Rituais e reflexões para o ano novo

As notícias que marcaram a semana

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  • Andreia Santana

Publicado em 2 de janeiro de 2021 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Há quem goste de incensar a casa para expurgar as energias ruins do ano que termina e preparar o ambiente para receber as vibrações daquele que começa. Outros, preferem lavar o corpo nas águas do mar ou purificar o espírito conforme sua crença religiosa. Em Salvador, desde a última quarta-feira, 30, na antevéspera da virada,  as praias da cidade receberam aquele tipo de banhista que, muitas vezes, só vai à orla uma vez por ano, no  final de cada  ano, inclusive, para se energizar antes do Réveillon.

No mar, na  igreja, no templo ou no terreiro, o que vale é a intenção, afirmam os crentes dos muitos credos que sustentam esse mundo. Mesmo entre aqueles que não professam nenhuma religião, existe sempre uma simpatia, uma receita ou um autoafago que a pessoa faz para não deixar o Ano-Novo chegar à toa. Nem que seja assistir da janela de casa, a depender do bairro onde se more, uma nesguinha de fogos de artíficio que pipocam pela cidade.

A passagem de 2020 para 2021, no entanto, teve mais significados que em viradas anteriores. Com exceção, possivelmente, daquelas vividas nos tempos das duas grandes guerras, da pandemia de gripe espanhola, em 1918, ou em outros momentos de calamidade que a humanidade já enfrentou.  Rituais fazem parte da renovação das pessoas na esperança de que o futuro será sempre melhor (Foto: Nara Gentil/Arquivo CORREIO) A chegada deste ano, envolta na expectativa pelo fim da pandemia e pela aprovação de uma vacina no Brasil, abateu os ânimos de muita gente, mas também fez outras pessoas capricharem ainda mais nos seus rituais de saudação ao novo tempo e às suas promessas.

O que não é possível é que, no afã da renovação, as pessoas passem a negar a realidade. O ano de 2020 foi traumático para muita gente, principalmente para quem perdeu familiares para a covid-19 e não há como fechar os olhos a isso, por mais que a ideia em um Réveillon seja exorcizar o passado.

A questão que merece reflexão é que o drama ainda não acabou e é preciso manter a cabeça no lugar e  o senso crítico apurado. Aglomerar como as pessoas têm feito é irresponsável. Janeiro é mês de férias, tradicionalmente, mas o vírus ainda não deu trégua, então é preciso também que todas as pessoas estejam vigilantes e atentas à própria segurança e a dos demais.

O fato de muitas famílias não terem sofrido perdas em 2020 não apaga o sofrimento daquelas que tiveram de se despedir precocemente das suas pessoas  queridas. 

Entre os rituais do Ano-Novo vale reforçar aquele que aperta os laços da empatia, da capacidade de se comover com a dor dos outros. Entre os incensos e bençãos  - a chegada da vacina entre elas - vale também acrescentar à lista mais bom senso e discernimento.

Os destaques da semana

Aborto legalizado

O Senado da Argentina aprovou, na quarta-feira, 30, a legalização do aborto no país. A votação foi bastante acirrada e durou ao menos quatro horas, depois de uma maratona de debates. Por 38 votos a favor, 29 contra e uma abstenção, o Senado argentino apoiou a proposta do governo para permitir a interrupção da gravidez até a 14ª semana de gestação. A câmara baixa do Parlamento argentino já havia aprovado a medida em novembro passado. O presidente da Argentina, Alberto Fernández comentou a votação e disse que a lei ampliava os direitos das mulheres. "O aborto seguro, legal e livre é lei. Hoje somos uma sociedade melhor,  que garante a saúde pública".

Nova variante do vírus

O Ministério da Saúde confirmou, na quinta-feira, 31, a chegada da nova variante do coronavírus ao Brasil. Identificada inicialmente na Grã-Bretanha, a mutação do vírus foi confirmada pelo  Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde do estado de São Paulo, que foi notificado pelo laboratório de medicina diagnóstica Dasa da suspeita de dois casos da nova variante do Sars-Cov-2. Essa ‘atualização’ do vírus também foi detectada nos Estados Unidos e na Espanha. A confirmação da cepa em São Paulo foi feita por sequenciamento genético, em parceria com a Faculdade de Medicina da USP.

Regras trabalhistas descumpridas

De um total de 93.707 denúncias apresentadas ao Ministério Público do Trabalho (MPT), ao longo de 2020, 36.010 (38%) foram de violações de direitos relacionadas à covid-19. De acordo com o balanço divulgado pelo órgão na quarta-feira, 30, foram recebidas diariamente, uma média de 100 denúncias envolvendo ocorrências ligadas à pandemia. Ao todo, foram abertos mais de 22 mil inquéritos para apurar irregularidades trabalhistas, sendo 9.810 (44%) relativas à covid-19. O volume de recomendações expedidas pela instituição também foi significativo, chegando a bater um número nove vezes maior que o registrado em 2019.

Expulsos do Shopping

Dois adolescentes negros foram expulsos por seguranças do Salvador Shopping, na segunda-feira, 28. Os jovens estavam no terceiro piso do estabelecimento quando foram abordados, segundo testemunhas, de forma truculenta, pelos seguranças. Vídeos que circularam nas redes sociais mostram o momento em que um dos garotos gritou pedindo 'socorro'. Na terça-feira, 29, o tio de um dos garotos registrou queixa na Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra a Criança e o Adolescente (Dercca). A polícia investiga o caso e está colhendo os depoimentos dos envolvidos. Em nota enviada à imprensa no dia da ocorrência, a assessoria do shopping declarou que os seguranças não agiram de acordo com as orientações que são passadas nos treinamentos que recebem. Ao longo da semana, internautas e representantes de entidades do movimento negro criticaram a ação, que na opinião deles demonstra  uma das faces do racismo estrutural na sociedade, uma vez que, geralmente, adolescentes brancos não são ‘abordados’.

Frase:“É importante reforçar que pessoas trans têm mais a contribuir do que apenas nas pautas para a população LGBTQIA+, afinal, discutir direitos da população LGBTQIA+ envolve discutir transporte público, saúde pública, educação e diversas outras questões”, Érica MalunguinhoA deputada pernambucana, mas eleita por São Paulo, em 2018, deu uma entrevista ao Uol, na sexta-feira, 01, e falou da importância das novas legislaturas municipais que começaram agora em 2021 terem maior representatividade de pessoas trans. Há dois anos, Érica foi a primeira transgênero eleita para uma assembleia legislativa no país.