Retrospectiva: Desastres ambientais marcaram 2019 de janeiro a dezembro

De Brumadinho às manchas de óleo, relembre o que aconteceu no Brasil e na Bahia

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  • Amanda Palma

Publicado em 26 de dezembro de 2019 às 08:30

- Atualizado há um ano

Quem esperava por um 2019 mais ameno já começou o ano mudando de opinião. Ainda em janeiro, o rompimento da barragem da Vale na Mina do Feijão, em Brumadinho, Minas Gerais, deixou o Brasil paralisado e retomou as lembranças do desastre em Mariana, com 19 mortes. 

Apesar das imagens chocantes, ainda não se tinha dimensão da tragédia no dia 25 de janeiro, quando aconteceu o rompimento. Até o momento, já foram confirmadas mais de 260 mortes de funcionários e moradores da região. Mas há ainda desaparecidos desde então. Nenhum alarme disparou e poucos conseguiram escapar da onda de lama que invadiu a sede da mina e o refeitório, onde a maioria dos funcionários estava. Sete baianos morreram na tragédia.  (Foto: Divulgação/Corpo de Bombeiros) No rastro de lama, moradores tentavam salvar uns aos outros, animais ficaram atolados e morreram. Uma pousada foi totalmente destruída. Os rejeitos ameaçaram o Rio São Francisco, mas afetaram diretamente o Rio Paraopeba. 

O caso acendeu o alerta para a segurança para esse tipo de barragem, como a que fica em Jacobina, na Chapada Diamantina. Os moradores da região passaram por um treinamento, em caso de emergência.  Sirenes foram instaladas em barragem de Jacobina após alertas (Foto: Divulgação) Os engenheiros que atestaram a segurança da barragem chegaram a ser presos, mas foram soltos dias depois. No mês passado, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara sobre o desastre em Brumadinho aprovou o relatório com pedido de indiciamento da Vale e da empresa alemã Tüv Süd por crime socioambiental e corrupção empresarial. O texto do deputado Rogério Correia (PT-MG) pediu também o indiciamento por homicídio doloso e lesão corporal dolosa de 22 diretores da Vale, engenheiros e terceirizados, entre eles o ex-presidente da mineradora Fabio Schvartsman.

Pedro Alexandre e Coronel João Sá Seis meses depois, uma outra barragem causou estragos no interior da Bahia, mas sem deixar vítimas fatais. No dia 11 de julho, a barragem do distrito de Quati, em Pedro Alexandre, município baiano na divisa com Sergipe, se rompeu. A água invadiu o povoado do Quati. Pelo menos 500 pessoas ficaram desabrigadas em Coronel João Sá, e a prefeitura da cidade estimou o prejuízo em R$ 10 milhões. Cidade de Coronel João Sá ficou completamente inundada após a barragem romper (Foto: Junior Nascimento/Divulgação) Segundo a prefeitura de Pedro Alexandre, o rompimento foi causado por um forte temporal, que comprometeu a estrutura da barragem do Rio do Peixe, que abastecia a cidade. A enxurrada atingiu também o município vizinho de Coronel João Sá, que teve diversas ruas alagadas. Um trecho da rodovia BR-235 também foi tomado pela água e pela lama, e ficou intransitável.

Após a enxurrada, o cenário foi de destruição. Várias casas foram interditadas e depois demolidas devido às condições que ficaram após o rompimento da barragem. A ponte que ligava a cidade também ficou interditada, pelo risco de cair. A água também atingiu o cemitério municipal, que ficou completamente destruído. No local, muitas covas ficaram reviradas, por conta da força da água, e algumas cruzes foram arrancadas.

Queimadas e Desmatamento na Amazônia No final de julho, os dados de desmatamento da Amazônia divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) criaram uma crise no governo Bolsonaro. O presidente afirmou o crescimento do desmatamento era menor do que os 88% identificados pelo instituto. O então diretor do instituto, Ricardo Galvão, entrou em um embate público com Bolsonaro e acabou sendo demitido do cargo, em agosto.  (Foto: AFP) Entre janeiro e agosto, o Brasil registrou 75,3 mil focos de incêndio, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) - 14 mil em Mato Grosso. O total no país foi 84% maior do que no mesmo período de 2018. 

Depois da divulgação desses dados, as queimadas na Amazônia tiveram repercussão mundial. O New York Times publicou um artigo chamando Bolsonaro de “menor dos líderes”. A Finlândia sugeriu que a União Europeia suspendesse a importação de carne bovina no Brasil e 18 marcas suspenderam a compra de couro do Brasil.

A situação internacional ficou complicada e o presidente brasileiro teve uma discussão pública com o presidente francês Emmanuel Macron, incluindo ofensas à primeira dama francesa, Brigitte Macron. A Alemanha suspendeu também os investimentos destinados à preservação da Amazônia. 

Óleo nas praias do Nordeste O desastre do óleo foi o maior no litoral brasileiro. Em setembro, as primeiras manchas começaram a surgir e ninguém tinha ideia do que era substância escura que chegava às praias nordestinas. Na Bahia, as manchas chegaram em outubro, em Mangue Seco, no norte do estado. Estudos da Universidade Federal da Bahia (Ufba) identificaram que a substância escura era petróleo cru, produzido na Venezuela. (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) Ao longo das semanas, as manchas foram se espalhando por todo o litoral baiano e chegou ao Parque de Abrolhos, em novembro. Uma operação da Polícia Federal foi deflagrada para identificar a origem do óleo na costa brasileira. Um navio grego, o Bouboulina, foi apontado como o responsável pelo derramamento do resíduo. 

Centenas de pessoas se mobilizaram em diversas localidades do litoral para limpar os vestígios que apareceram nas praias. Com isso, alguns grupos surgiram, como o Guardiões do Litoral. Em Pernambuco, presos do regime semiaberto puderam participar das ações e reduzir a pena.  (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) Centenas de locais foram atingidos pelos resíduos do óleo. Em novembro, as manchas chegaram até o Espírito Santo e depois até o Rio de Janeiro. 

Por causa das manchas no mar, pescadores e marisqueiras foram prejudicados. A pesca chegou a ser suspensa pelo Ministério do Meio Ambiente, mas depois foi liberada. Pesquisadores encontraram manchas de óleo dentro de peixes e mariscos no Litoral Norte. O governo antecipou a liberação do seguro-defeso para as áreas afetadas. 

Alguns banhistas que frequentaram as praias atingidas pelo óleo tiveram apresentaram sintomas de intoxicação. Um dos casos mais graves foi de um turista de Brasília, que tomou banho de mar em Ilhéus e ficou com manchas vermelhas pelo corpo, além de febre e outros sintomas. Também foram registrados casos em Itaparica e em Guarajuba.