Revista 'The Economist' fala que Bolsonaro acelera a destruição da Amazônia

Reportagem de capa classifica como 'vandalismo' políticas tomadas pelo presidente brasileiro

  • D
  • Da Redação

Publicado em 1 de agosto de 2019 às 18:19

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Reprodução

A capa desta semana da renomada revista inglesa "The Economist" traz em destaque o Brasil, mais especificamente a política ambiental do presidente Jair Bolsonaro. Sob o título "Deathwatch for the Amazon", algo como algoz da Amazônia, em tradução livre, a publicação chama a atenção para o perigos que atitudes e falas recentes do chefe do executivo podem causar para o meio ambiente. 

De acordo com a publicação, o brasileiro usa de retórica vazia, despreza o conhecimento sobre a área e adota políticas que podem precipitar um "colapso ecológico" que atingiria os países vizinhos e contribuiria para alterar ainda mais o clima na Terra. "O mundo deveria deixar claro ao senhor Bolsonaro que não tolerará seu vandalismo", diz a revista.

A revista chama atenção para o fato de que Bolsonaro, em sua opinião, está acelerando um processo em que a Amazônia pode chegar a um ponto de inflexão a partir do qual a transformação da floresta em algo mais parecido com uma estepe, espécie de planície árida, não poderá ser revertida.

"Bolsonaro deixou claro que os infratores de regras não têm nada a temer, apesar do fato de ele ter sido eleito para restaurar a lei e a ordem". Como de 70% a 80% da extração madeireira na Amazônia é ilegal, a destruição aumentou para níveis recordes, relata a publicação. "Desde que assumiu o cargo em janeiro, as árvores estão desaparecendo a uma taxa de mais de duas Manhattans por semana".

O texto diz que nos últimos 50 anos o Brasil cortou 17% da extensão original da floresta, mais do que a área da França, para a construção de estradas e barragens, extração de madeira, mineração, agricultura de soja e pecuária. Depois de um esforço dos governos anteriores para retardar a destruição, ela retornou em 2013 por causa do enfraquecimento da fiscalização e da anistia ao desmatamento, diz a revista.  Foto: Mácio Ferreira / Ag. Pará A recessão e a crise política reduziram ainda mais a capacidade do governo de aplicar as regras. Agora, uma situação já crítica se aprofunda.

"A mudança climática está aproximando o limiar a cada ano à medida que a floresta se aquece. O senhor Bolsonaro está empurrando-o para a borda [desse limiar]. Os pessimistas temem que o ciclo de degradação descontrolada possa acontecer quando outros 3-8% da floresta desaparecerem - o que, sob o governo de Bolsonaro, pode acontecer em breve", diz a economist.

Para a revista, são falhos os argumentos de Bolsonaro para degradar a floresta, como o de que países desenvolvidos acabaram com suas próprias coberturas vegetais. "O Brasil não deve copiar seus erros, mas aprender com eles como, por exemplo, a França, reflorestando enquanto ainda pode". 

E lembra que a agricultura brasileira, responsávvel em grande parte pelo saldo comercial positivo do Brasil, pode ser a maior vítima do desmatamento. A seca de 2015 fez com que os agricultores de milho no estado de Mato Grosso perdessem um terço de sua colheita.

A Economist diz que companhias de alimentos, pressionadas pelos consumidores, deveriam rejeitar a soja e a carne produzidas em terras amazônicas ilegalmente exploradas, como aconteceu em meados dos anos 2000. Os parceiros comerciais do Brasil, diz, devem fazer acordos contingentes ao seu bom comportamento. 

O acordo União Europeia-Mercosul, alcançado em junho, já inclui dispositivos para proteger a floresta tropical. "É esmagadoramente do interesse das partes aplicá-las. O mesmo vale para a China, que está preocupada com o aquecimento global e precisa da agricultura brasileira para alimentar seu gado".

A revista lembra que o próprio Ministério da Agricultura brasileiro pediu que Bolsonaro permanecesse no Acordo de Paris porque o desmatamento descontrolado pode acabar prejudicando os agricultores brasileiros se isso levar a boicotes no exterior. 

Os cidadãos brasileiros, por fim, deveriam pressionar o presidente para reverter o curso. "Eles foram abençoados com um patrimônio planetário único, cujo valor é intrínseco e sustentador da vida, tanto quanto é comercial. Deixá-lo perecer seria uma catástrofe desnecessária".