Rocketman e a menina vinda de Marte

Linha Fina Lorem ipsum dolor sit amet consectetur adipisicing elit. Dolorum ipsa voluptatum enim voluptatem dignissimos.

  • Foto do(a) author(a) Kátia Borges
  • Kátia Borges

Publicado em 8 de junho de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O acaso brinca comigo de um modo que não entendo. Então algumas vezes faz sentido todo aquele engano. Eu nunca te disse que fui uma menina vinda de Marte, por exemplo. Houvesse dito e talvez você entendesse finalmente o encanto da coisa. Ah, sim, mais uma história meio doida. A criança que adaptou as antenas de borboleta da fantasia da irmã mais velha e pôs na testa.

E foi assim para a escola, provocando o riso dos colegas do jardim de infância. Queria apenas provar ter vindo de um outro planeta. Ah, nem te contei sobre o fato de a minha memória se organizar por músicas. Minha vida é uma espécie de playlist mnemônica. Da infância, trago a primeira canção que ouvi no rádio do meu avô. Um gigantesco rádio de madeira. Recuerdos de Ypacaraí.

E toda minha história com a música começa ali, às margens do lago azul, e em tupi guarani. Devia ter uns seis anos e, na época, sabia no máximo os pontos de Umbanda que aprendi com a minha avó, alguns cânticos católicos e os hinos que éramos obrigados a cantar, enfileirados no pátio da escola, no hasteamento da bandeira. Também lembro com nitidez o impacto de escutar Negro Amor pela primeira vez.

Numa tacada só, Dylan, Caetano e Gal entravam para sempre na minha vida. Meu pai dizia que Beatles era a maior banda do mundo. E também havia Elvis, The Pelvis. Ficou na malinha de mão do coração, a primeira música em inglês que escutei no rádio do chevette de meu pai. Rocketman. A possibilidade de flutuar no espaço fez a menina vinda de Marte sentir uma alegria danada no coração.

Minha irmã caçula diz que ler Vinicius de Moraes faz um estrago na vida da gente. Sessão da tarde ou show de horrores? Existe vida em Marte? Fico com Bowie. Gosto da ideia de oceanos no espaço, ondas de azul varrendo os subterrâneos do planeta vermelho, insuspeitos, como tudo aquilo que segue, no mais absoluto silêncio, o seu curso.

Anos depois veria bem de longe Elton John e Paul McCartney cantarem grandes sucessos em minha cidade, algo inimaginável para aquela menina tola com suas antenas de arame. Naquela época, a ilusão de sincronicidade já havia feito um estrago bem grande no coração, queimando fusíveis. E vai levar muito, muito tempo, até que passe.