, dono do Pereira, discorda. O empresário, que atua nos dois tipos de negócios, diz que os protocolos serão definidos pelas autoridades e que cada um deve seguir à risca, independente de ser restaurante, bar ou boteco. “Desde que os protocolos para cada um sejam bem definidos, não há razão para distingui-los”, diz.  Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) Luiz Henrique Amaral, é hora de unir forças para tirar o setor da crise. Esta união, segundo ele, inclui a colaboração do público para que a retomada seja exitosa. “Não existe ambiente seguro sem comportamento seguro. Cada um terá que fazer a sua parte”, diz. 

Movimento Restaurar  Os mais de 51 mil bares, restaurantes e similares formalizados na Bahia, lançaram esta semana um manifesto para expor as dificuldades que o setor vem enfrentando desde o inicio da pandemia. O segmento, que emprega mais de 260 mil pessoas em todo o estado, chama a atenção para a falta de apoio do governo e para a ausência de programas de acesso ao crédito para ampara-los neste momento delicado. 

No manifesto, dentre outras coisas, os empresários reivindicam aos governos federal, estadual e municipal que ampliem as condições de suspensão de contratos e jornadas de trabalho até o final de dezembro. Eles querem ainda a criação de um Refis da Pandemia para pagamento em até cinco anos. “Precisamos sobreviver. Se não tivermos esse apoio das três esferas de governo, vamos entrar em colapso”, diz Luiz Henrique Amaral, da Abrasel, entidade que representa o setor.