Roger Machado é contundente sobre racismo: 'Precisamos sair da fase da negação'

Técnico do Bahia fala com firmeza de um problema pouco abordado no futebol brasileiro; assista

Publicado em 13 de outubro de 2019 às 11:33

- Atualizado há um ano

. Crédito: .

O Bahia perdeu do Fluminense por 2x0 na noite de sábado (12), mas o resultado foi o que menos chamou atenção na entrevista coletiva do técnico Roger Machado após o jogo no Maracanã. No duelo que confrontou os únicos treinadores negros da Série A - ele e Marcão -, Roger falou com clareza e contundência ao ser abordado sobre o fato e elevou o racismo ao tema central de uma análise sociológica, em um gesto raro de se ver no futebol brasileiro. Roger e Marcão usaram durante a partida camisas da campanha do Observatório da Discriminação Racial no Futebol com a frase “Chega de Preconceito” estampada nas costas. 

Assista:

Ao falar da campanha, Roger se estendeu sobre o tema e disse que a grande repercussão do encontro entre os dois únicos treinadores negros do campeonato é, em si, uma prova do preconceito que ainda existe.

"Essa é a prova que existe o preconceito, porque é algo que chama atenção. À medida que a gente tenha mais de 50% da população negra e a proporcionalidade não é igual, a gente tem que refletir e se questionar. Se não é há preconceito no Brasil, por que os negros têm o nível de escolaridade menor que o dos brancos? Por que a população carcerária, 70% dela é negra? Por que quem morre são os jovens negros no Brasil? Por que os menores salários, entre negros e brancos, são para os negros? Entre as mulheres negras e brancas, são para as negras? Por que, entre as mulheres, quem mais morre são as mulheres negras? Há diversos tipos de preconceito. Nas conquistas pelas mulheres, por exemplo, hoje nós vemos mulheres no esporte, como você (a repórter que fez a pergunta), mas quantas mulheres negras tem comentando esporte? Nós temos que nos perguntar. Se não há preconceito, qual a resposta? Para mim, nós vivemos um preconceito estrutural, institucionalizado", opinou. Roger e Marcão, técnico do Flu (Foto: EC Bahia/Divulgação) Para o treinador tricolor, é preciso que a sociedade saia da fase de negação em relação ao racismo. "A gente precisa falar sobre isso. Precisamos sair da fase da negação. Nós negamos. 'Ah, não fala sobre isso'. Porque não existe racismo no Brasil em cima do mito da democracia racial. Negar e silenciar é confirmar o racismo. Minha posição como negro na elite do futebol é para confirmar isso. O maior preconceito que eu senti não foi de injúria. Eu sinto que há racismo quando eu vou no restaurante e só tem eu de negro. Na faculdade que eu fiz, só tinha eu de negro. Isso é a prova para mim. Mas, mesmo assim, rapidamente, quando a gente fala isso, ainda tentam dizer: 'Não há racismo, está vendo? Vocês está aqui'. Não, eu sou a prova de que há racismo porque eu estou aqui", finalizou.